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Deputado bolsonarista é cassado por usar servidores para obras na casa da sogra

Imagens mostram servidores do deputado estadual gaúcho Ruy Irigaray reformando banheiros e trocando pisos

Publicado: 23 Março, 2022 - 14h44 | Última modificação: 23 Março, 2022 - 14h49

Escrito por: Ayrton Centeno, do BdF-RS | Editado por: Marcelo Ferreira, do BdF

Divulgação Ruy Irigaray
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Por 45 votos contra 3, o deputado estadual bolsonarista Ruy Irigaray, do União Brasil, foi cassado pela Assembleia Legislativa gaúcha. Ele perdeu o mandato acusado da prática de desvio de função de servidores públicos. Mais precisamente por ter, durante a pandemia, mandado seus assessores de gabinete trabalharem na casa de sua sogra, durante o horário em que deveriam prestar serviço no Legislativo, inclusive realizando obras no imóvel. É o segundo deputado estadual que perde o mandato neste ano. Antes, Luis Augusto Lara, do PTB, também foi afastado.

Uma de suas assessoras acusou Irigaray de deslocar 15 servidores para a casa da sogra do parlamentar. Lá, os funcionários, além das tarefas do gabinete, executavam outros serviços, como reforma de banheiros, trocas de piso e pintura de paredes. Um vídeo comprovou a denúncia, embora Irigaray diga que as imagens foram adulteradas.

“Eleito para mudar o Rio Grande”

Ele também foi acusado de manter um “gabinete do ódio”, de disseminar fake news e de promover um esquema de “rachadinhas” com seus assessores. Mas, por insuficiência de provas, as acusações não foram aceitas. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o parecer do relator Elton Weber (PSB), favorável à perda do mandato, já fora aprovado neste mês com dez votos a favor e nenhum contrário.

Irigaray é empresário do setor de transportes, combustíveis e agronegócio e, em 2019, foi chamado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, quando ainda estava no PSL, o antigo partido de Jair Bolsonaro. “Tenho certeza de que fui eleito para ajudar a mudar o Rio Grande do Sul”, discursou Irigaray.

“Guerra política”

Ele chegou à Assembleia em 2018 a bordo de 102 mil votos. No partido de Bolsonaro, entrou em atrito com o deputado federal Bibo Nunes (PL/RS), a quem acusa de lhe mover “uma guerra política” e de ter incentivado a denúncia através de assessores que mudaram de lado.

“O deputado Bibo Nunes fez 40 postagens contra mim”, reclamou, sustentando que a Assembleia foi “induzida a erro”. E continuou: “Ele não faz postagens apenas contra mim que sou de direita mas faz contra todos”, reagiu.

“Não é à toa que o deputado que está sendo cassado hoje seja um bolsonarista. Ficou claro, ao longo de todos esses anos com as ‘rachadinhas’ do (senador) Flávio, os cheques do (assessor) Queiroz”, disse a deputada Luciana Genro (PSOL), autora da denúncia. “Que bom que houve essa briga de quadrilha entre Irigaray e Bibo Nunes para a sujeira vir à tona”, agregou.

“Covarde e egocêntrico”

Rodrigo Maroni (PSC), que deu um dos três votos contrários à cassação – os outros dois foram os do próprio Irigaray e de Vilmar Lourenço (PP) - fez uma defesa curiosa do acusado, argumentando que o recurso da “rachadinha” seria comum nos parlamentos brasileiros. Outro deputado, Fábio Ostermann, do Novo, acusou Irigaray de “jogar na latrina” o parlamento. E, irritado, desafiou Maroni a apontar quem faz ‘rachadinha’ no gabinete do Novo.

“Tu é burro e vaidoso”, retrucou Maroni. “Covarde e egocêntrico. Ninguém te suporta, velho!”, prosseguiu, alterado. “Não quero entrar em disputa com um deputado que não passaria sequer em um exame psicotécnico”, contra-atacou Ostermann.

O presidente da mesa, Valdeci Antunes (PT), reclamou que o bate-boca estava transformando o debate sobre a cassação em uma disputa particular e mandou retirar as ofensas da ata da reunião.