Delegação da CUT vai à China para trocar experiências sindicais e trabalhistas
Durante cinco dias, dirigentes sindicais da CUT conheceram mundo do trabalho e as relações sindicais no país asiático
Publicado: 25 Novembro, 2024 - 13h19 | Última modificação: 26 Novembro, 2024 - 11h50
Escrito por: Luiz R Cabral | Editado por: André Accarini
Dirigentes da CUT viajaram à China, entre os dias 5 e 9 de novembro para conhecerem de maneira mais aprofundada as relações sindicais no país asiático, a convite da Federação Nacional de Sindicatos da China (ACFTU). A comitiva, composta por cinco representantes (Juvandia Moreira, Vice-PresIdenta da CUT, Tadeu Porto, Secretário-Adjunto de Comunicação, Rodrigo Rodrigues, Presidente da CUT – DF, Alexandre Bento, Assessor da Secretaria da Relação Exterior e Neiva Ribeiro, Diretora Executiva da CUT e Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região) esteve nas cidades de Pequim e Xangai com uma programação intensa de reuniões, visitas institucionais e trocas de experiências. O objetivo foi estreitar relações, conhecer o funcionamento da organização sindical chinesa e buscar inspiração para aprimorar práticas no Brasil.
Durante a agenda, os representantes da Central Única dos Trabalhadores foram recebidos por figuras de destaque, como Xu Liuping, primeiro secretário da central chinesa, e líderes institucionais como a vice-presidente do Banco de Construção da China, Xin Shusen, e o reitor da Universidade de Relações de Trabalho, professor Wen Xiaoyi.
Momentos marcantes da agenda na China
A programação foi dividida entre Pequim, que reflete a preservação das tradições chinesas, e Xangai, com uma postura moderna e conectada ao ocidente. Essa dualidade evidencia a transformação do país sem ruptura com sua essência histórica. Enquanto Pequim preserva a reverência a ícones como Mao Tsé-Tung, Xangai destaca-se pela tecnologia e pela liderança jovem e feminina.
Nas questões que envolvem o mundo do trabalho, a delegação CUTista conheceu o “Call Center dos Trabalhadores”, que oferece suporte jurídico em casos de violações trabalhistas, utilizando inteligência artificial para registrar e organizar demandas. Outro ponto interessante foi o aplicativo da ACFTU, chamado Na Nuvem, que integra serviços variados, como orientação sobre direitos trabalhistas e até suporte emocional, alcançando milhões de usuários.
“A ACFTU criou, também, as estações sindicais espalhadas por várias províncias da China e os trabalhadores podem utilizá-las para carregar o celular, para esquentar marmita, para descansar, para fazer a leitura de um livro. Enfim, eles podem acessar essa estação sindical para tomar água, coisas que no Brasil não tem. A gente sempre ouve que trabalhador que entrega comida ou trabalhador que transporta passageiro que não tem onde parar para ir ao banheiro ou descansar”, afirmou Juvandia Moreira, Vice-Presidenta da CUT.
A visita ao Museu do Primeiro Congresso do Partido Comunista revelou o uso estratégico do lúdico para transmitir mensagens políticas e históricas. Exposições interativas, como hologramas que narram a fundação do partido e impressionam os visitantes.
“Foi muito bom ir para lá e entender o sistema político e sindical deles, pois nesse ano que as relações China-Brasil completam 50 anos, que os BRICS estão se fortalecendo, que o mundo multipolar tem ganhado força e o Sul Global tem emergido como uma potência, é muito importante estreitar as relações entre trabalhadores e trabalhadoras desses dois países”, completou o Secretário Adjunto de Comunicação, Tadeu Porto, que também fez parte da comitiva.
Histórico do convênio entre as entidades
Em julho passado, uma delegação chinesa esteve na sede da CUT Nacional, em São Paulo. A comitiva foi liderada pelo vice-presidente Xu Facheng. As duas entidades assinaram um “Tratado de Amizade, Comunicação e Cooperação”, consolidando uma aliança estratégica em prol da defesa dos direitos da classe trabalhadora. A reunião marcou o início de um diálogo para compartilhar experiências e unir esforços diante dos desafios enfrentados por trabalhadores no Brasil e na China.
Para Juvandia, na ocasião, o encontro foi além do intercâmbio sindical, permitindo entender mais profundamente o modelo de organização social e econômica chinês. "Eles têm um planejamento estratégico de longo prazo muito bem estruturado. Aqui, enfrentamos desafios em razão da informalidade e da ausência de uma elite comprometida com projetos nacionais voltados à soberania e ao fortalecimento da democracia", avaliou.
Relação Brasil e China
O presidente chinês, Xi Jinping, realizou uma visita oficial ao Brasil no dia 20 de novembro. Durante o encontro, foram discutidos temas estratégicos, como programas de investimento e desenvolvimento bilateral, além de coordenação em questões regionais e multilaterais. Como resultado da visita, mais de 37 acordos de cooperação foram firmados entre as duas nações. Um dos destaques foi o “memorando de entendimento” entre a Telebrás, empresa estatal brasileira vinculada ao Ministério das Comunicações, e a chinesa Shanghai SpaceSail Technologies. O acordo visa a oferta de soluções de telecomunicações via satélite, o que pode representar um desafio para o domínio da Starlink, empresa de Elon Musk, no mercado brasileiro de internet via satélite.
As relações entre Brasil e China completam 50 anos em 2024, e o diálogo contínuo é promovido pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN). Além disso, as duas potências mantêm uma parceria estreita em fóruns multilaterais como a ONU, o G20 e o Brics. Em abril de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma visita de estado à China, e em junho do mesmo ano, ocorreu a VII Sessão Plenária da COSBAN, com a presidência dos vice-presidentes de ambos os países.
A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, e em 2023, as trocas comerciais atingiram um recorde de US$ 157,5 bilhões. As exportações brasileiras para o país asiático somaram US$ 104,3 bilhões, enquanto as importações chegaram a US$ 53,2 bilhões, resultando em um superávit de US$ 51,1 bilhões. Esse valor representou cerca de 52% do superávit comercial total do Brasil.