Escrito por: CUT-RS
Descumprindo promessa feita na campanha eleitoral de 2018, Eduardo Leite anuncia privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan)
O anúncio da proposta do governador Eduardo Leite (PSDB) de privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), na tarde desta quinta-feira (18), deixou indignados os trabalhadores e trabalhadoras da empresa, que garante o abastecimento de água para a maioria do povo gaúcho. A medida foi objeto de debate nas eleições de 2018, quando Leite prometeu que não venderia a Corsan e o Banrisul, que ambas continuariam como empresas públicas.
Em artigo publicado no início da noite no Sul21, o vice-presidente da CUT-RS, Everton Gimenis, denuncia a traição do governador, rejeita as privatizações e chama os trabalhadores e a população para a luta. "Temos que retomar com muita força a nossa campanha em defesa do Banrisul, da Corsan e da Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul), porque sabemos que onde passa um boi, passa uma boiada", destaca.
"Temos que retomar com muita força a nossa campanha em defesa do Banrisul, da Corsan e da Procergs (Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul), porque sabemos que onde passa um boi, passa uma boiada", destaca.
Gimenis, que é também diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, defende a Constituição Estadual, que obriga a realização de plebiscito em caso de venda dessas empresas, e alerta que uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) tramita na Assembleia Legislativa para acabar com essa consulta à população.
"Governador, o verdadeiro dono das empresas gaúchas não é o governante de plantão, é o povo gaúcho. Portanto. cumpra a nossa Constituição, conforme juramento feito no dia da sua posse, e deixe que o povo decida o futuro delas", defende o dirigente sindical.
Leia a íntegra do artigo de Gimenis!
Leite, o traidor do povo gaúcho
O governador Eduardo Leite sempre teve seu DNA privatista conhecido. Vem da escola tucana de Yeda Crusius e FHC. Antes de ser candidato ao Governo do RS em 2018, ele já tinha se declarado favorável às privatizações, inclusive, numa entrevista disse que não se poderia ter preconceito quanto à privatização do Banrisul.
Mas já na campanha notou que essa posição dificultaria em muito seu objetivo de se eleger governador. O povo gaúcho já tinha passado por este engodo que as privatizações trariam progresso para o nosso Estado, que o dinheiro delas seria investido em Educação, Saúde e Segurança.
No governo Brito, metade do Estado já tinha sido vendido, a principal dessas empresas foi a CRT. Também foi vendida parte da CEEE, extinta a Caixa Econômica Estadual. Lá também começou o processo de entrega do Banrisul, que só não concluiu porque perdeu a eleição para o banrisulense Olívio Dutra. Resultado, o RS não melhorou, pelo contrário, a sua crise econômica se aprofundou, os investimentos prometidos não vieram, Educação, Saúde e Segurança ficaram mais sucateados.
Além disso, um dos principais adversários de Leite nas eleições, o governador Sartori, estava sofrendo um grande desgaste por ter retomado a política de entrega do patrimônio público gaúcho. Sartori tinha extinguido as Fundações, começando o processo de privatização do que sobrou da CEEE, da CRM e da Sulgas. Além de ter retomado o processo de sucateamento do Banrisul começado por Yeda Crusius, com vendas de ações do banco de forma suspeita e criminosa.
Isso tudo estava gerando um enorme problema para a campanha de reeleição do Sartori, além do que Leite recebeu uma pesquisa que dizia que mais de 70% dos gaúchos eram contra a privatização do Banrisul e demais empresas públicas. De forma oportunista, Leite – durante a campanha – mudou de posição e prometeu em público não privatizar a Corsan e o Banrisul durante seu mandato. Mas no início do seu governo já começou a cair a sua máscara.
