Escrito por: CUT-RS

CUT-RS alerta governos Sartori e Temer sobre falência de agricultores familiares

A grave situação dos agricultores é resultado dos impactos da profunda crise da cadeia do leite no estado

CUT-RS

Em reunião do Grupo de Trabalho que debate a situação da cadeia leiteira no Rio Grande do Sul, realizada nesta quarta-feira (21), na Sala Alberto Pasqualini da Assembleia Legislativa, a secretária de Políticas Sociais da CUT-RS e diretora da Fetraf-RS, Cleonice Back, alertou sobre a grave situação dos agricultores familiares, que se encontram impactados pelo o que definiu como “uma profunda crise” no segmento. 

O encontro, que contou com a participação de parlamentares de diversas siglas, entidades, agricultores, representações regionais, universidade e órgãos estaduais e federais, abordou temas como as medidas do governo Temer sobre a importação do leite em pó do Uruguai; a abertura do Mercosul e Comunidade Europeia para o setor lácteo; o Decreto Estadual nº 53.818, que modifica o regulamento do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e internacional e de comunicação – RICMS, que vence em 28 de fevereiro de 2018; e o Fundoleite/IGL.

Cleonice falou sobre a angústia dos pequenos e médios produtores e destacou as consequências para os pequenos municípios. Ela também criticou os governos estadual e federal, que, acredita, “ainda não estão conseguindo ter a dimensão da crise do leite”.

“Me criei na cadeira produtiva do leite e já passamos por muitas crises, mas nenhuma tão profunda como esta”, alertou.  Para a dirigente sindical, uma das soluções é a construção da unidade. “Ou nós vamos construir uma unidade das entidades e tentar fazer com que o governo intervenha de fato no mercado, ou teremos a falência de milhares de famílias no Estado do Rio Grande do Sul”.

Ela relatou que hoje os agricultores estão tendo que recorrer a outras fontes de recursos e benefícios extras para colocar na atividade da cadeia produtiva do leite porque não é fácil simplesmente deixar de produzir leite, o prejuízo levaria à falência; e, mesmo assim, os agricultores não querem deixar de produzir leite.

A representante da agricultura familiar questionou se a política do governo quer que o trabalhador brasileiro deixe de produzir para que somente se importe leite. “Não tem como dizer que a partir de amanhã vamos parar de produzir leite. Temos uma e estrutura para manter, temos dívidas, e queremos continuar produzindo leite, mas o governo precisa dizer o que quer. Se vai simplesmente importar, precisa dizer o que vai fazer com as milhares de famílias do RS, que tem na cadeia produtiva do leite sua renda mensal”.

Movimento regional

Os agricultores familiares do município de Tiradentes do Sul, segundo Cleonice, criaram um movimento regional, que iniciou no Vale do Taquari e que, na sua opinião, deve ser estendido para todo o Estado, como forma de impedir os impacto econômico, financeiro e social que essa crise vai deixar nos municípios.

“Lá em Tiradentes já deixamos de arrecadar 4,6 milhões de reais nos últimos seis meses por conta da queda no preço”, disse.  Neste sentido, ela destacou a necessidade de que o governo interfira no mercado, com a criação de cotas nas importações e aumento das compras institucionais, por exemplo.

“Essa é a real situação: nós precisamos ultrapassar os grandes desafios de diminuir as importações e aumentar exportações porque a disputa é desleal”, acrescentou.

Pedido de socorro

Segundo Cleonice, os produtores estão pedindo socorro e a tendência é da crise piorar. Ela lembrou que, além dos preços baixos, nos últimos meses houve aumento da energia, dos combustíveis, agravando o quadro para os produtores. “Como vamos conseguir manter a produção de leite e diminuir os gastos?”, questionou, lembrando que muitos fatores não dependem dos produtores, que querem investir em tecnologia, na expansão das pastagens.

Outro problema apontado no encontro foi quanto aos financiamentos, custeio e investimentos,  já que frente à situação, muitos produtores não terão como pagar.

Impacto na economia dos municípios

Durante o encontro foi ainda referido o impacto na vida dos pequenos municípios, cuja base da economia é a agricultura familiar. A crise neste setor, tem consequências no comércio, no consumo, gerando mais desemprego. “É preciso que os prefeitos se engajem nesta luta, conversem com o governo estadual, com os ministros, para rever os preços pagos ao produtor, que recebe cerca de R$ 0,58 por litro e estão pagando para trabalhar”.

Universo de dificuldades

Presente ao encontro, o deputado Altemir Tortelli (PT) relatou o que chamou de “universo de extrema dificuldade” que encontrou no último final de semana em visita a propriedades da região Celeiro. Conforme o parlamentar, somente Tiradentes do Sul, de acordo com o Conselho de Desenvolvimento Agrícola, acumula prejuízo mensal próximo a R$ 1 milhão em função do preço pago ao produtor e pretende decretar estado de calamidade pública.

“A cadeia do leite no Rio Grande do Sul vive uma crise estrutural, que pode levar a um processo de exclusão de famílias desta que é a principal atividade da agricultura familiar no estado. O leite assegura a renda da maioria dos pequenos e médios municípios gaúchos e a prolongada crise de preços dos lácteos impede que os agricultores quitem contas e dívidas de financiamentos”, alertou.

Para Tortelli, as ações dos governos estadual e federal estão muito aquém do que é necessário para debelar a crise. “Não podemos assistir ao desmonte de uma construção social e econômica de décadas sem protestar, temos que transformar o desespero e a desesperança em indignação e luta”, afirmou.

Já o deputado Zé Nunes, que coordena o Grupo de Trabalho, destacou a necessidade de buscar consensos mínimos para evitar ainda mais prejuízos para agricultores familiares, as cooperativas, e as pequenas indústrias lácteas. De acordo com o parlamentar, estas ações são emergenciais e fundamentais, mas nada substitui a velha luta. “Não podemos ficar assistindo o desmantelamento de uma das principais cadeias gaúchas, precisamos ir à luta. É política de sobrevivência de um dos setores produtivo mais importante do RS”, avaliou.

Reunião no Palácio Piratini cobra soluções

Após a reunião, uma comitiva  foi até o Palácio Piratini para protocolar um pedido de audiência com o governador Jose Ivo Sartori (MDB), quando foram recebidos pelo secretário-chefe da Casa Civil, Fábio Branco, que se comprometeu a construir uma agenda em conjunto com os titulares da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Secretaria da Agricultura, Secretaria da Fazenda e Casa Civil para dialogar com as entidades a pauta de reivindicações do setor. Também foi entregue um documento com a síntese das demandas apresentadas.

Uma primeira reunião de uma mesa de negociação com representantes das secretarias da Agricultura e Fazenda e do grupo de trabalho já foi agendada para a próxima segunda-feira (26).

Também na próxima semana serão promovidos encontros nos ministérios de Comércio Exterior e da Agricultura, bem como com a bancada gaúcha para tratar de crédito emergencial e financiamento, e buscar uma ação junto ao Ministério Público.

Agricultura familiar representa 95% da cadeia do leite

Conforme o Relatório Socioeconômico da Emater- 2017, a produção gaúcha do leite ultrapassa os 4,5 bilhões de litros/ano. A agricultura familiar representa 95% da cadeia, que está presente em 100 mil propriedades. Estima-se que 25 mil famílias já tenham abandonado a atividade, que responde por 9% do PIB do Estado.

Assista ao vídeo com Cleonice no Piratini!