Escrito por: Vanessa Ramos, CUT-SP
Diferentes ramos participaram do debate relacionado à fabricação de calçados
Sindicalistas cutistas marcaram presença no seminário voltado ao combate do trabalho precário na fabricação de calçados no Brasil, que iniciou nesta quinta-feira (20) e segue até esta sexta (21), na cidade de Jaú, interior de São Paulo.
A atividade é organizada pela IndustriALL Global Union, entidade que representa cerca de 50 milhões de trabalhadores dos setores metalúrgico, químico, de mineração, energia e têxtil, em 140 países espalhados por todos os continentes do mundo.
O tema do encontro faz parte de uma campanha permanente da entidade internacional, explica o secretário Geral da CUT São Paulo, João Cayres. “É um debate fundamental a ser feito, ainda mais neste momento de golpe no Brasil. Na região, a luta contra o trabalho precário é pelos quase 10 mil trabalhadores, de um total de 15 mil, que atuam na informalidade.”
Para Cayres, a região que já é considerada um pólo calçadista, precisa ser recuperada e valorizada, levando-se em consideração, inclusive, o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores informais que atuam no setor.
Secretária de Imprensa e Comunicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Vestuário (CNTRV), Márcia Viana explica que o seminário debateu especialmente o trabalho precário na fabricação de calçados que se dá por meio da subcontratação das chamadas “bancas”, oficinas terceirizadas que confeccionam partes do produto final.
No seminário estiveram presentes diversos atores, como empresários, sindicalistas e representantes do setor público. “Esperamos construir uma mesa permanente de discussão na cidade de Jaú para tratar sobre o trabalho em bancas”, relata a dirigente.
O evento contou com a parceria do Sindicato dos Trabalhadores(as) nas Indústrias de Calçados de Jaú, cujo presidente é Miro Jacintho, de federações e confederações cutistas.
Para Miro, o seminário abre um leque de alternativas para amenizar o problema da precarização e terceirização do trabalho. “Infelizmente a terceirização é um problema mundial e esse debate deve ser ampliado. Em relação à nossa cidade (Jaú), a maior questão são as 'bancas', que ocorre quando o trabalhador acha que está ganhando dinheiro levando trabalho para casa, cria uma ‘oficina’ lá e coloca a família para produzir, e todos eles sem direitos trabalhistas. Isso acaba virando um caos para a cidade”, afirma.
Em reportagem do portal do Sindicato dos Trabalhadores(as) nas Indústrias de Calçados de Jaú, o coordenador no Brasil do projeto Mundial Contra o Trabalho Precário, promovido pela IndustriALL, Elias Soares, abordou que trabalho precário envolve não apenas a terceirização, mas problemas como “assédio moral e sexual, riscos à saúde do trabalhador e as práticas antissindicais dos empresários.”
Presidente da Federação dos Trabalhadores Coureiros, Calçadistas e Vestuaristas (Fetracovest), José Carlos Guedes celebra o fato de o seminário reunir diferentes representações do ramo, como o sindicato, a associação brasileira e a Justiça do Trabalho, para discutir o tema.
“Reunir a Justiça do Trabalho, mais o sindicato da indústria calçadista e a associação brasileira do ramo representa um avanço muito grande. A gente supera, com isso, uma debilidade da estrutura do Estado, que não consegue fiscalizar as condições de trabalho. E com o diálogo é possível estabelecer alguns parâmetros e tirar encaminhamos no sentido de preservar o emprego formal com viés no trabalho decente”.
A atividade, afirma Márcia Viana, forneceu aportes ao aprofundamento do debate sobre o que representa o trabalho precário dentro de um modelo neoliberal que tem se acentuado desde a derrubada da presidenta eleita, Dilma Rousseff. “Querem flexibilizar os direitos trabalhistas e sociais, mas jamais aceitaremos retrocessos”, afirmou.