Escrito por: Rosely Rocha
Somente em agosto foram devastados 638 quilômetros quadrados no Pará, o que corresponde a 40% de todo o desmate na Amazônia Legal, segundo dados do Imazon. É a maior área desmantada para o mês em 10 anos
O desmonte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o afrouxamento nas leis e fiscalizações das ações de garimpeiros, madeireiros e do agronegócio na região Amazônica têm levado à destruição da floresta e ao aumento da violência e de mortes.
Nos dois últimos dias duas instituições, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alertaram para o desmatamento na região e o aumento no número de queimadas. Ambos os institutos divulgaram que tanto o desmatamento quanto as queimadas foram os maiores dos últimos dez anos.
O estado do Pará é o que mais tem sofrido com a devastação da floresta Amazônica nos últimos anos. Somente em agosto foi registrado o maior desmatamento para o mês em 10 anos, com 638 quilômetros quadrados de florestas destruídos. Em comparação com outros estados que compõem a região Amazônica, o Pará teve o maior índice de mata derrubada, com 40% do total.
No estado do Amazonas, o desmatamento atingiu 412 quilômetros quadrados, ou 26% do total. Em terceiro lugar vem o Acre, com 236 quilômetros quadrados de área destruída. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgados na quarta-feira (31/08).
Rico em minérios, bauxita, ferro, manganês, calcário, ouro e estanho, o estado do Pará tem sido vítima cada vez maior de garimpos ilegais, corte de árvores e invasão de terras indígenas por criminosos que tentam expulsar os povos originários de suas terras.
Nos últimos dias 27 e 28 de agosto, por exemplo, a Polícia Federal, em conjunto com outros órgãos de segurança, retirou 53 garimpeiros da Terra Indígena Baú, na área do município de Altamira, sudoeste do Pará. Lideranças indígenas dizem que os garimpeiros foram detidos por estarem explorando ilegalmente a região.
O estudo da Imazon “Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas”, mostrou que no ranking de todos os tipos de áreas protegidas da Amazônia a que sofreu a quarta maior pressão do desmatamento foi a Apyterewa, no Pará, atrás apenas das APAs Triunfo do Xingu e do Tapajós, no Pará, e da Resex Chico Mendes, no Acre.
Violência no campo
O estudo do monitor socioambiental Sinal de Fumaça, a partir de dados da Comissão Pastoral da Terra, aponta que, em três anos, o governo de Jair Bolsonaro (PL) computou 5.725 conflitos no campo, o maior número de todos os governos em toda a série histórica, iniciada em 1985. No período, foram registradas 2.329 ocorrências de conflitos por terra na Amazônia Legal, ou uma média de 2 por dia.
Ainda de acordo com o monitor ambiental, entre 2020 e 2021, 28 assassinatos decorrentes de conflitos por terras aconteceram na Amazônia Legal. A categoria que mais sofre violência são os povos indígenas (26%), seguidos por quilombolas e posseiros (17% cada) e sem-terra (14%). Os maiores responsáveis por conflitos são fazendeiros (21%), empresários (21%) e o próprio Estado em suas esferas municipal, estadual e federal (17%).
Reflexos da destruição
A destruição da região Amazônica se reflete nas condições climáticas, excesso de chuva e seca que já estamos sentindo e que será ainda mais prejudicial para as novas gerações, diz o secretário do Meio Ambiente da CUT Nacional, Daniel Gaio.
“A Amazônia é um território com um bioma importante para o Brasil e o mundo, mas vem sendo atacado pelo atual governo e por milícias interessadas em conflitos por suas riquezas minerais. A Amazônia sempre foi um local de muita criminalidade e violência, mas este governo incentiva a violência e abre espaço para uma série de organizações criminosas atuarem”, afirma Daniel Gaio.
O dirigente ainda alerta para o avanço de parte do agronegócio e de projetos de linhas de transmissão de energia e ferrovias, que cortam a Amazônia, sem ouvir a população local, trazendo uma série de conflitos com indígenas, quilombolas, pescadores e famílias tradicionais e mais desmatamentos.
“O Pará é o estado que mais velozmente tem subtraído a floresta; e é onde o Ministério do Meio Ambiente, sob o comando do ex-ministro Ricardo Salles, montou uma subsede ilegal para que passasse a boiada” diz Gaio se referindo ao que Salles disse durante uma reunião ministerial com Bolsonaro, em que sugeri “passar a boiada” no meio ambiental, já que o Brasil e o mundo estariam mais preocupados com o avanço da covid19.
Dados da destruição da Amazônia
Nesta quinta-feira (1º) o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgou que foram 33.116 focos de queimadas em agosto, um recorde de 12 anos para o mês de agosto. Anteriormente o maior número de queimadas havia sido registrado em 2010, com 45.018 focos.
Segundo dados do Imazon, a área desmatada em toda a Amazônia cresceu 7% em agosto de 2022 em relação ao mesmo mês do ano anterior. No acumulado desde janeiro deste ano o aumento na destruição da floresta é de 48%. Somente em agosto de 2021 foram desmatados 1.606 quilômetros quadrados de floresta, 7% a mais do que no mesmo mês do ano anterior, e correspondente a cinco vezes a área de Belo Horizonte.
Desde o início do ano, o desmatamento atingiu 7.715 quilômetros quadrados da região amazônica, 48% a mais do que no mesmo período no ano passado, segundo o Imazon.
Os meses de março, abril, maio e julho também tiveram as maiores áreas de floresta desmatada nos últimos 10 anos.