Escrito por: CUT-RS
Empresários do agronegócio querem erguer estátua de seis metros de altura para homenagear Jair Bolsonaro, em Passo Fundo/RS. Obra é criticada pela população da cidade
A CUT-RS questiona a construção de uma estátua de seis metros de altura para homenagear o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. A iniciativa é de um grupo de empresários do agronegócio e vem sendo muito criticada pela população.
A Prefeitura e a Câmara Municipal não autorizaram o monumento, que está sendo construído com ferro-velho oriundo de máquinas agrícolas utilizadas na região. Desta forma, os organizadores estão escolhendo um terreno particular para a colocação da estátua.
O artista plástico responsável pelo projeto é Jorge Luiz Grigolo e trabalha na obra há 60 dias. Os gastos estão sendo pagos pelo Comitê pela Vida e Liberdade, com apoio do Sindicato Rural.
Vergonha
“Questionamos essa tentativa de colocar um símbolo que expressa tudo o que tem de ruim na cidade. O pior é que o município será conhecido, lamentavelmente, pela visão do atraso”, afirma o secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, que é natural de Passo Fundo.
CUT-RS
Para o dirigente da CUT-RS, a posição desse sindicato é uma vergonha para os seus associados. “Há muito tempo o Sindicato Rural deixou de ser um órgão de classe. Passou a ser um palanque ideológico do conservadorismo, da pauta do estado mínimo e das reformas que tiram o povo do orçamento.”
“Nada mais comum do que quem pensa assim, que estimule e pague uma estátua daquele que é um presidente, que não fez nada de bom para a cidade, nada de bom para o Estado e muito menos para o país”, critica Nespolo.
O secretário da CUT-RS denuncia a postura dos organizadores. “Existem tarefas mais importantes para fazer do que ficar patrocinando estátua de quem vem destruindo o país e derretendo a renda dos trabalhadores, com aumento do desemprego e do custo de vida”, salienta.
População teme pela imagem da cidade
Polo econômico e educacional da região, Passo Fundo já teve a fama de “Chicago dos Pampas” por causa da letra da música “Gaúcho de Passo Fundo”, do cantor e compositor Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha. Um trecho da canção ameaça: “Se alguém me pisar no pala, meu revólver fala”. Quem lembra disso é o professor e filósofo Paulo César Carbonari.
Ele conta que, desde os anos 1980, a comunidade vem lutando contra essa visão negativa, organizando atividades culturais como festivais de folclore, a Jornada de Literatura, e já haviam superado a visão negativa.
Para Carbonari, “trata-se de uma obra narcísica, no sentido de pessoas que gostam de se ver no espelho. Não é por nenhum feito especial. Todos os monumentos são sempre controversos. Há uma espécie de desespero para ressaltar a memória do pior presidente da República pós-redemocratização".
O professor acrescentou que a utilização de estátuas de pessoas é uma forma de idolatria praticada na política em regimes totalitários. "Todos os regimes deste tipo criaram um culto a personalidades com a produção de fotos e imagens", destaca.
Luciano Breitkreitz/ONAbsurdo
O ex-deputado estadual Juliano Roso, que também é historiador e presidente estadual do PCdoB, engrossa o coro contra o monumento. “Num momento em que a cidade ainda chora 663 mortos pela covid-19, por falta de atendimento e atraso na vacinação, é um absurdo homenagear a este genocida, um presidente que está fazendo com que o povo sofra na pandemia, na qual já morreram cerca de 600 mil pessoas”.
Ele lembrou ainda que Bolsonaro transformou o Brasil num país onde o preço de um botijão de gás passa de 100 reais, o preço de um litro de combustível passa dos 7 reais, com uma população gigantesca desempregada, onde a fome voltou a frequentar os lares. “Querer homenagear um presidente desta natureza só se for uma homenagem à imbecilidade, à burrice, ao negacionismo, porque o presidente é contra a educação, contra a ciência, contra a vida”, justifica.
Segundo o ex-deputado, a cidade tem a estátua do Teixeirinha, que é um ícone da cidade, tem a estátua da mãe, que representa a força da mulher passo-fundense, o monumento em homenagem aos ferroviários e outros monumentos históricos.
Facebook / Reprodução.
Para ele, "é importante que fique claro que essas pessoas são as mesmas que apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma, as mesmas que apoiaram o golpe de 64. São os mesmos que impediram o presidente Lula de visitar a cidade e, portanto, não é uma homenagem da população, é uma homenagem de uma minoria".
Roso disse que está estudando uma forma de proibir a colocação da estátua, através de ação na Justiça. "Eles falam em colocar em um terreno particular, porém para qualquer construção, que possa causar impacto urbanístico, é necessária a autorização das autoridades competentes."
O advogado e integrante do Comitê pela Vida e Liberdade, Jabs Paim Bandeira, contou ao Jornal O Nacional que já houve o envio de um convite para Bolsonaro comparecer à inauguração do monumento.
Fonte: CUT-RS com Walmaro Paz – Brasil de Fato RS