Escrito por: Redação CUT
Senadores aguardam depoimento com ansiedade. Já o governo está preocupado. O ex-secretário de Comunicação deve falar sobre a demora do governo na compra de vacinas e a falta de campanhas de prevenção
Um dia após o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, amigo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), ter surpreendido os senadores em seu depoimento na CPI da Covid ao criticar falas e comportamento negacionista do presidente, está depondo nesta quarta-feira (12) o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, demitido em março deste ano. O depoimento dele pode expor anda mais o governo. Os senadores aguardaram o depoimento com ansiedade. Já o governo, está preocupado. O ex-secretário de Comunicação deve falar sobre a demora do governo na compra de vacinas e a falta de campanhas de prevenção
Além das críticas as ações do presidente, Barra Torres confirmou a tentativa de alterar, por meio de um decreto presidencial, a bula da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia defendido por Bolsonaro. O objetivo da medida era ampliar o uso do medicamento no tratamento da Covid-19. Barras Torres deixou claro que é contra a indicação da droga no tratamento da doença.
Já o depoimento de Fabio Wajngarten é esperado pelos senadores da base governista e auxiliares presidenciais próximos a Bolsonaro como uma surpresa e não há como prever o teor das declarações. Ele poderá responder sobre duas das questões centrais sobre a responsabilidade de Bolsonaro no agravamento da pandemia. Uma delas, a falta de um plano de comunicação para orientar a população sobre as medidas de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus; e a outra, a demora, e as “polêmicas”, em torno de negociações para compra de vacinas.
Os senadores querem detalhes sobre como é possível mostrar que o Executivo não se empenhou para ter os imunizantes. Fabio Wajngarten, demitido no início de março, tem criticado o Ministério da Saúde “por falta de competência” na compra de imunizantes desenvolvidos pela Pfizer.
Em entrevista à Veja no final de abril, o ex-secretário disse que foi procurado pelo dono de um veículo de imprensa, relatando que a farmacêutica enviou carta ao ministério, então sob o comando do general Eduardo Pazuello. E que não houve resposta.
Wajngarten então teria se oferecido para negociar com a farmacêutica porque acreditava, segundo ele, que devia evitar responsabilização a Bolsonaro pelas mortes na pandemia. As tratativas então avançaram, os diretores se comprometeram a antecipar entregas, aumentar volumes e até mesmo aceitaram reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo de US$ 10 – Israel pagou US$ 30. Porém, as negociações teriam sido barradas novamente no Ministério da Saúde por pessoas “despreparadas que estavam cuidando dessa questão”. Mas ele não disse se Pazuello fazia parte do grupo.
Esses contatos de Wajngarten com a Pfizer deverão ser questionados a fundo pelos senadores durante a CPI, assim como a falta de campanhas de esclarecimento sobre a importância por isolamento social, uso de máscaras, necessidades básicas de higienização e, principalmente, sobre a gravidade da doença.
Bolsonaro sempre fez propaganda do chamado “tratamento precoce” ou 'kit covid' com medicamentos sem eficácia e que ainda podem comprometer a saúde de pessoas saudáveis, como a cloroquina e a ivermectina.
Na entrevista à Veja, o ex-secretário se defendeu da acusação de não ter feito campanha publicitária para divulgar a importância da vacina dizendo: “Como eu ia fazer campanha de vacinação se não tinha vacina. Se fizesse, seria propaganda enganosa”.
A secretaria de Comunicação não fez campanha sobre medidas de prevenção recomendas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como isolamento social, uso do álcool em gel e da máscara, únicas formas de conter a disseminação do vírus antes da vacina e mesmo durante o processo de imunização da população.
Por outro lado, fez uma campanha publicitária denominada ”o Brasil não pode parar”, incentivando a reabertura da economia no momento de pico da pandemia, contrariando orientações científicas pelo isolamento e dando destaque a defesa que Bolsonaro faz da economia, independentemente de quantas mortes de brasileiro significasse não fazer o isolamento social nos picos da pandemia.
Outro assunto a ser explicado por Fabio Wajngarten é por que promoveu uma excursão de quase meio milhão de reais a Israel, sem a presença de cientistas, para conhecer um spray nasal para tratamento de covid. Filho de Bolsonaro e o ex-chanceler Ernesto Araújo – que teve de ser advertido para que usasse máscara diante dos anfitriões. Pelo que se viu da defesa de Bolsonaro pelo ex-secretário especial de comunicação social, é bem provável que seu depoimento siga na mesma direção do atual ministro da Saúde. Na última quinta-feira (6), Marcelo Queiroga não respondeu nenhuma pergunta que pudesse reforçar a responsabilidade do presidente na morte de mais de 420 mil brasileiros.
Quem vai à CPI da Covid depois de Fabio Wajngarten
Com apoio da RBA