Escrito por: Redação RBA
Em vídeo da reunião ministerial, Paulo Guedes diz que o governo perderia dinheiro salvando ‘empresas pequenininhas’
Salvar as pequenas empresas em meio à crise econômica agravada pela pandemia do novo coronavírus, não é jogar dinheiro fora, como sugeriu o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao contrário, são os pequenos e médios empreendimentos que empregam a maior parcela dos trabalhadores no Brasil e são responsáveis pelo giro econômico. E que podem ainda reorganizar a lógica de produção no pós-pandemia. A avaliação é do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior.
Em sua coluna na Rádio Brasil Atual, o especialista contesta a justificativa do ministro para o aporte de recursos públicos apenas nas grandes companhias. Durante reunião ministerial do dia 22 de abril, que teve o vídeo revelado na sexta (22), Guedes disse que o governo “perderia dinheiro salvando empresas pequenininhas”.
A fala também foi criticada pela Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite) e a Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo (Afresp). Em nota, as entidades chamaram a declaração de “afronta” e de “despreparo do governo para lidar com as questões emergenciais”.
Cenário previsto pela OIT
Com base em dados da Receita Federal, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que 54% dos empregos formais no país são criados a partir dos pequenos e médios empreendimentos. Ao todo, o setor representa 99% do total de empresas no Brasil. Sem investimentos públicos e na falta de capital de giro em meio à atual crise, no entanto, será um dos mais prejudicados no cenário previsto pelo Dieese.
A Organização Mundial do Trabalho (OIT) já divulgou que provavelmente 195 milhões de trabalhadores ficarão sem emprego no segundo semestre de 2020. Sendo que, desse total, apenas um terço conta com a proteção social necessária para continuar prosseguindo e ter sobrevivência econômica.
E, de acordo com Fausto, mesmo as mudanças tecnológicas, que eram previstas apenas para até 10 anos, foram antecipadas e “empurradas sobre os trabalhadores”. “É inevitável que aumente o desemprego. E a gente vai ter que trabalhar outras lógicas”, destaca o diretor técnico do Dieese.
Outra lógica: a economia solidária
“O que a gente tende a ver são alternativas surgindo. Eu acho que não só a cooperativa enquanto lógica de produção, mas a economia solidária como um todo. Ela certamente pode e deve ganhar espaço. E ganhar espaço porque a lógica da solidariedade é algo que a gente está assistindo no nosso país. A economia solidária não é uma coisa nova. É algo que já existe há muito tempo no Brasil. A lógica de produção solidária, a lógica de produção cooperada, eles tendem a ser elementos importantes nesse enfrentamento, inclusive na alteração da lógica de produção”, defende.
Fausto destaca que boa parte dos pequenos e médios empreendimentos já atuam por meio da economia solidária, em que o trabalhador participa da gestão. “Quando a gente fala na necessidade de um olhar para essas empresas, não é defender o empresário. É defender um conjunto de trabalhadores que, até por conta de um chamamento ao empreendedorismo, veio trocando a condição de assalariado para trabalhador por conta própria em várias formas”, ressalta.