Escrito por: Luiz Carvalho

Desenvolvimento sustentável e feminismo caminham juntos

Oficina apontou como ambas as frentes tratam de um mundo com mais igualdade

Roberto Parizotti
Dirigentes de estaduais da CUT, de ramos e sindicatos discutiram papel da mulher no desenvolvimento


A proposta do seminário era discutir a relação entre a luta das mulheres por igualdade e a defesa de um modelo de desenvolvimento sustentável. Mas seria impossível não tratar do julgamento da presidenta eleita Dilma Rousseff pelo Senado.

Ao contrário do que gostariam os golpistas, o processo de impeachment de Dilma não diminuiu, mas engrandeceu a visão das mulheres sobre ela, especialmente após a sabatina pré-votação.

A oficina “Desenvolvimento sustentável – O que as mulheres têm a ver com isso?”, promovido pelas secretarias da mulher trabalhadora e de meio ambiente da CUT e pela Fundação Friedrich Ebert – FES nesta segunda (29) e terça-feira (30) destacou que, entre os inúmeros retrocessos da ascensão de um governo sem voto e sustentado pelos setores mais retrógrados da política nacional pode trazer ao país, está o aprofundamento da degradação do meio ambiente.

Para a secretária de Mulheres da CUT, Junéia Batista, mais uma vez, a resistência feminista será fundamental.

“Ao debatermos a relação da luta entre as mulheres do campo e da cidade em defesa de um desenvolvimento sustentável, discutimos também porque a energia elétrica é tão cara e deve ficar ainda mais, como os agrotóxicos afetam a vida das mulheres e, com apoio desse governo, devem encontrar ainda mais espaço na nossa agricultura. E como nós, principais responsáveis pela compra e manuseio dos produtos nos lares, podemos ajudar a decidir sobre isso”, falou.

Miriam Nobre, da Sempreviva Organização Feminista, lembrou que o desenvolvimento sustentável transformou-se também em mercadoria, algo que ela classificou como ambientalismo de mercado.

“Em São Paulo, o governo sancionou lei que privatiza a gestão de vários parques, tirou comunidades do local e ofereceu a ideia de turismo ambiental. Com esse processo de privatização as famílias correm o risco de ficarem sem nenhuma proteção. Por isso a importância da resistência. Quando utilizamos semente criola é o agronegócio que está morrendo. Quando se usa área que seria direcionada para especulação imobiliária para fazer horta orgânica, estamos disputando metro quadrado com o capital."

Para tratar sobre o tema do desenvolvimento sustentável sob a perspectiva internacional  Vânia Ribeiro, assessora da Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas - CSA, citou a Plada, Plataforma de Desenvolvimento das Américas, ferramenta política de luta dos trabalhadores e trabalhadoras lançada em 2014 e construída coletivamente com diversos movimentos sociais como uma alternativa ao modelo neoliberal visando a luta contra as desigualdades e o desenvolvimento sustentável.

A companheira apontou como a Plada é muito atual diante da conjuntura que se vive no país e as lutas contra o neoliberalismo, destacando dentro desta ferramenta que “não existe desenvolvimento sustentável sem mulheres e jovens”. Também apontou que “sem paridade não há democracia. É preciso auto reforma sindical, porque há poucas mulheres dirigindo o processo”.

Exemplo prático

O que pode parecer um clichê, na verdade, é a salvação de uma sociedade que já sofre com a acentuada degradação ambiental. Soniamara Maranhão, do MAB, lembrou da tragédia de Mariana (MG) como exemplo de exploração que não dá certo.

“Há 500 anos eles exploram a região e o povo já não sonha mais lá, porque a Vale manda no hospital, na prefeitura, na Câmara dos Vereadores, nos conselhos. Vai demitir 40% dos trabalhadores, instalará demissão voluntária e são 20 mortos do rompimento da barragem”, lembrou.

Para ela, porém, o processo golpista pode representar a ascensão de um sentimento combativo. “A conjuntura é difícil, mas isso gera contradições e teremos que nos recompor para nos colocarmos nesse período, especialmente as mulheres, as que mais sofrem nos momentos de perda de direitos. O projeto colocado hoje é insustentável e está com dias contados. A questão é como nos articulamos com outras mulheres da classe trabalhadora e qual processo de desenvolvimento queremos construir?”

Encaminhamentos

As secretárias realizaram um debate sobre como pode ser feita a relação entre desenvolvimento sustentável e gênero em diferentes espaços de atuação, como nos seus sindicatos e ramos, conselhos, e dentro da própria CUT, assim como pautar o tema no âmbito federal através dos poderes Executivo, legislativo e judiciário e nos municípios nas próximas eleições.

Foi avaliado como fundamental realizar debates e cursos de formação sobre desenvolvimento sustentável e gênero em todos os espaços, principalmente na CUT e no movimento sindical.

A oficina, da qual participaram Secretárias de Mulheres e Meio Ambiente das estaduais e ramos e também a Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora, Junéia Batista e a Secretária Nacional de Juventude, Edjane Rodrigues, apontou a importância de realizar um grande encontro nacional com trabalhadoras do campo e da cidade sobre desenvolvimento sustentável e gênero.

Durante os dois dias de encontro, que contou com a participação de especialistas no tema, nas palestras e debates, reafirmou-se a importância da resistência, luta e mobilização, articulada nacional e internacionalmente, para o próximo período, entendendo que será fundamental para barrar os retrocessos do governo golpista, tanto na pauta da mulher trabalhadora,como do meio ambiente.

Ouça também a cobertura do Jornal da CUT sobre o julgamento de Dilma.