Escrito por: Redação CUT
No documento, o delegado apontou a possibilidade de crimes de advocacia administrativa, de "obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais" e organização criminosa
O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva foi demitido do cargo de superintendente da corporação no Amazonas nesta quinta-feira (15), um depois de enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime - um instrumento usado para alertar uma autoridade, polícia ou Ministério Público, da ocorrência de um ilícito - contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o senador Telmário Mota (Pros-RR).
A PF acusa o ministro e o senador de atuarem em favor de investigados da "Operação Handroanthus", que mirou extração ilegal de madeira na Amazônia no fim do ano passado.
No documento, o delegado apontou a possibilidade de ocorrência dos crimes de advocacia administrativa, organização criminosa e o crime de "obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais."
Antes do delegado, outro servidor tinha perdido o cargo por causa da Operação Handroanthus, que apreendeu mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, no valor de R$ 130 milhões, no fim do ano passado.
No dia 9 de abril, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) divulgou nota informando que havia identificado e multado o "chefe do esquema criminoso" de grilagem de terras indígenas na Amazônia e que o infrator havia sido multado em nada menos que R$ 105,5 milhões, por ter desmatado uma área equivalente a mais de 21 mil campos de futebol em uma terra indígena no Pará.
No dia 14 de abril, Ricardo Salles exonerou o diretor de proteção ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo, além dos coordenadores de fiscalização e operações Renê Oliveira e Hugo Loss.
Em março, o ministro do Meio Ambiente havia ido até a região se reunir com os madeireiros para tratar do tema e fez postagens em redes sociais defendendo que seja dada solução célere ao caso.
Na semana passada, Salles voltou a região acompanhado do senador Zequinha Marinho, para se encontrar com os madeiros ilegais. Na viagem a Santarém (PA), Salles gravou vídeo ao lado de Zequinha para afirmar que iria apoiar a liberação da madeira apreendida, após revisão dos documentos
Segundo a PF, além de dificultar a ação de fiscalização ambiental, Salles "patrocina diretamente interesses privados (de madeireiros investigados) e ilegítimos no âmbito da Administração Pública" e integra, "na qualidade de braço forte do Estado, organização criminosa orquestrada por madeireiros alvos da Operação Handroanthus com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza", segundo matéria publicada no Estadão nesta sexta-feira (16), intitulada “O maior grileiro de terras indígenas da Amazônia, multado pelo Ibama em R$ 105 milhões”.
O grileiro, apurou o jornal, “é Jassonio Costa Leite, um empresário do Tocantins que mantém relações diretas com políticos em Brasília, frequenta gabinetes no Congresso Nacional e é apoiador de Bolsonaro.
A reportagem segue dizendo que o empresário, investigado desde 2019, lidera um grupo formado para invadir terras indígenas, fazer seu loteamento e vender as áreas dentro do território protegido. “O empresário foi um dos principais responsáveis pelo processo de grilagem da terra indígena Ituna-Itatá, localizada no município de Senador José Porfírio, no Pará. A região registrou um dos maiores índices de desmatamento ilegal em toda Amazônia entre 2018 e 2020”, diz o Estadão.