O deputado Sérgio Turra, do PP, partido que faz parte da base do governo Leite, apresentou a PEC 280, que retira a obrigatoriedade do plebiscito, ou seja, da consulta à população gaúcha, verdadeira dona das empresas públicas do nosso Estado, para a privatização do Banrisul, Corsan e Procergs. Os 24 parlamentares, que assinaram a PEC 280, para que ela pudesse tramitar, são todos da base do governo.
Portanto, Leite terceirizou no início do seu governo o desgaste do descumprimento da sua palavra. Mas certamente estava de acordo com a política de entrega do patrimônio público gaúcho. Se não tivesse, era só desautorizar publicamente a sua base a votar nessa PEC e pedir para ser retirada. Mas não, o governador espertamente disse que essa pauta não era do governo, mas se a Assembleia Legislativa (ALRS) quisesse discutir, o governo não se negaria. Estava claro que o governo tinha terceirizado para o Parlamento a privatização de Banrisul, da Corsan e da Procergs.
A partir daí, retomamos com mais força a campanha em defesa das nossas empresas. Com a mobilização dos trabalhadores, em especial dos banrisulenses, lotamos a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) mais de uma vez no final de 2019 para impedir a votação do parecer favorável à PEC 280 feito pelo relator, deputado Elizeu Sabino. Além de visitarmos os gabinetes de todos os deputados da CCJ para mostrarmos a eles o prejuízo que seria para o povo gaúcho a privatização dessas empresas.
Conseguimos uma vitória parcial, a CCJ terminou o ano de 2019 sem votar o parecer do deputado Sabino. E em 2020 também não avançou essa pauta, mas ficamos vigilantes, tendo informações sobre a pauta do Legislativo pela Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul, presidida pelo deputado Zé Nunes e composta por vários parlamentares que são contra a privatização do Banrisul.
Agora com a notícia de hoje, onde o governador falou publicamente que vai privatizar a Corsan, com certeza a base governista na ALRS vai tentar acelerar a aprovação da PEC 280 para poder privatizar sem consultar o povo gaúcho.
Temos que retomar com muita força a nossa campanha em defesa do Banrisul, da Corsan e da Procergs, porque sabemos que onde passa um boi, passa uma boiada. Se a PEC 280 for aprovada, não facilita somente a privatização da Corsan, facilita também a entrega do Banrisul e da Procergs.
Já vimos que a palavra do governador não vale nada, e desculpa ele arranja conforme a necessidade e os interesses. Precisamos unir os trabalhadores do Banrisul, da Corsan e da Procergs, da CEEE, da CRM, da Sulgas e toda população gaúcha nessa luta! Porque o desmonte do Estado não vai só causar o desemprego dos funcionários dessas empresas, vai aprofundar a crise econômica do RS e a prestação de serviços para a população. Imaginem a água, um bem essencial à vida, nas mãos da iniciativa privada que só pensa no lucro!
A água, assim como a gasolina, será para os poucos que puderem pagar, o resto morre de sede. As comunidades pobres, sem a CEEE, terão tarifa subsidiada? O programa Luz para Todos vai continuar? Sabemos que só terá energia que puder pagar. E com a privatização do Banrisul, como ficarão as 100 cidades do interior do RS que só são bancarizadas por que tem uma agência do Banrisul?
Num momento de profunda crise econômica, o Estado vai abrir mão de um poderoso instrumento de fomento e de desenvolvimento como o Banrisul, que é um banco lucrativo, que o seu lucro é todo investido aqui no nosso Estado? A quem interessa isso? Certamente não ao povo gaúcho, mas interessa muito aos grandes bancos privados nacionais e internacionais e aos grandes empresários que são os que apoiaram a campanha de Leite ao governo. Leite agora está pagando a fatura da sua campanha com o patrimônio do povo gaúcho.
Governador Leite, o verdadeiro dono das empresas gaúchas, não é o governante de plantão, é o povo gaúcho. Portanto, cumpra a nossa Constituição, conforme juramento feito no dia da sua posse, e deixe que o povo decida o futuro delas. Não às privatizações! O Banrisul é nosso!