Escrito por: Secretaria de Comunicação da CUT-SP

De 2019 a 2023, CUT-SP foi às ruas lutar contra governos Bolsonaro, Doria e Tarcísio

Em São Paulo, trabalhadores protestaram por direitos e em defesa da democracia

Dino Santos / CUT-SP

Se tem palavras que definem os últimos quatro anos de atuação da CUT-SP elas são resistência e luta. Foi a grande marca da diretoria da CUT São Paulo que atuou entre novembro de 2019 a agosto de 2023.

Em 2019, quando a Central realizava seu 15º Congresso Estadual, o movimento sindical recebia a notícia de que Luiz Inácio Lula da Silva ganhava a liberdade após meses de uma condenação injusta e ilegal. Em seguida, logo no início de 2020, o mundo parou para enfrentar uma das piores pandemias da história, com a circulação de um vírus, até então desconhecido, que forçou a paralisação de cidades como São Paulo, a fim de garantir a segurança da população e evitar mortes.

Foi um momento em que alguns setores pararam por completo, enquanto outros seguiram em atividade, colocando trabalhadores e trabalhadoras expostos à contaminação para que a economia não parasse, como queria o então presidente Jair Bolsonaro, que negava a gravidade do novo coronavírus.

Nesse período, com as orientações de distanciamento, o movimento sindical paulista teve que se reinventar, sem deixar de sair das ruas e das portas de fábricas, estando onde a classe trabalhadora estava. Organizamos atos menores ou simbólicos denunciando os riscos do transporte público lotado, a falta de equipamentos de proteção individual para os trabalhadores da saúde, a superlotação ou mesmo a falta dos hospitais de campanha. Também cobramos a urgência da compra da vacina tanto para os que estavam na linha de frente quanto para os demais grupos da população.

As carreatas surgiram como alternativa às manifestações. Por todo o estado, de carro, moto ou bicicleta, a CUT se organizou para alertar sobre a política genocida em curso no Brasil. Mostramos ser possível ir às ruas num momento em que o presidente era mais perigoso do que o vírus, pois ele promovia uma política de negação da gravidade da covid-19, provocando muitas mortes que poderiam ter sido evitadas.

O Brasil bateu recordes de contágio e passamos das 700 mil mortes, com cenas chocantes da falta de cilindros de oxigênio, levando famílias ao desespero. Os cemitérios do país estamparam capas dos jornais em todo o mundo.

A CUT-SP  testemunhou o descontentamento com a política econômica que só fez aumentar os itens básicos de sobrevivência, como alimentos e o gás de cozinha. Além dos casos de corrupção, ameaças à democracia, tentativas de privatizações e o negacionismo à ciência e à saúde.

A falta de coordenação federal no enfrentamento ao novo coronavírus fez o país ficar no constante abre e fecha que ajudou a destruir milhares de comércios pequenos e engrossou a fila do desemprego. Para minimizar os impactos, a luta da CUT, dos movimentos sociais e partidos de esquerda pressionaram o governo a conceder um auxílio emergencial de, no mínimo, 600 reais.

Com a volta da fome, com milhões de brasileiros e brasileiras sob insegurança alimentar, os sindicatos e subsedes da CUT-SP iniciaram ações de solidariedade por todo o estado, com a arrecadação de alimentos, roupas e produtos de higiene que foram doados a famílias na extrema pobreza. Os sindicatos de SP ofereceram suas estruturas ao governo ou abriram suas sedes para alimentar e abrigar pessoas em situação de rua.

Neste mandato, a CUT-SP fortaleceu a unidade dos movimentos sociais por meio das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. Criamos os Comitês Populares de Luta em diferentes regiões do estado de São Paulo, que tiveram a missão de ampliar o diálogo com a população sobre os problemas enfrentados no dia a dia, apontando caminhos de luta e desenvolvendo encontros, panfletagens atos e ações como a defesa da criação do vale-transporte social, uma política de auxílio ao transporte gratuito para trabalhadores desempregados e desempregadas.

