Escrito por: Érica Aragão e Vanessa Ramos
"A Globo teve relação profunda com a vida política brasileira", diz Suzy Santos
Para continuar a “Descomemoração dos 50 anos da Globo”, Barão de Itararé e Observatório de Economia e Comunicação da Universidade Federal de Sergipe realizaram hoje (27) o seminário “Rede Globo, 50 anos de poder e hegemonia”. Com apoio da CUT, CTB, FUP, CONTEE, Fundação Perseu Abramo e Fundação Maurício Grabois, o encontro contou com a participação da Renata Mielli, do Barão de Itararé, que coordenou o debate, dos professores César Bolanõ, da Universidade Federal de Sergipe, e dois pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcos Dantas e Susy Santos. O tema do debate foi “A construção do império Global”.
Desde o nascimento, há 50 anos, a Globo oferece ao seu espectador o consumo de um conteúdo hegemônico e elitista. Isso não significa que este conteúdo seja superior aos outros, mas que é seguido pela maioria da população e tem um impacto muito grande na vida das pessoas. Para César a entrada da Globo no mercado em 1965 teve um aporte capital, financeiro e de conhecimento externo. “O apoio ao regime militar lhe permitiu assumir posição particular no mercado”, afirma o professor.
O império da Rede Globo foi construído com incentivos públicos, isenções fiscais e outros benefícios conquistados pelo coleguismo com os militares governantes. Fez de tudo para salvar o regime dos ditadores, apoiou abertamente as prisões, torturas e assassinatos no momento de grande repressão no País.
“A Globo teve relação profunda com a vida política brasileira, uso político de licença é bastante específico e forte.”, afirma Suzy. Quem indicou o primeiro ministro de comunicações do período democrático foi Roberto Marinho. “Talvez ele tenha indicado o maior quantidade de ministros”, completa ela.
César fala também do Controle do conteúdo nacional da TV Globo. “A emissora compra direitos de reprodução e produz articulando o máximo possível de produção independente pelo brasil. Assim ela garante a hegemonia”. Hegemonia de informação, esta que conta os fatos no ponto de vista da classe dominante e faz um serviço de desinformação quando se trata de movimento social.
Além da linha editorial da emissora que criminaliza a política e demonstra ser uma empresa séria, a Globo está envolvida em inúmeros casos suspeitos. Segundo o manifesto em repúdio ao autoritarismo da linha editorial da emissora assinado por várias entidades, até hoje a Globo não mostrou o DARF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do pagamento dos seus impostos. Esta atitude reforça a suspeita da bilionária sonegação da empresa na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.
Outro assunto que é recente, mas tem herança de nascimento da Rede Globo é o caso do HSBC. Para Adriana Oliveira Magalhães, secretária de Imprensa da CUT São Paulo, a empresa tem interesses privatistas. “O jornalismo parcial demonstra que a Globo tem partido, ainda que tente dizer que é neutra. E além de ser acusada de sonegar impostos, cadê a cobertura especial para abordar os desvios ocorridos no HSBC e o nome da Lily como ex-esposa de Roberto Marinho?”, questiona. O caso HSBC que a dirigente cita é o caso recente em que houve vazamento bancário de depósitos feitos entre 2005 e 2007 por clientes HSBC, sonegadores e criminosos. Há uma lista de mais de 8 mil brasileiros que tinham contas numeradas na Suíca, no qual consta o nome Lily de Carvalho, morta em 2011. Ela foi viúva dos jornalistas e donos de jornais, Horácio de Carvalho (19608-1983) e Roberto Marinho (1904-2003). Mas veículos como a Globo e outros tradicionais relacionam a mulher, em todas as reportagens, somente ao primeiro marido.
É por estas e outras histórias que movimentos sociais e representantes da sociedade civil que defendem a democracia descomemoram os 50 anos da emissora. Para o professor Marcos a Globo serve o Capitalismo, “eles pregam a construção de uma sociedade de consumo”, completa ele.