Dilma critica série Netflix: 'mecanismo de assassinar reputações'
Série "baseada em fatos reais" sobre a Operação Lava Jato traz distorções e manipulações que não foram tentadas sequer pela mídia tradicional. Usuários boicotam e cancelas assinaturas
Publicado: 26 Março, 2018 - 11h03 | Última modificação: 26 Março, 2018 - 15h56
Escrito por: Redação RBA
Recém-lançada pela Netflix, a série O Mecanismo, dirigida por José Padilha, vem sendo alvo de críticas devido a distorções e manipulações de diálogos e situações que têm como objetivo detratar os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Para a ex-presidenta, a série que retrata a operação Lava Jato traz "uma visão distorcida da história, com tons típicos do fascismo latente no país." Segundo ela, Padilha não reproduz "fake news" – as ditas notícias falsas –, ele as cria.
"Numa série 'baseada em fatos reais', o cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar a mim e ao presidente Lula", diz Dilma, em nota publicada nas redes sociais e em seu site neste domingo (25).
Em uma das cenas que exemplifica as manipulação executadas pela série, frases do célebre diálogo entre o senador Romero Jucá (MDB) e o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, sobre a necessidade de derrubar Dilma para 'estancar a sangria' da Lava Jato, num "grande acordo, com o Supremo, com tudo", foi parar na boca do personagem que represente Lula na trama.
"Reparem. Na vida real, Lula jamais deu tais declarações. O senador Romero Jucá, líder do golpe, afirmou isso numa conversa com o delator Sérgio Machado, que o gravou e a quem esclarecia sobre o caráter estratégico do meu impeachment", rebateu a petista.
"Na ocasião, Jucá e Machado debatiam como paralisar as investigações da Lava Jato contra membros do PMDB e do governo Temer, o que seria obtido pela chegada dos golpistas ao poder, a partir do meu afastamento da Presidência da República, em 2016", explica Dilma.
Outra manipulação explicitada por Dilma é que o caso Banestado – envolvendo o desvio de recursos do banco estatal paranaense, que tem o doleiro Alberto Yousseff como um dos pivôs – é retratado como tendo ocorrido em 2003, primeiro ano do governo petista, quando, na verdade, ocorreu em 1996, durante o governo FHC. Ainda em 2000, o banco seria privatizado e vendido ao Itaú.
"Sobre mim, o diretor de cinema usa as mesmas tintas de parte da imprensa brasileira para praticar assassinato de reputações, vertendo mentiras na série de TV, algumas que nem mesmo parte da grande mídia nacional teve coragem de insinuar", acusa a ex-presidenta.
Boboca
Em entrevista ao site Observatório do Cinema, o cineasta José Padilha, que ficou conhecido pela sequência Tropa de Elite, classifica a polêmica com relação a manipulação da frase de Jucá na boca de Lula como "boboca", e diz que o fato de o senador ter usado a expressão "estancar a sangria" não a impediria o seu uso livre, ainda que com a completa inversão de sentido. "Escritores continuam livres para fazer uso dela."
À Folha de S.Paulo, Padilha se justifica novamente e diz que na abertura de cada episódio "está escrito que os fatos são dramatizados", e atacou injustificadamente a ex-presidenta, alegando que "se a Dilma soubesse ler", a polêmica sobre as grosseiras manipulações não teria ocorrido.
Boicote
Devido às tentativas de enganação e manipulação política, usuários têm manifestado críticas não só a Padilha, mas também à Netflix, muitos inclusive anunciando que não assinam mais o produto. Um dos que anunciou o boicote à Netfix foi o crítico de cinema Pablo Villaça. "Minha consciência é meu guia; pode não fazer diferença pra Netflix, mas faz PRA MIM", afirmou ele pelo Twitter.
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