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"Desinvestimento da Petrobras causou efeito devastador", diz José Maria Rangel

Petroleiro da FUP explica impactos do desmonte da estatal para os trabalhadores do estado

Publicado: 24 Julho, 2018 - 10h39

Escrito por: Eduardo Miranda, do Brasil de Fato

Nathália Gregory
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As sucessivas ações de desinvestimento da Petrobras não têm razões técnicas, mas políticas. Essa é a avaliação de José Maria Rangel, coordenador licenciado da Federação Única dos Trabalhadores (FUP). Ao promover a privatização de importantes setores da petroleira, o governo federal está acabando com o conceito da Petrobras como empresa de petróleo integrada, critica Rangel. No estado do Rio de Janeiro, os impactos em regiões como Macaé e Campos se refletem em queda de arrecadação de royalties para o estado e desemprego generalizado. 

Brasil de Fato: Qual é o impacto gerado pela falta de investimentos da Petrobras no estado e, principalmente, nas regiões de Macaé e Campos? 

José Maria Rangel: Estão vendendo campos de petróleo, termelétricas, fábricas de fertilizantes, dutos, malhas de gás e estão acabando com o conceito da Petrobras como empresa de petróleo integrada. A Petrobras vem saindo de diversas áreas que julgamos importantes. A greve dos caminhoneiros ainda provocou um certo recuo, até porque a política entreguista ficou muito escancarada. Mas há falta de investimentos para dar sobrevida aos campos chamados de maduros da região de Macaé. 

O que vem sendo feito nesse sentido? 

Nada. A Petrobras tem carreado os recursos para a área de exploração e produção do pré-sal. A redução da atividade na região causa transtorno social grande. Temos não apenas a questão dos royalties que ajudam o desenvolvimento das cidades, mas também a geração de emprego. O esvaziamento de investimentos aumenta a situação de pobreza que a região de Macaé, Campos e o entorno passam a sofrer. 

Há números sobre esse impacto em relação aos desempregados na região? 

O desemprego direto atinge em torno de 40 mil pessoas. No setor privado que presta serviços para a Petrobras em todo o Brasil, a perda está na ordem de 150 mil empregos. Se extrapolarmos para outros segmentos com algum tipo de ligação com a empresa, a desaceleração pode ter provocado 700 mil desempregos. 

Há razões técnicas para não se retomar esses investimentos? 

Não existem razões técnicas, existem razões políticas. Apenas no ano passado, a Petrobras destinou para os bancos R$ 137 bilhões a fim de pagar dívidas e amortizar juros. Se ela investisse entre 10% e 20% desse dinheiro na Bacia de Campos, geraria um impacto bastante positivo na geração de empregos na nossa região. Lamentavelmente, essa não é a prioridade. 

É possível calcular, no estado do Rio, os resultados do desmonte da indústria naval? 

O impacto é devastador, estamos com nossos estaleiros praticamente vivendo de reparos que não necessitam de muita mão de obra, entre 400 e 500 pessoas. Estamos falando de estaleiros que já empregaram 10 mil pessoas para construção de uma plataforma. O setor de óleo e gás já responde por 40% da arrecadação do Rio de Janeiro. Quando vemos o estado hoje nessa penúria financeira, a gente afirma que se não houver uma recuperação do setor no estado, dificilmente o Rio de Janeiro sairá dessa crise.