Desmonte: Petrobras vende 14 campos de petróleo e gás na BA, no Polo Recôncavo
Os campos, denominados Polo Recôncavo, foram vendidos, pelo valor de US$ 250 milhões, à empresa Ouro Preto Energia Onshore S.A
Publicado: 18 Dezembro, 2020 - 16h42
Escrito por: Carol de Athayde - Sindipetro Bahia
Quatorze campos terrestres de exploração e produção de petróleo, localizados no estado da Bahia, foram vendidos pela Petrobras. A estatal anunciou a assinatura do contrato no início da noite da quinta-feira (17).
Os campos, denominados Polo Recôncavo, foram vendidos, pelo valor de US$ 250 milhões, à empresa Ouro Preto Energia Onshore S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum Óleo e Gás S.A, de capital argentino.
O Polo, que de janeiro a novembro de 2020 teve uma produção média de cerca de 2.145 barris de óleo por dia (bpd) e 465 mil m³/dia de gás natural, compreende os campos terrestres de Aratu, Ilha de Bimbarra, Mapele, Massui, Candeias, Cexis, Socorro, Dom João, Dom João Mar, Pariri, Socorro Extensão, São Domingos, Cambacica e Guanambi.
A direção do Sindipetro Bahia repudia mais essa “ação equivocada da atual gestão da Petrobrás” e alerta para as graves consequências para os municípios de São Francisco do Conde e Candeias, que virão em curto e médio prazo.
“De imediato haverá demissões, pois os contratos dos trabalhadores terceirizados – cerca de 250 - serão rescindidos. É uma incógnita se serão (e quantos serão) recontratados ou não pela nova empresa e em que termos se dará esse contrato. A experiência nos mostra que as empresas privadas da área de petróleo tendem a contratar com salários mais baixos e restrição de direitos, comparado com a Petrobrás. Isso vai impactar não só a vida desses trabalhadores, mas também o comércio local, pois haverá menos dinheiro circulando. Por outro lado, os trabalhadores concursados devem aderir ao Plano de Demissão Voluntária da Companhia ou optarem pela transferência para outros estados”, explica o Coordenador Geral do Sindipetro Bahia, Jairo Batista.
Outras consequências negativas serão a perda na arrecadação dos royalties, ISS e ICMS, a redução da capacidade de investimento e de compra de bens e serviços. “Uma empresa nova, que ninguém conhece, que é privada, que só visa o lucro, quer garantir o retorno imediato dos investimentos feitos. É realmente uma lógica empresarial, que prejudica o estado, beneficiando apenas o capital”, afirma o Diretor de Comunicação do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa.
Costa ressalta que “apesar de antigos, os campos de petróleo que foram vendidos, são lucrativos, rentáveis e estão longe de dar prejuízo à Petrobrás. Muito pelo contrário. As atividades de produção e exploração de petróleo e gás na Bahia ainda são um grande negócio. Um negócio de mais de R$ 2 bilhões. A Petrobras é a maior empresa da Bahia e a venda desses campos é mais um passo dado pelo governo Bolsonaro para concretizar a saída dessa grande e importante Companhia da Bahia”
O CEO da 3R, Ricardo Savini, concorda que esse realmente é um grande negócio e, em entrevista à imprensa, comemora a aquisição dos campos de petróleo. “O ativo apresenta grande potencial de aumento no fator de recuperação e de incremento de reservas de óleo e gás”, disse Savini.
Poço Candeias 1
Entre os campos que foram vendidos está o de Candeias, onde está localizado o Poço Candeias 1, primeiro poço de exploração comercial de petróleo do Brasil que entrou em atividade em 14 de dezembro de 1941, e, hoje, após 79 anos, ainda está ativo, produzindo.
A exploração do poço foi o pontapé inicial para a criação da Petrobrás com as atribuições de pesquisa, exploração, refino, transporte e sistema de dutos, empresa que chegou a ser, no governo Lula, a quarta maior do mundo em valor de mercado, e hoje, vem sendo desmontada e vendida pelo governo Bolsonaro. Um crime e uma afronta à soberania nacional.
Muito foi feito pelo Sindipetro Bahia e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) para evitar que a Petrobrás, patrimônio do povo brasileiro, fosse privatizada. Foram realizadas dezenas de mobilizações, audiências públicas, reuniões com prefeitos, senadores, deputados estaduais e federais, vereadores e o governo da Bahia, alertando e mostrando os prejuízos para o estado e municípios com a saída da Petrobras da Bahia. Também foram realizadas greves, uma das quais, em 2020, durou 20 dias. As entidades sindicais contrataram ainda escritórios de advocacia para judicializar a questão e impedir a venda dos ativos. Todas essas ações fizeram com que as vendas dessas unidades fossem adiadas, mas devido à atual conjuntura política do país, o Sistema Petrobrás está sendo privatizado, aos pedaços.