Escrito por: Luiz R Cabral

Delegação da CUT vai à China para trocar experiências sindicais e trabalhistas

Durante cinco dias, dirigentes sindicais da CUT conheceram mundo do trabalho e as relações sindicais no país asiático

Rodrigo Rodrigues - CUT DF

Dirigentes da CUT viajaram à China, entre os dias 5 e 9 de novembro para conhecerem de maneira mais aprofundada as relações sindicais no país asiático, a convite da Federação Nacional de Sindicatos da China (ACFTU). A comitiva, composta por cinco representantes (Juvandia Moreira, Vice-PresIdenta da CUT, Tadeu Porto, Secretário-Adjunto de Comunicação, Rodrigo Rodrigues, Presidente da CUT – DF, Alexandre Bento, Assessor da Secretaria da Relação Exterior e Neiva Ribeiro, Diretora Executiva da CUT e Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região) esteve nas cidades de Pequim e Xangai com uma programação intensa de reuniões, visitas institucionais e trocas de experiências. O objetivo foi estreitar relações, conhecer o funcionamento da organização sindical chinesa e buscar inspiração para aprimorar práticas no Brasil.

Rodrgio Rodrigues CUT - DF 

Durante a agenda, os representantes da Central Única dos Trabalhadores foram recebidos por figuras de destaque, como Xu Liuping, primeiro secretário da central chinesa, e líderes institucionais como a vice-presidente do Banco de Construção da China, Xin Shusen, e o reitor da Universidade de Relações de Trabalho, professor Wen Xiaoyi.

Rodrigo Rodrigues CUT -- DF

Momentos marcantes da agenda na China

A programação foi dividida entre Pequim, que reflete a preservação das tradições chinesas, e Xangai, com uma postura moderna e conectada ao ocidente. Essa dualidade evidencia a transformação do país sem ruptura com sua essência histórica. Enquanto Pequim preserva a reverência a ícones como Mao Tsé-Tung, Xangai destaca-se pela tecnologia e pela liderança jovem e feminina.


Nas questões que envolvem o mundo do trabalho, a delegação CUTista conheceu o “Call Center dos Trabalhadores”, que oferece suporte jurídico em casos de violações trabalhistas, utilizando inteligência artificial para registrar e organizar demandas. Outro ponto interessante foi o aplicativo da ACFTU, chamado Na Nuvem, que integra serviços variados, como orientação sobre direitos trabalhistas e até suporte emocional, alcançando milhões de usuários.

“A ACFTU criou, também, as estações sindicais espalhadas por várias províncias da China e os trabalhadores podem utilizá-las para carregar o celular, para esquentar marmita, para descansar, para fazer a leitura de um livro. Enfim, eles podem acessar essa estação sindical para tomar água, coisas que no Brasil não tem. A gente sempre ouve que trabalhador que entrega comida ou trabalhador que transporta passageiro que não tem onde parar para ir ao banheiro ou descansar”, afirmou Juvandia Moreira, Vice-Presidenta da CUT.

A visita ao Museu do Primeiro Congresso do Partido Comunista revelou o uso estratégico do lúdico para transmitir mensagens políticas e históricas. Exposições interativas, como hologramas que narram a fundação do partido e impressionam os visitantes.

“Foi muito bom ir para lá e entender o sistema político e sindical deles, pois nesse ano que as relações China-Brasil completam 50 anos, que os BRICS estão se fortalecendo, que o mundo multipolar tem ganhado força e o Sul Global tem emergido como uma potência, é muito importante estreitar as relações entre trabalhadores e trabalhadoras desses dois países”, completou o Secretário Adjunto de Comunicação, Tadeu Porto, que também fez parte da comitiva.

Histórico do convênio entre as entidades

Roberto Parizotti (Sapão)Visita da comitiva chinesa à CUT em junho de 2024

 

Em julho passado, uma delegação chinesa esteve na sede da CUT Nacional, em São Paulo. A comitiva foi liderada pelo vice-presidente Xu Facheng. As duas entidades assinaram um “Tratado de Amizade, Comunicação e Cooperação”, consolidando uma aliança estratégica em prol da defesa dos direitos da classe trabalhadora. A reunião marcou o início de um diálogo para compartilhar experiências e unir esforços diante dos desafios enfrentados por trabalhadores no Brasil e na China.

Para Juvandia, na ocasião, o encontro foi além do intercâmbio sindical, permitindo entender mais profundamente o modelo de organização social e econômica chinês. "Eles têm um planejamento estratégico de longo prazo muito bem estruturado. Aqui, enfrentamos desafios em razão da informalidade e da ausência de uma elite comprometida com projetos nacionais voltados à soberania e ao fortalecimento da democracia", avaliou.

Relação Brasil e China

O presidente chinês, Xi Jinping, realizou uma visita oficial ao Brasil no dia 20 de novembro. Durante o encontro, foram discutidos temas estratégicos, como programas de investimento e desenvolvimento bilateral, além de coordenação em questões regionais e multilaterais. Como resultado da visita, mais de 37 acordos de cooperação foram firmados entre as duas nações. Um dos destaques foi o “memorando de entendimento” entre a Telebrás, empresa estatal brasileira vinculada ao Ministério das Comunicações, e a chinesa Shanghai SpaceSail Technologies. O acordo visa a oferta de soluções de telecomunicações via satélite, o que pode representar um desafio para o domínio da Starlink, empresa de Elon Musk, no mercado brasileiro de internet via satélite.

As relações entre Brasil e China completam 50 anos em 2024, e o diálogo contínuo é promovido pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN). Além disso, as duas potências mantêm uma parceria estreita em fóruns multilaterais como a ONU, o G20 e o Brics. Em abril de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma visita de estado à China, e em junho do mesmo ano, ocorreu a VII Sessão Plenária da COSBAN, com a presidência dos vice-presidentes de ambos os países.

A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, e em 2023, as trocas comerciais atingiram um recorde de US$ 157,5 bilhões. As exportações brasileiras para o país asiático somaram US$ 104,3 bilhões, enquanto as importações chegaram a US$ 53,2 bilhões, resultando em um superávit de US$ 51,1 bilhões. Esse valor representou cerca de 52% do superávit comercial total do Brasil.