A CUT-SP também realizou ações de integração que foram além dos muros do movimento sindical, como o “CUT nos Bairros”, projeto que percorreu diferentes localidades da capital e outros municípios oferecendo serviços sociais e programação artística voltada às famílias que moram em regiões periféricas e com pouco acesso a equipamentos culturais.

Denúncias, lutas e unidade

A CUT-SP participou da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, a Conclat, e de eventos do 1º de Maio classista e de luta, tanto no formato virtual, dadas as condições sanitárias do momento, quanto no presencial tendo a inédita unidade das centrais sindicais.

Mas em meio à ameaça de continuidade do governo de Jair Bolsonaro (PL), o movimento sindical se uniu em torno de um projeto político de defesa do país e dos direitos, sabendo que não seriam eleições fáceis, pois a luta era contra o uso da máquina pública de uma forma jamais vista antes, com liberação de dinheiro, maquiagens nos preços e a criação de programas assistenciais da noite para o dia.

Nas empresas, muitas denúncias de coação e assédio eleitoral contra os trabalhadores e trabalhadoras, que se somaram aos disparos de fake news, levando parte da sociedade a crer em mentiras e em discursos de ódio, sendo até mesmo incentivada a atos violentos e criminosos, espalhando o terror em todos os cantos.

Mesmo contra toda essa estrutura, a CUT-SP colocou seu bloco nas ruas para disputar as narrativas e mostrar os caminhos para a construção de um país menos desigual, mais solidário, justo e de paz.  Uma luta que valeu a pena, pois a eleição de Lula foi a vitória da classe trabalhadora!

Assim como Bolsonaro, o então governador de São Paulo João Doria (PSDB) realizou ataques às servidoras e aos servidores públicos, tirando o direito de aposentadoria do funcionalismo. Ele acabou com serviços importantes ao extinguir autarquias, fundações e empresas públicas. E ampliou a terceirização dos serviços de saúde. A CUT-SP fez a luta pelo estado dialogando com a população sobre essa política de sucateamento. E essa batalha trouxe algo inédito: a ampliação do campo progressista no estado, levando ao segundo turno, com vitória expressiva em cidades estratégicas, o projeto que melhor representava os interesses da classe trabalhadora.  

Apesar disso, foi o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) quem se elegeu mesmo tendo propostas explícitas de privatização dos portos, da Sabesp, das rodovias, metrô e ferrovias. O início de sua gestão tem sido de políticas prejudiciais ao povo em todas as áreas, como no transporte, no saneamento, na saúde, na educação, além de uma forte intervenção policial.

A CUT-SP entende ser preciso frear essas investidas que encontram ecos até mesmo em projetos de muitos prefeitos e prefeitas alinhados ao governo estadual e que seguem promovendo a completa destruição do papel do Estado em diversos municípios.

Segmentos de luta e mobilização

Nessa gestão da CUT-SP, o importante papel da formação sindical, de preparação de trabalhadores e trabalhadoras, se adaptou ao formato híbrido com cursos, encontros e seminários realizados de forma presencial e virtual, garantindo o espaço para a discussão, colaboração e aprendizado acerca das temáticas necessárias para o fortalecimento da militância sindical. Planejamentos e plenárias ajudaram a direção a construir o plano de lutas de cada período.

A pauta ambiental ganhou força, sobretudo, após as maiores destruições dos biomas por meio de queimadas criminosas, que teve o apoio de Bolsonaro. Nas eleições, a CUT-SP cobrou o compromisso por uma agenda em defesa do meio ambiente, garantindo uma transição justa e de acordo com as demandas da classe trabalhadora no modelo de produção sustentável.  

A CUT-SP lutou por medidas de proteção às matas, aos povos da floresta e aos trabalhadores e trabalhadoras do campo, responsáveis por garantir o alimento em nossas mesas. A pauta rural, como a defesa da reforma agrária e o fim da precarização do trabalho no campo, sempre estiveram presentes nas bandeiras da Central em SP.

