Diretores da Eletrobras podem receber até R$1 milhão com PDV criado só para eles

O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) denuncia que a direção da Eletrobras mais uma vez age para beneficiar a cúpula da empresa com altos valores. Desta vez a direção decidiu implantar um Plano de Demissão Voluntária (PDV), exclusivo para quem exerce a função de diretor e/ou presidente nas holding da Eletrobras (Chesf, Furnas, Eletronorte e CGTEletrosul) com valores e benefícios desnecessários.

Os diretores terão direito a até nove salários que podem chegar a R$ 1 milhão; multa de 40% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para fins rescisórios como diretor; acréscimo de 100% sobre o aviso prévio; plano de saúde de R$ 130 mil; além de programa de recolocação no mercado (outplacement) por até um ano. O pacote de bondades é válido para presidentes e diretores que estejam na companhia desde abril do ano passado.

Segundo o engenheiro da Eletrobras, Ikaro Chaves, a diferença é que esses executivos de cargos administrativos não teriam necessidade de receber um incentivo para deixar a empresa, já que eles têm mandato.

“É diferente de um trabalhador concursado que espera passar a sua vida laboral na empresa. Quem tem esse tipo de cargo sabe que terá no máximo três anos de mandato e, inclusive, pode sair antes. Além disso, eles ganham uma série de benefícios e altos salários. Ou seja, não havia necessidade da empresa oferecer benesses após a saída deles”, explica

O engenheiro de Furnas, Felipe Araújo concorda que pagamentos de benefícios a mais aos administradores são desnecessários.

“É um absurdo. Esses diretores podem ser demitidos sem qualquer justificativa por que não são funcionários de carreira, eles não têm direitos. Em qualquer empresa privada eles deixariam seus cargos e ponto final. A empresa não teria de pagar nada além”, critica Felipe.

Já Ikaro Chaves, ressalta, que por outro lado, os trabalhadores e trabalhadoras poderão reivindicar as mesmas benesses quando a empresa abrir um novo Plano de Demissão Voluntária, que está nos planos da Eletrobras, embora não se possa saber se a empresa adotará as mesmas cláusulas.

Diretores tinham como missão privatizar a Eletrobras

Em nota, o Coletivo Nacional dos Eletricitários diz que “ esse PDV milionário dos diretores é mais uma benesse dessa ação entre amigos, é um prêmio de recompensa pela privatização da Eletrobras. Porque convenhamos que os resultados da empresa pioraram depois da privatização, fora o escândalo do empréstimo compulsório e a perda de todos os lotes do último leilão de transmissão da ANEEL. É uma gestão pífia que pratica “auto meritocracia às avessas”.

Araújo concorda que os diretores foram contratados com a missão de ajudar na privatização da Eletrobras.

“Hoje quem ocupa altos cargos em Furnas [subsidiária da Eletrobras], não têm vínculos com a empresa e assumiram a direção apenas para ajudar no processo de privatização da companhia. Por isso que, provavelmente, esse PDV é para agradar quem vai deixar a empresa após uma reestruturação que deve mexer com os apadrinhados políticos”, avalia.

Depois de anos tendo lucros bilionários, a Eletrobras apresentou em seu último balanço prejuízos de R$ 60 mil e ainda perdeu leilões de energia considerados importantes que gerariam dividendos para a empresa.

“Isso nunca aconteceu quando a empresa era estatal. Não faz sentido a Eletrobras ter redução drástica em seus lucros, perder leilões e seus dirigentes ganharem benesses que não têm direito”, conclui Felipe Araújo.

Salários dos diretores mais do que dobraram

Segundo o CNE logo após a privatização da Eletrobras, os salários dos altos cargos foram reajustados em até quase 20 vezes o seu valor.  Este é caso de um conselheiro de administração que ganhava R$ 5.400,00 passou a ganhar R$ 200.000,00. Já o presidente que ganhava R$ 52.000,00 passou a ganhar R$ 300.000,00 e os outros diretores que ganhavam R$ 48.000,00 passaram a ganhar R$ 110.000,00.

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