Escrito por: CUT-RS com Assembleia Legislativa
CUT-RS e parlamentares da oposição querem de Sartori punição após ações truculentas
Uma representação da CUT-RS, CTB-RS, movimentos sociais e deputados do PT, PCdoB e PSol conseguiu ser recebida na manhã desta segunda-feira (16) pelo governador José Ivo Sartori (PMDB) no Palácio Piratini para cobrar providências diante da descabida violência policial contra manifestantes em dois protestos ocorridos na última quinta e sexta-feira, dias 12 e 13, em Porto Alegre, em defesa da democracia e contra o golpe em curso.
“Avisamos que só sairíamos do Piratini após reunião com o governador”, destacou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo. Também estiveram presentes representantes da UNE, Levante Popular da Juventude, Via Campesina e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Os representantes dos movimentos e os deputados de oposição exigiram a demissão imediata do secretário estadual de Segurança, Wantuir Jacini, e do comando da Brigada Militar e cobraram responsabilizações pela conduta truculenta e agressiva da polícia contra os manifestantes que protestavam pacificamente contra o governo ilegítimo Temer.
Os deputados tentavam se reunir com Sartori para fazer a denúncia dos excessos cometidos pela BM desde sexta-feira, após os incidentes ocorridos no primeiro protesto, no dia anterior, quando policiais atiraram bombas de efeito moral e utilizaram spray de pimenta contra manifestantes que, até então, protestavam pacificamente pelas ruas da Cidade Baixa. Segundo os parlamentares, o governador, no entanto, respondeu dizendo que poderia receber uma comitiva apenas na quarta-feira (18), o que os motivou realizar a “visita surpresa” ao Palácio Piratini nesta manhã.
Espadas em riste para atacar cidadãos
Para o deputado estadual Adão Villaverde (PT), a postura violenta das forças de segurança pública nos lembra o tempo da ditadura, quando o livre direito à manifestação era reprimido com violência. O parlamentar destacou que é lamentável que enquanto toda a população gaúcha vive um clima de insegurança jamais visto no estado, os policiais estejam sendo utilizados para agredir integrantes de movimentos sociais pacíficos.
“Desde a ditadura não era utilizada carga de cavalaria de espadas em riste para atacar cidadãos”, lembrou Villaverde, recordando episódio similar em 1980, quando setores sociais se manifestaram contra a visita do ditador argentino Jorge Viedela, impediram que a Praça Argentina fosse batizada de Praça Videla e foram brutalmente reprimidos pelos policiais.
O deputado Luiz Fernando Mainardi, líder do PT na Assembleia Legislativa, também questionou a mudança de postura da Brigada Militar após a suspensão da presidente eleita Dilma Rousseff. “Até agora o governo do Estado estava se mantendo de uma forma correta no comando da BM. Havia duas mobilizações, uma em defesa do impeachment ou do golpe e uma em defesa da democracia e contra o golpe. Ambos os movimentos eram protegidos”, disse.
“Agora não existe mais dois lados. Só existe quem contesta o governo ilegítimo de Michel Temer, os outros sumiram ou envergonhados ou porque atingiram seus objetivos, e inexplicavelmente a Brigada, em dois dias consecutivos, vai com todo o efetivo, com cavalaria, com espadas, que não se via, segundo os relatos que se têm, desde os tempos da ditadura militar, quando se reprimia com toda violência. Ao final da manifestação, quando as pessoas já estavam indo embora, a BM age com toda truculência, prendendo, levando para a delegacia e se apresentando como vítima, invertendo absurdamente a situação”, afirmou Mainardi.
Machismo na prisão das quatro mulheres
Segundo a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), um dos motivos que levam a oposição a pedir o afastamento do secretário e do comando da BM é o fato de que agentes de inteligência da BM se infiltrarem no ato. “Uma das meninas foi detida porque documentava a ação da BM. Nós conseguimos identificar diversos infiltrados e fotografar. Essas meninas fotografavam esses infiltrados, que inclusive tinham o nítido objetivo de causar o tumulto, ou seja, de justificar a violência a partir das iniciativas causadoras da confusão durante a manifestação”, disse Manuela.
A deputada também denunciou que as prisões tiveram caráter machista. “Foram mulheres que foram agredidas e detidas. Existem outras questões relacionadas ao local que elas foram, à falta de informações e de socorro prestado a elas em função de que estavam lesionadas, todas foram algemadas”, disse.
Faltam policiais nos bairros, mas sobram para reprimir movimentos sociais
Ela ainda criticou o fato de que a BM mobilizou um grande efetivo para acompanhar e reprimir os protestos em um momento em que há falta de policiais para realizar o policiamento ostensivo na Capital. “Qual o efetivo usado pela BM para essa ação? O povo gaúcho vive cotidianamente uma sensação real de insegurança nas ruas e não vê esse efetivo da BM se mobilizar para fazer a segurança das nossas ruas, dos nossos bairros, das nossas zonas de lazer, e esse efetivo estava deslocado para uma manifestação pacífica”, ponderou Manuela.