A Central no estado de SP também fortaleceu a luta pelos direitos humanos ao pautar a diversidade no mundo do trabalho, garantindo a inclusão das pessoas com deficiência e o fim do capacitismo. Lutou, ainda, pela garantia dos direitos de trabalhadores LGBTQIA+ e o fim de todas as formas de violência, com a organização e a participação em encontros, seminários e eventos de rua, e incentivando nossos sindicatos a fortalecerem as cláusulas sociais das convenções e acordos coletivos.

No período de pandemia, o setor cultural lutou pela aprovação da Lei Aldir Blanc, de auxílio financeiro aos fazedores de cultura, assunto intensamente debatido em nossas ações virtuais. A CUT-SP promoveu e participou de debates, teatros, festivais e feiras literárias organizadas pelos sindicatos, sempre incentivando a promoção da arte. No Carnaval, o bloco “O Pinto do Visconde” entrou para o calendário oficial da cidade desfilando pelas ruas do Brás e a nossa Central cruzou o sambódromo do Anhembi junto à escola Unidos do Peruche. A CUT-SP também organizou o Samba da Resistência, iniciativa para valorizar quem trabalha com o samba.

A luta antirracista da CUT-SP ganhou uma importante ferramenta que foi o Canal de Denúncias, que oferece apoio jurídico às situações de preconceitos praticados nos locais de trabalho. Os sindicatos da CUT-SP fortaleceram seus coletivos de combate ao racismo no período da crise sanitária, que afetou principalmente a população negra, alvo dos cortes de salários e das vagas de emprego. Realizou seminários e eventos para discutir os caminhos de luta para a incidência de políticas públicas de combate ao racismo e maior proteção social. Mas também estivemos nas ruas celebrando nossos laços e tradições.  

A juventude discutiu as transformações no mundo do trabalho por meio de encontros regionais e atividades lúdicas. Também ampliou seus espaços de participação dentro dos sindicatos, se apropriando e apontando para as novas formas de atuação juntos às bases. Iniciativas fundamentais para garantir a renovação e o futuro do sindicalismo no país.  

A cooperação da CUT-SP com a CGIL Lombardia, a central sindical italiana, seguiu com o intercâmbio e a troca de experiências, assim como laços foram estreitados com entidades sindicais de outros países.

Protagonistas do resultado nas urnas, as mulheres permaneceram nas ruas lutando por espaços e direitos, enquanto que o governo anterior empurrava uma agenda que tinha a mulher no papel de submissão.

Para esse enfrentamento, as mulheres sindicalistas de SP promoveram debates, ações em praças públicas e ocuparam o ambiente virtual, sempre alertando sobre a violência e o assédio praticados em todos os espaços. Já no início do governo Lula, uma importante conquista: o anúncio de ratificação das convenções da OIT que tratam de igualdade salarial entre homens e mulheres e o combate à violência no local de trabalho.

Enfrentar as fake news e a narrativa terrorista da extrema-direita exigiram da CUT a criação de um novo modelo de comunicação, que envolvesse os milhares de dirigentes, militantes e assessores que fazem parte da entidade. As Brigadas Digitais foram a resposta para a disputa política no campo virtual, ampliando a comunicação popular e repercutindo a pauta da classe trabalhadora.

A CUT-SP se modernizou para as novas tendências, realizou cursos e encontros sobre o tema e debateu políticas como o PL das Fake News. Durante o período crítico da pandemia, a CUT-SP ocupou o espaço virtual com o programa “CUT São Paulo em Ação” e fortaleceu a parceria com a TVT e a Rádio Brasil Atual, contribuindo com a visão popular dos fatos.

A estrutura jurídica da CUT-SP ofereceu suporte aos sindicatos durante as eleições, orientando as formas legais de participação. Promoveu oficinas e debates sobre temas que permeiam o dia a dia das entidades de classe, compartilhando experiências e casos jurídicos entre os sindicatos. Implicações da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, as formas de validação de assembleias virtuais e a atualização do registro sindical foram alguns dos assuntos.

