Escrito por: Eduardo Miranda, do Brasil de Fato

"Desinvestimento da Petrobras causou efeito devastador", diz José Maria Rangel

Petroleiro da FUP explica impactos do desmonte da estatal para os trabalhadores do estado

Nathália Gregory

As sucessivas ações de desinvestimento da Petrobras não têm razões técnicas, mas políticas. Essa é a avaliação de José Maria Rangel, coordenador licenciado da Federação Única dos Trabalhadores (FUP). Ao promover a privatização de importantes setores da petroleira, o governo federal está acabando com o conceito da Petrobras como empresa de petróleo integrada, critica Rangel. No estado do Rio de Janeiro, os impactos em regiões como Macaé e Campos se refletem em queda de arrecadação de royalties para o estado e desemprego generalizado. 

Brasil de Fato: Qual é o impacto gerado pela falta de investimentos da Petrobras no estado e, principalmente, nas regiões de Macaé e Campos? 

José Maria Rangel: Estão vendendo campos de petróleo, termelétricas, fábricas de fertilizantes, dutos, malhas de gás e estão acabando com o conceito da Petrobras como empresa de petróleo integrada. A Petrobras vem saindo de diversas áreas que julgamos importantes. A greve dos caminhoneiros ainda provocou um certo recuo, até porque a política entreguista ficou muito escancarada. Mas há falta de investimentos para dar sobrevida aos campos chamados de maduros da região de Macaé. 

O que vem sendo feito nesse sentido? 

Nada. A Petrobras tem carreado os recursos para a área de exploração e produção do pré-sal. A redução da atividade na região causa transtorno social grande. Temos não apenas a questão dos royalties que ajudam o desenvolvimento das cidades, mas também a geração de emprego. O esvaziamento de investimentos aumenta a situação de pobreza que a região de Macaé, Campos e o entorno passam a sofrer. 

Há números sobre esse impacto em relação aos desempregados na região? 

O desemprego direto atinge em torno de 40 mil pessoas. No setor privado que presta serviços para a Petrobras em todo o Brasil, a perda está na ordem de 150 mil empregos. Se extrapolarmos para outros segmentos com algum tipo de ligação com a empresa, a desaceleração pode ter provocado 700 mil desempregos. 

Há razões técnicas para não se retomar esses investimentos? 

Não existem razões técnicas, existem razões políticas. Apenas no ano passado, a Petrobras destinou para os bancos R$ 137 bilhões a fim de pagar dívidas e amortizar juros. Se ela investisse entre 10% e 20% desse dinheiro na Bacia de Campos, geraria um impacto bastante positivo na geração de empregos na nossa região. Lamentavelmente, essa não é a prioridade. 

É possível calcular, no estado do Rio, os resultados do desmonte da indústria naval? 

O impacto é devastador, estamos com nossos estaleiros praticamente vivendo de reparos que não necessitam de muita mão de obra, entre 400 e 500 pessoas. Estamos falando de estaleiros que já empregaram 10 mil pessoas para construção de uma plataforma. O setor de óleo e gás já responde por 40% da arrecadação do Rio de Janeiro. Quando vemos o estado hoje nessa penúria financeira, a gente afirma que se não houver uma recuperação do setor no estado, dificilmente o Rio de Janeiro sairá dessa crise.