Deputada explica porque depôs contra Bolsonaro
Ameaçada, Maria do Rosário diz que continua firme na defesa dos direitos das mulheres
Publicado: 24 Agosto, 2017 - 12h06 | Última modificação: 24 Agosto, 2017 - 12h13
Escrito por: Érica Aragão
Logo após o primeiro depoimento da deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), nesta quarta (23), no STF (Superior Tribunal Federal) da ação contra o também Deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ), a deputada divulgou uma nota nas redes sociais, com o título “Firme e intransigente na defesa dos direitos das mulheres”.
O deputado federal virou réu por incitar a prática de estupro e injúria no ano passado, após ser julgado pela primeira turma do STF porque em 2014, depois de um discurso na Câmara em que a deputada defendia vítimas da Ditadura Militar, Bolsonaro disse, em entrevista ao jornal Zero Hora e também em plenário, que ela não merecia ser estuprada por ser feia e porque não fazia seu tipo.
“Em um país onde a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, jamais poderia me acovardar diante de todas estas violências”, explica num trecho da nota, que também viralizou no WhatsApp.
Do lado de fora da audiência, mais de 30 mulheres, entre elas a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Junéia Martins Batista, para apoiá-la. “Não podemos deixar a deputada sozinha. Mexeu com uma, mexeu com todas. Hoje foi Maria do Rosário, amanhã pode ser qualquer outra mulher”, contou indignada a dirigente CUTista.
Em uma outra ação civil, em que o parlamentar já tinha sido condenado e recorreu, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve na semana passada, por unanimidade, a condenação do deputado a pagar indenização de R$ 10 mil à petista por danos morais, pelas ofensas dirigidas à ela. Ainda segundo a decisão, Bolsonaro deveria se retratar publicamente em jornais, no Facebook e no Youtube.
A deputada alega que Bolsonaro é líder do ódio e mobiliza seus seguidores para fazer a mesma coisa. Depois da condenação, segundo ela, as coisas pioraram. “Ao longo de todos esses anos, a cada entrevista do parlamentar citando meu nome injuriosamente, e principalmente após 2014, as manifestações de ódio e ameaças de estupro e de morte contra a minha pessoa se tornaram mais frequentes.”, diz outro trecho da nota.
Maria do Rosário reafirma que intolerantes de diversos tipos intensificassem uma onda de ódio imensa contra ela e a quem a apoia ou a defende. “As diversas ameaças que recebi não atingiram seu objetivo, de coagir todas as mulheres brasileiras que lutam por respeito e dignidade. Historicamente esta luta é maior que qualquer ameaça”, justifica sua coragem em continuar para que a justiça seja feita.
Veja a nota completa:
Firme e intransigente na defesa dos direitos das mulheres
Nesta quarta-feira (23) compareci ao Supremo Tribunal Federal (STF) para prestar meu depoimento em duas ações em que é réu um deputado, por incitação ao crime de estupro e injúria. O respeito e a dignidade para todas as mulheres, homossexuais, indígenas e comunidade negra, mas também a responsabilização de quem promove o ódio e a intolerância, são os elementos principais que originaram este processo.
Durante meu depoimento respondi todas as questões que me foram dirigidas e fiz questão de esclarecer alguns pontos:
1. Jamais chamei o deputado de estuprador. Nem em 2003 quando fui agredida fisicamente e ofendida por ele, nem em qualquer outro momento;
2. Há uma clara tentativa por parte da defesa do réu de dizer que o parlamentar reagiu a uma acusação que eu teria lhe feito há "alguns dias", como ele disse. Isto é uma mentira.
3. Além da nova agressão dele ter acontecido contra a minha pessoa 11 anos depois da primeira, é falsa a afirmação que eu o chamei de "estuprador", o que pode ser desmentido mesmo em vídeos editados, ou no original. É impossível colocar palavras como proferidas por mim, uma vez que não as usei;
4. Entre 2003, quando ele disse primeira vez a frase "não te estupro porque você não merece" e 2014, quando ele repetiu essa frase na Câmara, em entrevista ao jornal Zero Hora e em suas redes sociais oficiais, sequer citei o nome deste parlamentar;
5. Ao longo de todos esses anos, a cada entrevista do parlamentar citando meu nome injuriosamente, e principalmente após 2014, as manifestações de ódio e ameaças de estupro e de morte contra a minha pessoa se tornaram mais frequentes. São conhecidos os ataques, inclusive à minha filha menor de idade. Inúmeras denúncias estão registradas na Polícia Federal, destacando que os ataques são realizados por pessoas que se apresentam como defensores do parlamentar condenado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e réu no STF.
A condenação no STJ, aliás, fez com que simpatizantes do fascismo e intolerantes de diversos tipos intensificassem uma onda de ódio imensa contra mim e a quem me apoia ou me defende. As diversas ameaças que recebi não atingiram seu objetivo, de coagir todas as mulheres brasileiras que lutam por respeito e dignidade. Historicamente esta luta é maior que qualquer ameaça.
Procuro sempre realizar um bom debate, no âmbito respeitoso da política. O ódio não pode ter assento nos parlamentos, casas de diálogo e consensos que constroem a democracia.
Em um País onde a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, jamais poderia me acovardar diante de todas estas violências.
Sigo firme e intransigente na defesa dos direitos das mulheres e de todos e todas que têm os seus direitos e dignidade atacados.
Maria do Rosário, deputada federal (PT-RS)