Na saúde do trabalhador e da trabalhadora, a CUT-SP fez a defesa do Sistema Único de Saúde, lutou pela realização de testes rápidos de covid-19, incentivando até mesmo uma política pública sobre isso por meio de um abaixo-assinado. Seguiu nos espaços de participação social, realizou lives informativas e cursos para dirigentes sindicais e cipeiros voltados ao aprimoramento das ações de prevenção e acidentes no mundo do trabalho. Pelo estado, os sindicatos da CUT-SP cobraram nas portas das fábricas ações para reforçar a segurança e a vida dos trabalhadores.

Momento da reconstrução

A CUT São Paulo saiu maior na gestão dessa diretoria que atuou de novembro de 2019 a agosto de 2023. A firme e combativa atuação da CUT-SP permitiu a filiação de novas entidades e categorias de trabalhadores e trabalhadoras, em articulações envolvendo diferentes secretarias. Disputou muitas eleições sindicais por todo o estado e construiu fortes oposições, garantindo a democracia e a participação de todas, todos e todes. A marca “CUT” levou credibilidade e confiança às chapas com nosso apoio, obtendo vitórias na maioria dos pleitos.

Nas eleições de 2022, dirigentes sindicais da CUT-SP se licenciaram para disputar cargos de deputado estadual e federal com o objetivo de ampliar a bancada de representantes na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional, a fim de garantir o aumento do número de parlamentares comprometidos com os direitos da classe trabalhadora. Objetivo conquistado não somente nesses espaços, mas também com o protagonismo e a representação no Executivo.  

Nesse período eleitoral, uma mulher, Telma Victor, assumiu temporariamente como presidenta da CUT São Paulo, reforçando o protagonismo das mulheres na gestão da Central paulista.

A CUT-SP promoveu e participou de greves e mobilizações nos locais de trabalho junto aos seus sindicatos. O fortalecimento das assembleias e o desdobramento de muitas campanhas salariais resultaram em avanços significativos nas convenções e acordos coletivos. A Central paulista também construiu amplas discussões acerca do funcionalismo público e do desenvolvimento industrial por meio dos macrossetores, apontando caminhos e colaborando no debate sobre o futuro do trabalho. Mas o processo de desindustrialização agravou o desemprego, com casos de demissões em massa, reflexos da maldosa reforma trabalhista, que retirou direitos e atacou o movimento sindical.

Nos primeiros meses de 2023, a CUT-SP foi às ruas pressionar o Banco Central a reduzir as absurdas taxas de juros e cobrar a saída do bolsonarista Campos Neto. Enfrentou as ameaças privatistas do governo estadual, lutou pela revogação do Novo Ensino Médio e pela defesa de uma saúde pública de qualidade. Celebrou a luta sindical sem soltar a mão de ninguém e reforçou o papel cidadão do movimento sindical ao oferecer acolhimento a famílias de afegãos refugiados no país.

A CUT-SP chegou ao final de sua gestão em agosto de 2023, que teve à frente o professor Douglas Izzo, com as esperanças renovadas e satisfeita com o resultado das urnas e o retorno do diálogo entre o governo e o movimento sindical. Ciente, porém, de que ainda existe um longo percurso a ser feito.

Dino SantosDouglas Izzo

 

A Central paulista, que tem agora o químico Raimundo Suzart à frente da nova gestão 2023-2027, entende que a jovem democracia precisa ser defendida a todo momento para espantar de vez o fantasma do golpismo.

Dino SantosRaimundo Suzart

Diante de um Congresso de maioria conservadora, a CUT-SP acredita que é preciso permanecer nas redes, nas ruas e nos locais de trabalho para garantir que as pautas da classe trabalhadora sejam encaminhadas. Da mesma forma, entende ser fundamental dar suporte ao governo Lula que ajudou a eleger, mas principalmente para que a classe trabalhadora seja a protagonista da mudança que queremos. É o momento da reconstrução.