Escrito por: CUT-RS
A Esquina Democrática, onde pulsam as mobilizações sindicais e populares no centro de Porto Alegre, foi tomada por centenas de trabalhadores, trabalhadoras e estudantes, no final da tarde desta quinta-feira (14), durante o ato da CUT-RS e centrais sindicais contra a proposta do governo do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) para a reforma da Previdência.
Eles e elas levantaram bandeiras e cartazes, enquanto dirigentes de entidades sindicais e estudantis e vários parlamentares se revezaram no caminhão de som, denunciando que a proposta representa, na verdade, o fim da aposentadoria para milhões de brasileiros. Houve também gritos de “Lula livre”.
A manifestação ocorreu no mesmo horário em que o governo anunciava que pretende enviar, na próxima quarta-feira (20), a proposta de reforma ao Congresso Nacional. A íntegra do pacote – que entre outras medidas institui um sistema de capitalização que não deu certo no Chile, mas é o sonho dos banqueiros – só será divulgada nessa data.
Tirem as mãos da nossa aposentadoria
Entre as mudanças "vazadas" está o fim da aposentadoria por tempo de contribuição (35 anos para homens e 30 para mulheres), com a implantação da obrigatoriedade da idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com 12 anos de transição. Essa injusta alteração, se for aprovada, irá punir quem começou a trabalhar mais cedo. Outros não conseguirão emprego, pois as empresas evitam contratar trabalhadores com idade avançada. Desse jeito, muitos ficarão sem trabalho e sem aposentadoria. Ou terão que trabalhar até morrer ou morrer trabalhando.
Não foi à toa que o título do panfleto da CUT-RS, que convocou o ato, foi “Tirem as mãos da nossa aposentadoria”. Se a proposta do presidente ilegítimo já era ruim e foi barrada pela mobilização dos trabalhadores, a do Bolsonaro é muito pior.
O ato antecedeu a Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, convocada pelas centrais, que acontecerá na próxima quarta-feira (20), na Praça da Sé, em São Paulo. Trabalhadores irão deliberar sobre as próximas ações de resistência para barrar a proposta de Bolsonaro.
Construir uma greve geral
O vice-presidente da CUT-RS, Marizar de Melo, defendeu a unidade com as centrais sindicais, movimentos sociais, populares e estudantis “para construir um processo de mobilização que seja maior do que 28 de abril de 2017, quando construímos uma greve geral” que barrou a proposta do Temer.
“Temos que trazer inclusive aqueles que equivocadamente ajudaram a eleger esse projeto que está destruindo o nosso país, o nosso estado e a nossa capital”, salientou. “É uma reforma criminosa que vai fazer com que os trabalhadores não consigam mais se aposentar”, alertou Marizar.
Reforma não é necessária
Ele disse que “chegou a hora de fazer uma grande mobilização e mostrar para esse governo que não queremos reforma da Previdência porque ela não é necessária”. Ele ressaltou que “a CPI no Senado comprovou que a Previdência é superavitária”, mostrando que há problemas de sonegação de contribuições, não pagamento de dívidas e desvinculação de receitas.
“É tarefa nossa construir uma greve geral no Brasil para derrotar a reforma da Previdência e para segurar o patrimônio público e a soberania nacional, para que não sejam entregues ao capital internacional”, destacou o dirigente da CUT-RS.
Lula livre
Marizar aproveitou para lembrar que “o desmonte começou com o golpe que derrubou a presidenta Dilma, continuou com o golpista Temer e agora estão cumprindo o terceiro turno, que é o golpe da entrega do patrimônio nacional, mas nós não vamos deixar”. Ele terminou defendendo a liberdade e pedindo “Lula livre”.
A vice-presidente da CTB-RS, Silvana Conti, destacou que o ato foi importante para denunciar que o governo “mente para a população” ao afirmar que irá arrumar as contas públicas fazendo a reforma da Previdência. “A gente quer ampliar a luta contra a reforma e mostrar que o governo quer quebrar com os trabalhadores”, disse.
Também se manifestaram dirigentes da CSP-Conlutas, Intersindical, UGT e CGTB.
Não é reforma, é o fim da aposentadoria
Vários manifestantes criticaram o presidente da Câmara, deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), por sua fala de que “todo mundo consegue trabalhar hoje até os 80 anos”. Também foi contestado o projeto do ministro da Economia, Paulo Guedes, de estabelecer um regime de capitalização para a Previdência, apontando que esse modelo foi implementado no Chile durante a ditadura Pinochet. Hoje, a maioria dos aposentados chilenos recebe hoje menos do que um salário mínimo por mês e o número de suicídios entre idosos acima de 70 anos bateu recorde.
“Não nos resta outra alternativa senão esclarecer a população sobre o que traz essa falsa reforma da Previdência. Porque não é reforma, é fim da aposentadoria”, falou ao público a presidente do CPERS Sindicato, Helenir Aguiar Schürer. “A capitalização é responsável por centenas de suicídios de idosos no Chile. É isso que querem trazer para o Brasil e vamos ter que movimentar a base da população”, completou.
Dialogar com o povo para desmascarar o governo
O deputado federal Dionilso Marcon (PT-RS) disse que não é otimista quanto à posição do Congresso. “Somos minoria. Eles têm votos para massacrar os trabalhadores que querem se aposentar em vida. É preciso trancar estradas, estar nos aeroportos falando com os parlamentares, mobilizar em todos os lugares”, defendeu.
A deputada federal Fernanda Melchiona (PSOL-RS) reforçou a importância da luta para esclarecer a população. “Temos uma ampla jornada de mobilização pela frente. Nossa caminhada é de dialogar com o povo, derrotar o projeto neoliberal e desmascarar esse governo”, discursou. Também se manifestaram as deputadas estaduais Sofia Cavedon (PT) e Luciana Genro (PSOL).
Desmonte da Previdência interessa aos bancos
Presente ao ato, o ex-ministro do Trabalho e da Previdência no governo Dilma Rousseff, Miguel Rossetto, denunciou que a reforma representa o desmonte da Previdência, o que interessa à iniciativa privada e aos bancos. “Os ricos não estão no INSS, os ricos desse país estão ao lado do Paulo Guedes e do Bolsonaro. Destruir a Previdência pública é abrir espaço ao mercado privado dos bancos deste país”.
“Defender a previdência é defender proteção social para milhões de trabalhadores do campo e da cidade, que não têm condições de trabalhar e poder sobreviver. É preciso mobilização, participação. Fomos capazes de bloquear a alteração quando Temer a propôs e temos todas as condições de bloquear esta porque é errada, ruim, injusta”, avaliou Rossetto.
Segundo o ex-ministro, “não é aceitável que, por um lado, o governo fragilize as relações de trabalho com contratos provisórios, e, por outro lado, exija tempo maior de contribuição. Essa proposta vai inviabilizar o direito à aposentadoria, vai criar uma tragédia social porque vai levar milhões de trabalhadores idosos a uma condição de indigência”.
Jovens na luta com os trabalhadores
O presidente da UEE Livre, Maicon Prado, disse que “o que está proposto não é uma reforma, mas a destruição da Previdência. Ataca os mais vulneráveis, afeta a juventude que tem dificuldades com o primeiro emprego e, portanto, também em se aposentar”.
Para ele, “a nós, jovens, cabe resistir com unidade junto aos demais trabalhadores para barrar esse desmonte”.