CUT participa de seminário do MPT sobre depressão e suicídio entre trabalhadores
Seminário reunirá entidades para traçar estratégias para o combate ao adoecimento mental causado por más condições de trabalho. Atividade será híbrida proporá ações para proteger trabalhadores e trabalhadoras
Publicado: 23 Maio, 2022 - 12h37
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
Nestas terça e quarta-feira (24 e 25 de maio), representantes da CUT e das demais centrais sindicais participarão de um seminário sobre um dos problemas que mais afetam a classe trabalhadora nos dias atuais – o adoecimento mental causado pelo pelas condições de trabalho. O Seminário Sofrimento Mental e Morte entre Trabalhadores– Transtornos Mentais e Suicídios Relacionados ao Trabalho, organizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Unicamp será em formato híbrido com transmissão pelo Youtube do MPT de Campinas, nos dois dias, das 8h30 às 17h. (Veja programação ao final da matéria).
A pandemia, a crise econômica, a falta de perspectivas e a insegurança sobre o futuro, as cobranças excessivas de produtividade aliadas ao assédio moral no trabalho são fatores que têm contribuído diretamente para o aumento do número de casos nos últimos anos e esse quadro merece urgente atenção e debates sobre estratégias, segundo os organizadores do seminário que alertam: muitos casos evoluem para o extremo do suicídio.
De acordo com dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, em 2020 foram mais de 576 mil afastamentos, número 26% maior que 2019. Entre os casos, a ansiedade, a depressão e a síndrome do pânico que acometeram trabalhadores e os obrigaram a se afastar do trabalho. Os afastamentos por depressão, por exemplo, passaram de 213 mil em 2019 para 285 em 2020.
Todos que tratam de direitos dos trabalhadores, inclusive o movimento sindical, têm de discutir o assunto e cobrar tanto das empresas como do poder público ações e políticas que protejam os trabalhadores, diz a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida Silva. “A proteção e promoção da saúde mental da classe trabalhadora sempre estiveram presentes em nossas ações e depois da pandemia se tornou um desafio ainda maior”, afirma.
Outros dados sobre o adoecimento mental mostram ainda que cresceu não somente o número de afastamentos, que são temporários – no caso da depressão a média é de 196 dias. A concessão de aposentadorias por invalidez, em função de problemas mentais subiu de 241,9 mil para 291,3 mil de 2019 para 2020. O aumento é de 20,4%.
E o alerta é de que esses números são apenas “a ponta do Iceberg”, diz Madalena. “Não refletem a imensa realidade por causa da falta de notificação. Há muitos casos que não chegam ao afastamento ou à aposentadoria pelo simples fato de que trabalhadores preferem sofrer sozinhos a procurar ajuda. É uma situação que tende a piorar se não houver um olhar especial”, ela diz.
A dirigente se refere ao acesso aos direitos e a políticas efetivas na atenção à saúde humanizada e com condições de atender as demandas da promoção de saúde da classe trabalhadora, com relação ao trabalho.
“Neste seminário pretendemos levantar todas essas questões, desenhar esse panorama e discutir com as entidades que vão participar as formas de se combater esse problema”, diz a secretária de Saúde da CUT. O papel do Ministério Público do Trabalho é fundamental na promoção e fiscalização de condições de trabalho, acrescenta a dirigente.
Para subsidiar o debate, serão abordas ações e experiências adotadas em todo o mundo que possam ser replicadas no Brasil além de envolver diferentes setores da sociedade no tema e propor medidas de promoção da saúde mental bem como a prevenção do adoecimento.
Suicídios
No mundo todo, uma pessoa comete suicídio a cada três segundos. Segundo a Associação Psiquiátrica da América Latina, no Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa tira a própria vida. O suicídio é também a principal causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos de idade.
O Brasil ocupa o 8º lugar em números absolutos e a 113ª posição na média mundial, embora se acredite que haja subnotificação dos casos. De 2007 a 2016, segundo dados do Ministério da Saúde, 106.374 pessoas morreram dessa forma.
E a pandemia agravou o cenário. O relatório COVID-19 Health care wOrkErs Study (HEROES), feito pela Organização Panamericana de Saúde mostra que, na América Latina, entre 14,7% e 22% dos trabalhadores de saúde entrevistados em 2020 apresentaram sintomas que levaram à suspeita de um episódio depressivo, enquanto entre 5% e 15% dos trabalhadores disseram que pensaram em cometer suicídio.
O estudo também mostra que, em alguns países, apenas cerca de um terço dos que disseram precisar de atendimento psicológico realmente o receberam. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que transtornos mentais como ansiedade e depressão afetam 264 milhões de pessoas no mundo e têm um impacto econômico significativo, com um custo estimado à economia global de US$1 trilhão por ano em perda de produtividade.
No entanto, estima-se ainda, que para cada US$ 1 investido em tratamento para os transtornos mais comuns, há um retorno de US$ 4 em melhora de saúde e de produtividade.
Leia Mais: Depressão e suicídio a serviço do capitalismo
O seminário
Importantes personalidades do Direito do Trabalho e de entidades tanto do meio sindical como Universidades participarão do Seminário. Entre eles, o juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15), Guilherme Guimarães Feliciano. As mesas temáticas abordarão o sistema econômico capitalista como indutor do sofrimento dos trabalhadores, o assédio moral e o suicídio, relacionados ao trabalho.
Veja a programação: