Escrito por: Vitor Nuzzi, da RBA

Depois do impeachment, trabalhadores acumularam derrotas no Congresso

Diap reúne medidas de Temer que resultaram em retrocesso. Ao mesmo tempo, Câmara rejeitou denúncias contra ele. Eleição do Legislativo é fundamental, afirma analista

MARCELO CAMARGO/ABR

Foi como se os movimentos sociais e de trabalhadores tivessem sofrido vários "7 a 1" políticos, diz o analista político Marcos Verlaine, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), sobre as votações no Congresso depois do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. O instituto elaborou uma relação (confira quadro) com várias matérias aprovadas desde então – todas desfavoráveis, tendo como exemplo mais conhecido a "reforma" trabalhista, no ano passado.

Ele enfatiza a importância de se observar a escolha de representantes na Câmara e no Senado para tentar melhorar a correlação de forças, pois hoje a composição é de maioria francamente conservadora. "O mercado não perdeu mais nenhuma votação relevante naquilo que era de seu interesse", adverte.

São dois momentos distintos, antes e depois da derrubada de Dilma, observa Verlaine. A partir do impeachment, se estabeleceu o que ele chama de "agenda do mercado" e o poder financeiro e empresarial passou a aprovar todos os temas de seu interesse.

"Se ela (Dilma) se mantivesse, num contexto de negociação com o Congresso Nacional, o quadro poderia ser diferente", diz o analista, mesmo considerando o Parlamento atual o "mais fisiológico" e de pior qualidade em sua relação com o Executivo.

Esse mesmo Congresso barrou as denúncias contra Michel Temer, o que contribuiu, segundo Verlaine, para frear outra "reforma", a da Previdência. "Se o Temer não tivesse tido aquelas duas denúncias, poderia ter passado (a reforma), a história talvez fosse outra." Mas o analista destaca também a mobilização dos movimentos sociais contra o projeto.

Ele avalia que os representantes dos trabalhadores têm ainda alguma dificuldade para monitorar as votações. "Por uma série de fatores, o movimento sindical não consegue acompanhar adequadamente a pauta do Congresso e desenvolver o combate a essa pauta", diz.

Verlaine cita o exemplo da tramitação do projeto de "reforma" trabalhista, quando os sindicatos buscavam interlocução com o Ministério do Trabalho, enquanto quem determinava o ritmo do debate era a Casa Civil. Além disso, em um primeiro momento, todos se concentraram na questão da Previdência e de certa forma "esqueceram" da trabalhista, que foi avançando – por ser um projeto de lei exigia menos votos do que uma proposta de emenda à Constituição (PEC).

Quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou que a proposta de mudança da legislação trabalhista era "tímida", houve uma espécie de senha para o mercado, diz o analista do Diap. E o relator do projeto, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), transformou o texto original, do Executivo, em um "monstrengo", que acabou aprovado.

Houve também a agora Emenda Constitucional 95, chamada de "PEC da morte" durante a tramitação. "A emenda dialogava e dialoga com as reformas da Previdência e trabalhista, que destruiu e colocou as relações do trabalho num patamar muito difícil para o movimento sindical."

Para Verlaine, é preciso "eleger um Congresso mais qualificado e um presidente que tenha algum compromisso com os trabalhadores". Caso contrário, será difícil reverter a agenda conservadora. "O movimento sindical precisa ficar mais atento à eleição para o Congresso Nacional." Atualmente, ele lista de 100 a 120 parlamentares, no máximo, mais identificados com uma pauta progressista. Apenas um quinto do Parlamento.

Mesmo a "reforma" trabalhista não foi resultado de uma "canetada", como o analista chegou a ouvir de um dirigente. "Desde a revisão constitucional que o mercado vem tentando alterar as relações de trabalho a seu favor. O mercado acompanha a pauta do Congresso pari passu. O movimento sindical não consegue fazê-lo." Outubro pode ser este momento.