A parlamentar afirmou que o argumento de que é necessário reprimir os protestos quando promovem o bloqueio de ruas e impedem trabalhadores de chegar ao serviço ou retornar à casa não cabe nessa situação porque ambos os atos reprimidos foram durante a noite.
“É importante que diga que os argumentos são completamente falaciosos. Foram duas manifestações noturnas, como nós tivemos incontáveis manifestações noturnas na Goethe. Para parâmetro de comparação, de qualquer cidadão lúcido, razoável, que não julga e não quer que a BM atue partidariamente e de maneira política, perseguindo a um lado do movimento e não a outro, basta comparar: a Cidade Baixa teve manifestações noturnas e o Moinhos de Vento teve manifestação noturnas. Qualquer cidadão tem condições de julgar como a BM agiu na quinta e na sexta em relação ao Parcão”, disse Manuela.
Ataque de forças de segurança a jovens indefesos
“Nós não aceitamos, em hipótese alguma, esse nível de violência que ocorreu quinta e sexta-feira. Achamos que não é apenas desproporcional, que seria uma palavra muito branda para o que ocorreu, foi um verdadeiro ataque de forças de segurança a movimentos sociais representandos por jovem indefesos. Pior ainda, foram quatro meninas agredidas e ainda transformadas em agressoras, e isso foi uma operação que nós não aceitamos em hipótese alguma. É a velha tática mostrar a vítima como agressora”, afirmou o deputado Pedro Ruas (PSOL).
“Nós achamos que a responsabilidade do comando da operação tem que ser apurada e, por óbvio, o comandante disso tudo tem que sair do governo”, frisou o deputado.
Pedro Ruas ainda ponderou que a comitiva buscou assegurar, junto ao governador, que a repressão violenta não se repita nos próximos protestos. “Essas manifestações voltarão a ocorrer, portanto PSOL, PT, PCdoB, os movimentos sociais, trouxemos esta preocupação em relação ao futuro”, disse, acrescentando ainda que os deputados expressaram ao governador a preocupação com a utilização, por parte das forças de segurança, de agentes infiltrados nos protestos.
Sartori alega desconhecimento da violência
Após o encontro, que começou por volta das 10h e durou cerca de 30 minutos, nem o governador Sartori nem o chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi (PMDB), conversaram com a imprensa. No entanto, segundo os deputados de oposição, ele se comprometeu a determinar a apuração dos incidentes, mas salientou que vai manter a ordem para a BM de desobstruir as ruas durante manifestações. Ele também teria dito que desconhecia os atos de violência cometidos pela polícia.
“É inacreditável a postura de desconhecimento e desrespeito com o que vem acontecendo por parte do comandante da BM, que, em última instância, é o governador José Ivo Sartori. Nós esperávamos que a reação fosse de respeito irrestrito à livre manifestação como garante à Constituição brasileira. Ao contrário, nós ouvimos que a orientação pessoal dele para a BM é limpar as ruas, que foi o que nós vimos com os homens montados a cavalos com suas espadas postas nos pescoços dos manifestantes”, disse Manuela.
Os parlamentares mostraram ao governador fotos de atos violentos cometidos por policiais e de jovens feridos. O deputado Tarcísio Zimmermann (PT) acusou o governador de omissão diante dos fatos.
“É importante destacar que a resposta do governador foi uma resposta estilo governo do Estado, de omissão, pelo menos até esse momento. O governo teve todo o final de semana para tomar providências, não apurou os fatos, não se inteirou dos fatos, muito diferente do governador Tarso que, em 2013, acompanhava pessoalmente todas as manifestações e a ação da segurança pública. Nesse caso, o governador diz ‘ah, eu vou ver o que aconteceu’, dois, três dias depois. E continua com esse discurso retrógrado, autoritário, de que vai limpar as ruas. Colocamos para o governador que ele está arriscando a sua história política, porque os movimentos não vão recuar”, disse Tarcísio.
Protesto dos jovens era totalmente pacífico
Os parlamentares também apresentaram ao governador líderes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Levante Popular da Juventude, que ajudaram a organizar os protestos, para demonstrar que o objetivo dos atos era pacífico e que é possível dialogar com os movimentos.
“Nós apresentamos o comando das manifestações para o comandante maior da BM, que é governador, porque nós sabemos que essas manifestações são organizadas, ordeiras, como ele disse, e pacíficas. E, portanto, é possível dialogar, como fizeram em todas as manifestações que aconteceram no Parcão com o comando da manifestação para evitar que qualquer ato desmedido por parte da BM aconteça”, disse Tarcísio.
Também participaram da reunião os deputados Nelsinho Metalúrgico (PT), Altermir Tortelli (PT), Stela Farias (PT) e Edegar Pretto (PT). Ainda compareceu o deputado federal Dionilso Marcon (PT).