Diálogos revelam que Moro mandou Lava Jato não apreender celulares de Cunha
Instrução foi dada na véspera da prisão do ex-presidente da Câmara e destoa do padrão da Lava Jato, que teve nos celulares uma forte fonte de investigações. É o que revelam novos vazamentos do 'Intercept'
Publicado: 13 Agosto, 2019 - 11h58
Escrito por: Redação CUT
Mensagens divulgadas nesta segunda-feira (12), pelo site Buzzfeed Brasil, em parceria com o The Intercept Brasil, mostram que um dia antes da prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o então juiz Sérgio Moro, o mesmo que apreendeu até o tablet do neto do ex-presidente Lula, convenceu o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Força Tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, a não apreender celulares de Cunha.
De acordo com a reportagem, Deltan avisou a Moro pelo celular que os procuradores consideravam importante a apreensão dos celulares de Cunha e pretendiam fazer o pedido formal para isso fosse parte da operação da Polícia Federal (PF) planejada para o dia seguinte.
“Acho que não é uma boa”, respondeu Moro. Algumas horas depois, o agora ministro da Justiça de Bolsonaro se reuniu com Dallagnol. Quando voltou para o MP, o procurador mandou outra mensagem para Moro, onde dizia:
"[Conversamos] aqui e entendemos que não é caso de pedir os celulares, pelos riscos, com base em suas ponderações".
Moro respondeu: "Ok tb".
A reportagem do Buzzfeed nota que a decisão fugiu do padrão da Lava Jato, já que diversas anotações e mensagens que embasam as investigações saíram dos celulares de executivos de empreiteiras. Eduardo Cunha foi preso no dia seguinte, 19 de outubro, em Brasília. O ex-presidente da Câmara chegou a disparar mensagens para vários políticos quando percebeu que seria preso e questionou os agentes da PF se deveria entregar a eles seus telefones.
A decisão de não apreender os celulares de Cunha, que já não tinha mais foro privilegiado desde setembro de 2016, destoa do padrão da Lava Jato. Saíram dos celulares de executivos de empreiteiras, por exemplo, muitas anotações e mensagens que embasaram investigações, diz a reportagem.
Confira o conteúdo das mensagens trocados no dia 18 de outubro de 2016.
Um dia antes da prisão de Cunha, Deltan Dallagnol, mandou mensagens ao então juiz Sérgio Moro:
11:45:25 Deltan: Um assunto mais urgente é sobre a prisão
11:45:45 Deltan: Falaremos disso amanhã tarde
11:46:44 Deltan: Mas amanhã não é a prisão?
11:46:51 Deltan: Creio que PF está programando
11:46:59 Deltan: Queríamos falar sobre apreensão dos celulares
11:47:03 [Moro]: Parece que sim.
11:47:07 Deltan: Consideramos importante
11:47:13 Deltan: Teríamos que pedir hoje
Após ouvir as ponderações do procurador, Moro responde o seguinte:
11:47:15 [Moro:] Acho que não é uma boa
Apesar da resposta, Deltan insiste e tenta agendar uma reunião com Moro para tratar do assunto:
11:47:27 Deltan: Mas gostaríamos de explicar razões
11:47:56 Deltan: Há alguns outros assuntos, mas este é o mais urgente
11:48:02 [Moro]: bem eu fico aqui até 1230, depois volto às 1400.
11:48:49 Deltan: Ok. Tentarei ir antes de 12.30, mas confirmo em seguida de consigo sair até 12h para chegar até 12.15
12:05:02 Deltan: Indo
Não há, nos diálogos, registros do que foi discutido na reunião presencial entre eles. Porém, pouco depois, às 14h16, Deltan envia nova mensagem a Moro dizendo que, após conversar com procuradores e ao levar em consideração o que foi dito pelo então juiz, a força-tarefa desistiu de pedir a apreensão dos celulares.
14:16:39 Deltan: Cnversamos [Conversamos] aqui e entendemos que não é caso de pedir os celulares, pelos riscos, com base em suas ponderações
E Moro respondeu:
14:21:29 [Moro]: Ok tb
No dia seguinte às conversas, em 19 de outubro, Eduardo Cunha foi preso em Brasília.