Dilma e Amorim denunciam escalada de milícias extremistas à mídia internacional
Segundo eles, grupo que deu o golpe não tem candidato e é conduzido por milícias de extrema-direita que adotam o chicote como forma de diálogo político
Publicado: 26 Março, 2018 - 18h48
Escrito por: Redação RBA
A ex-presidenta Dilma Rousseff e o ex-chanceler Celso Amorim denunciaram nesta segunda-feira (26) a jornalistas da imprensa internacional a escalada de violência e o crescimento do fascismo no Brasil. Dilma destacou os sucessivos atos de agressão contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que percorre o sul do país. Segundo ela, os agressores compõem "verdadeiras milicias", bandos armados de extrema-direita, e são resultado do recrudescimento do golpe que a retirou da presidência em 2016.
Dilma afirmou que "os golpistas não têm candidato, mas a extrema-direita tem", fazendo alusão ao deputado Jair Bolsonaro. Segundo ela, são esses grupos radicais que estão dando o tom da política no campo conservador, com o ódio disseminado.
"A explicação para isso é que, quando se planta o ódio e a intolerância, se colhe a violência. Aconteceu em todos os lugares do mundo, onde a extrema-direita apareceu", disse Dilma. Ela disse que, no Brasil, essa tendência autoritária é agravada pois se combina com um histórico escravocrata.
"Daí que uma senadora não tem vergonha de falar que alguém que pensa diferente tem que ser recebida com o relho", destacou. Para Dilma, o exemplo mais claro dessa conjugação entre tendências fascistas de hoje e o passado escravocrata é a utilização do chicote por esses grupos e milicias, que o utilizam para açoitar os que se posicionam diferente politicamente.
Dilma também denunciou a conivência e complacência das forças estaduais de segurança – do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina – e também do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Segunda ex-presidenta, todos foram devidamente avisados sobre os episódios de crescente violência, que não tinham como alvo apenas os políticos petistas, mas toda a população que em cada cidade recebia a caravana ao milhares.
A conivência se repete agora no Paraná, onde parte da caravana não conseguiu chegar ao município de Francisco Beltrão porque um reduzido grupo de milicianos bloqueou a estrada, sob olhar passivo dos poucos policiais presentes.
Além do uso do relho e do chicote, Dilma relatou sucessivas agressões com paus, pedras e ovos, além de bloqueios realizados com o uso de tratores, caminhões e máquinas agrícolas durante a passagem da Caravana pelos estados do Sul. "Não conseguiram impedir a nossa caravana, mas cobraram um preço alto, que foi essa violência contra populares."
Além da crescente violência que representa "fase autoritária" do golpe – a ex-presidenta relacionou também com a intervenção militar no Rio de Janeiro e a execução de Marielle Franco, Dilma afirmou aos correspondentes internacionais que o Brasil também bloqueio da mídia, que não divulga adequadamente, com versões bastante "estranhas", sobre os episódios de agressão.
Amorim disse que a comunicação aos jornalistas estrangeiros servia para "alertar ao mundo para algo muito grave do que está acontecendo no Brasil". Ele frisou tratar-se de uma conjugação dos interesses do capital financeiro internacional com os resquícios de uma sociedade que viveu mais de 300 anos de escravidão.
Segundo o ex-ministro das Relações Exteriores durante os oito anos do governo Lula, o governo que subiu com a derrubada de Dilma não representa uma suposta "direita moderada", mas tem perto de si grupos de tendência fascista.
Amorim afirmou que os rumos que a política pode tomar no Brasil, dada a importância e dimensão do país, tem potencial de influir no cenário político de toda a América Latina e também do mundo. "Não estou dizendo que tudo isso foi pré-combinado – a perseguição a Lula, a intervenção, o assassinato de Marielle –, mas são várias tendências que conjugadamente querem reafirmar que o país tem de continuar sendo desigual, e quem combate isso tem que ser calado."
Ele alertou que a mídia internacional tem "enorme responsabilidade" para que "o mundo veja com quem está negociando", quando mantém tratativas comerciais e busca acordos com o atual governo brasileiro.