Escrito por: Andre Accarini
Enquanto o mundo enfrenta a pandemia do coronavírus, diretoria da Petrobras quer triplificar teto de bônus para executivos. “Dinheiro tinha ser usado em serviços à sociedade neste momento”, dizem petroleiros
Em meio a uma crise sem precedentes, provocada pela disseminação do coronavirus (Covid-19) em escala mundial, com milhões de trabalhadores correndo risco de redução da renda ou desemprego durante os longos períodos de quarentena, a direção da Petrobras quer aumentar seus próprios rendimentos.
A estatal anunciou um aumento no valor dos bônus de desempenho pagos a gerentes e diretores, que podem chegar a 13 vezes o já alto salário desses executivos. O documento que oficializa o “pedido de aumento” aos acionistas da petroleira foi protocolado no dia 20 de março e deve ser analisado em 22 de abril e prevê triplicar o que teto atual dos bônus para os executivos.
O valor a ser gasto com os executivos deverá chegar a mais de R$ 43 bilhões de reais, e tem como referência o período de abril de 2020 e março de 2021. A média salarial desses executivos é de R$ 120 mil. Com o bônus, a média a ser paga seria de R$ 1,5 milhão, por ano. Isso significa, na prática, mais que dobrar a renda mensal de cada um.
Para o Coordenador Geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, trata-se de “uma grande ação entre amigos”, feita pela alta cúpula da estatal, já que o lucro anunciado, de R$ 40 bilhões em 2019, foi fruto da venda dos ativos da empresa, como a Br Distribuidora.
“A gente questiona o propósito desses bônus. Eles dizem que se refere a metas, mas que metas são essas. São as metas de entregar a Petrobras? Não há mérito nenhum nisso”, diz Rangel.
Para o dirigente da FUP, mais absurdo ainda é a diretoria querer lucrar ainda mais, nesse momento tão grave de crise quando “o mundo todo se empenha e luta para resolver o problema da proliferação do coronavírus e suas consequências para a economia e os trabalhadores” .
Esses diretores deveriam ter vergonha de fazer o que estão fazendo- José Maria RangelO abismo salarial entre trabalhadores “de chão de fábrica” da Petrobras e a diretoria vai aumentar de forma exponencial, se o aumento for aprovado, mas, para além disso, Rangel aponta a questão da proteção aos trabalhadores, política que não vem sendo adotada de forma satisfatória para a categoria petroleira.
Segundo o sindicalista, a estatal, à revelia do acordo coletivo de trabalho, tem adotado jornadas preocupantes. “Tem trabalhador que fica sete dias confinado em um quarto de hotel e depois embarca para o local de trabalho onde ficará mais 21 dias, praticamente em confinamento”, conta Rangel.
O efeito desse tipo de jornada para o trabalhador atinge, principalmente, o ‘psicológico’, deixando esse trabalhador sem plenas condições de exercer suas funções, afirma o dirigente. “Coloca em risco não só o rendimento, mas a saúde e a segurança. E a Petrobras parece não está sem importando com isso”, completa o dirigente.
Ele alerta que se todas as previsões de especialistas estiverem corretas, os picos de contaminação devem acontecer em meados de abril e certamente chegará aos trabalhadores da Petrobras.
O também trabalhador petroleiro Roni Barbosa, secretário de Comunicação da CUT, aponta que os recursos que serão utilizados ‘para distribuir dinheiro’ aos diretores deveriam ser utilizados em segurança para os trabalhadores, para garantir o emprego e a renda no período que se aproxima, além de ser revertido em serviços par a sociedade.
É um descalabro esse aumento, um desprezo para com a equipe que em sua maioria não tem essa ‘benesse’.- Roni BarbosaE isso em momento em que há uma grande preocupação com os trabalhadores das unidades da Petrobras, trabalhadores que estão com medo, diz Roni. “Precisa ficar claro que é nesse momento que diretores tomam decisão como essa”.
O dirigente da CUT também avalia que a Petrobras deveria estar agora preocupada em baixar os preços para os consumidores, já que houve uma redução internacional e usar esses recursos (os R$ 40 bilhões de lucro obtido coma venda de ativos) para comprar mais testes de coronavirus para a população brasileira, bem como produzir álcool gel em seus laboratórios e prestar serviços a quem precisa e não usar o dinheiro para distribuir àqueles que já têm altos rendimentos.
Isso é “saquear o patrimônio público”, completa Roni Barbosa.
José Maria Rangel, coordenador da FUP, alerta que todos os esforços da federação serão feitos para barrar o aumento dos diretores. “É uma afronta quando você vê o crescimento da pobreza e milhões de desempregados, o mundo enfrentando o coronavirus com medo do que está por vir e os gestores colocam uma proposta como essa”, diz Rangel
Por isso, ele completa, a Petrobras acaba provocando a mobilização de trabalhadores ao não tomar nenhuma medida efetiva para proteger os trabalhadores e beneficiar seus executivos.
“Temos falado sobre uma greve sanitária na Petrobras, mas agora dizemos que a própria Petrobras está convocando uma greve porque vai chegar um momento em que ninguém vai querer mais ir trabalhar em áreas operacionais, para proteger a própria vida.”