Decreto de Temer prejudica quem trabalha em supermercados
Com decreto, supermercados vão poder impor condições de trabalho aos domingos e feriados
Publicado: 22 Agosto, 2017 - 10h01 | Última modificação: 23 Agosto, 2017 - 11h15
Escrito por: CUT, com informações da RBA e TVT
Confraria de homens brancos e ricos: empresários comemoram com Temer, no Palácio do Planalto, decreto que beneficia supermercados. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
O presidente ilegítimo Michel Temer assinou, na quarta-feira passada (16), o Decreto 9.127 que dá aos supermercados o status de serviço essencial. A principal mudança é que, pela legislação anterior, para abrir aos domingos e feriados esses estabelecimentos precisavam de uma lei municipal e de acordos com os sindicatos. Falando sobre os direitos dos trabalhadores de supermercados que foram eliminados por seu decreto, Temer afirmou: "Hoje tem acordo, tem multa, tem isso, tem aquilo". Os empresários do setor supermercadista festejaram a assinatura do decreto. Mostrando que governa para os patrões, Temer chamou mais de 400 representantes do setor para comemorar a nova legislação que os favorece, numa cerimônia no Palácio do Planalto, no dia em que assinou o decreto.
Do outro lado, os trabalhadores contestaram a medida, publicada no dia 17 no Diário Oficial da União, alterando um antigo decreto de 1949, "para incluir o comércio varejista de supermercados e de hipermercados no rol de atividades autorizadas a funcionar permanentemente aos domingos e aos feriados civis e religiosos". Existem atualmente no Brasil cerca de 90 mil supermercados e 1,8 milhão de empregados.
Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs-CUT), o decreto representa mais uma ofensiva contra os direitos sociais. "Nesse momento conjuntural, aprovar a essencialidade de um serviço prestado a toda sociedade considerando apenas a opinião do empresariado e das multinacionais é um ataque à democracia e mais um duro golpe contra a classe trabalhadora", afirma, em nota. A Contracs acrescenta que os trabalhadores vêm brigando desde 2000 contra a abertura do comércio aos domingos. Naquele ano, o governo Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei 10.101, incluindo, por "má-fé", a liberação da atividade.
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo, disse que a medida é justa. "O decreto está fazendo justiça para os consumidores que precisam se abastecer nos feriados e domingos e tínhamos muitos obstáculos para satisfazer a demanda em alguns lugares do país", declarou.
Assista a seguir matéria da TVT sobre o assunto:
A Direção Executiva da CUT també se posicionaou publicamente. Veja a nota na íntegra:
CUT REPUDIA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO COMÉRCIO
A Central Única dos Trabalhadores, após tomar conhecimento da publicação do Decreto nº 9.127 de 16 de agosto de 2017 que reconhece os supermercados como serviço essencial, vem a público expressar sua indignação por mais este ato do governo ilegítimo e golpista de Temer contra os direitos sociais e trabalhistas.
Aprovar a essencialidade de um serviço considerando apenas os interesses do empresariado nacional e das multinacionais, sem ouvir os/as próprios/as trabalhadores/as envolvidos nesta mudança, é um desrespeito aos princípios democráticos e mais um duro golpe contra a classe trabalhadora.
Desde 2000, trabalhadores e trabalhadoras do setor supermercadista lutam contra a abertura do comércio aos domingos com uma campanha cujos slogans são: “Domingo é dia de trabalhar o afeto, amor e carinho” e “Se domingo fosse dia de trabalho, chamaria segunda-feira”. Essa luta foi motivada pela nossa posição contrária à liberação do comércio aos domingos, aprovada no governo Fernando Henrique Cardoso através da Lei 10.101/2000.
Lutamos, desde esta época, pela revogação desta lei que apenas conseguimos amenizar com a garantia de uma folga a cada dois domingos trabalhados por meio da Lei 11.603/2007 e com a obrigatoriedade, via negociação coletiva, de compensação aos trabalhadores dos domingos e feriados trabalhados.
O novo decreto, caracterizando a essencialidade do serviço supermercadista, afronta novamente o direito dos trabalhadores brasileiros. Em nome da defesa dos interesses dos consumidores esconde-se a usurpação, pelos empregadores, de parte fundamental e inalienável dos direitos dos/as trabalhadores/as como cidadãos que dedicam domingos e feriados ao convívio familiar, ao culto religioso, ao estudo, à cultura e ao esporte .
Além de desestruturar a vida em sociedade dos/as trabalhadores/as, a CUT alerta para outro desdobramento nefasto da nova lei: o cerceamento do direito à greve, uma vez que a Lei 7.783/89 (lei de greve) estabelece a necessidade de manter parte dos serviços essenciais em funcionamento durante as paralisações. Ao Identificar o serviço supermercadista como essencial, Decreto nº 9.127/2017 desconsidera resoluções do Comitê de Liberdade Sindical da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que caracteriza as atividades essenciais como aquelas que impactam a sociedade e cuja a interrupção pode pôr em perigo a vida, a segurança ou a saúde da pessoa, de toda ou parte da população, situação em que os supermercados não se encaixam.
A CUT repudia esse decreto, além do mais, porque as trabalhadoras e trabalhadores em supermercados possuem baixos salários, não tem garantido a organização das escalas de trabalho com antecedência, são obrigados a trabalhar sobre o regime de banco de horas nos quais nunca conseguem folga quando desejam. Em síntese, o novo decreto produz o retrocesso e acentua a precarização do trabalho e a desigualdade social.
Vamos RESISTIR! Direito não se reduz, se amplia!
DIREÇÃO EXECUTIVA DA CUT