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Desajustado é quem prega o ódio e a discriminação e não quem é criado por mulher

Nos mais de 28 milhões de lares chefiados por mães e avós no Brasil estão sendo criados trabalhadores e trabalhadoras batalhadores, íntegros e cheios de coragem, herança das mulheres

Publicado: 19 Setembro, 2018 - 12h21 | Última modificação: 19 Setembro, 2018 - 12h36

Escrito por: CUT Brasília

Reprodução
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Leandro Gomes sequer conheceu o pai biológico. Depois que o pai desapareceu sem deixar vestígios, sua mãe, Sidiney Gomes, trocou o Distrito Federal pelo Tocantins porque não tinha condições financeiras de criar o filho sozinha. Precisava da ajuda da mãe, dona Izaurina Gomes.

Criado pela mãe e pela avó em um dos 28,6 milhões de lares onde as mulheres são as chefes de famílias, segundo a Pnad Contínua do IBGE de 2016, Leandro seguiu em frente, estudou, entrou em uma faculdade e se formou em Jornalismo. Isso, apesar de todas as dificuldades de uma família que só garantiu as três refeições por dia na mesa por causa do Programa Bolsa Família, criado no primeiro mandato do ex-presidente Lula.

A história de superação e conquistas do jornalista e de outros milhares de brasileiros foi violentamente ofendida nesta segunda-feira (17), pelo candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), que insinuou que jovens criados por mães e avós podem ser mais facilmente aliciados pelo narcotráfico porque seriam ‘desajustados’.

Em um evento do Sindicato da Habitação (Secovi), em São Paulo, ele disse que o Brasil vive uma crise de valores e que famílias sem a figura de um “pai” ou um “avô” formam “elementos desajustados”, que “tendem a ingressar em narco-quadrilhas”.

Aos 26 anos, Leandro, que mora em Samambaia e carrega sempre um sorriso no rosto, mesmo tendo de enfrentar muitos dos desafios impostos por um sistema de segregação social, é um jovem íntegro, batalhador, cheio de coragem para seguir lutando. E a coragem, diz ele, é a maior herança deixada pela mãe e pela avó.

“Elas [mãe e avó] são tudo pra mim. Meu avô chegou a participar um pouco da minha vida, mas foi com elas que aprendi as maiores lições da vida. Nos momentos mais difíceis, como quando não tinha o que comer, era minha mãe e minha avó que estavam comigo”, diz o jornalista que voltou ao Distrito Federal aos 19 anos para seguir enfrentando os desafios que fazem parte de sua vida desde a primeira infância.

Assim como Leandro, milhares de meninos e meninas do Brasil foram - e são - criados sem a figura paterna e hoje são engenheiros, bancários, professores, metalúrgicos, médicos, garis, cozinheiros, cantores, eletricitários. Esses meninos e meninas, criados unicamente pela mãe e/ou pela avó, tomaram os mais diversos rumos possíveis. E sim, como aqueles que cresceram ao lado do pai, podem ser pessoas felizes, capazes, íntegras e que fazem o bem. Como é o caso de Leandro.

Para o presidente-interino da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues, o que o general Mourão fez, há menos de 20 dias das eleições presidenciais, foi deixar claro o governo que ele e Bolsonaro pretendem emplacar no país, caso a chapa de extrema direita seja eleita.

“É um governo de retrocesso, principalmente no que se trata do reconhecimento da importância social da mulher. É um governo contrário às políticas sociais que os governos Lula e Dilma encaminharam. É um governo que impede a emancipação e o empoderamento da mulher”, afirma Rodrigo.

A secretária de Mulheres da CUT Brasília, Sônia de Queiroz, repudia a afirmação do vice de Bolsonaro, que ela considera especulativa e na contramão da realidade confirmada por todas as pesquisas. Para ela, é apenas mais um pensamento machista que tem de ser combatido.

“Assim como o candidato à presidente da chapa dele, o general Mourão mostrou que é machista. A fala dele, que é puramente especulativa e vai na contramão do que dizem as pesquisas e a própria realidade, tem de ser repudiada por todas as organizações que se colocam na defesa não só das mulheres, mas de toda a sociedade”, disse a dirigente.

De acordo com ela, “é mais do que sabido que as mulheres são as protagonistas nas resoluções dos problemas vividos diariamente nos lares, na formação dos filhos e na própria subsistência da família”.

Segundo estudo realizado pelos demógrafos Suzana Cavenaghi e José Eustáquio Diniz Alves, aumentou em 105% o número de lares onde as mulheres tomam as principais decisões. Em 2001, esse cenário era registrado em 14,1 milhões de lares. Já em 2015, a mesma situação se aplicava em 28,9 milhões de lares.

Essa não é a primeira vez que o vice de Bolsonaro fala atrocidades. Em agosto desse ano, durante evento da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS), ele afirmou que o povo brasileiro herdou “indolência” dos indígenas e “malandragem” dos africanos.