Desinvestimento e vendas da Petrobras provocam milhares de desempregos no RN
Estratégia da empresa de sair da região Nordeste com a venda de campos produtivos e lucrativos já causou a demissão de quase 1.320 trabalhadores só este ano, no Rio Grande do Norte
Publicado: 20 Julho, 2020 - 14h39 | Última modificação: 20 Julho, 2020 - 14h52
Escrito por: Rosely Rocha
A decisão da atual direção da Petrobras em manter suas atividades somente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo tem provocado a demissão de milhares de trabalhadores e trabalhadoras nos demais estados em que estatal atua, provocando prejuízos às economias locais e a perda de patrimônio público.
Somente no estado do Rio Grande do Norte, de janeiro até julho, já foram demitidos 1.320 pessoas com as chamadas hibernações (suspensão do funcionamento) das unidades da Petrobras.
A venda de campos rentáveis e produtivos também foi motivo do fechamento de centenas de postos de trabalho. O Polo de Riacho da Forquilha, por exemplo, teve um lucro em 2016 de R$ 144 milhões. Ainda assim a empresa compradora diminuiu o quadro de funcionários de 750 para 400.
O diretor licenciado do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Norte (Sindipetro/RN), Pedro Lúcio Góis e Silva, acredita que a principal causa da alta taxa de desemprego no estado é o desinvestimento da Petrobras.
“Até 2015 a Petrobras investia anualmente R$ 1, 5 bilhão para fazer novos poços, na manutenção de campos, para descobrir novas reservas e outros projetos técnicos. Hoje, os investimentos anuais estão entre R$ 500 e R$ 600 milhões. Com isso caiu também o número de empregos. Sem investimento não há emprego”, diz Pedro Lúcio.
Os investimentos massivos da empresa durante os governos de Lula e Dilma Rousseff chegaram a gerar 13 mil novos empregos terceirizados, em 2012. Hoje, a Petrobras mantém apenas 4.700 terceirizados e 1.300 concursados.
“A substituição da Petrobras, com ampla capacidade de investimento, por empresas pequenas com menor capacidade de investimento, gera menos postos de trabalho”, afirma Pedro Lúcio, que atua na base de Mossoró.
O petroleiro conta ainda que os trabalhadores concursados também estão sofrendo pressões e vivem com medo de perder seus empregos. Muitos foram transferidos para outras unidades, enquanto outros estão sendo praticamente obrigados a se aposentar.
“A gente tem o exemplo da Fábrica de Fertilizantes, a Fafen Araucária, no Paraná, que foi fechada e a Petrobras demitiu 450 concursados. Isto gera receio em quem ainda está trabalhando”, afirma.
Vendas de campos
Desde que iniciou sua política de desinvestimento, a Petrobras vendeu para empresas brasileiras de menor porte o campo Riacho da Forquilha, com produção de 8 mil barris diários de petróleo e o de Macaú, com produção diária de 6 mil barris.
No início deste mês a Petrobrás anunciou a venda dos polos Ponta de Mel e Redonda, ambos no município de Areia Branca, por US$ 7,2 milhões, em 18 prestações para a Central Resources.
A estatal ainda colocou à venda o campo de Fazenda Belém, com produção de 2 mil barris/dia e o Polo Mar do Rio Grande do Norte com 6 mil barris/dia. Além das vendas dos campos de Ubarana, Cioba, Oeste de Ubarana e Agulha, em águas rasas do offshore potiguar.
Para o dirigente do Sindipetro/RN, essas vendas e os desinvestimentos da Petrobras impactam negativamente na produção de petróleo do estado. Segundo ele, houve uma queda na produção de petróleo no Rio Grande do Norte, de cerca de 40%.
“De 2007 a 2016 a produção estava estabilizada entre 57 mil e 60 mil barris por dia. Hoje ela caiu para 35 mil barris/dia”, afirma o petroleiro da base de Mossoró.