Discurso de ódio de Bolsonaro incentiva violência contra mulheres
Levantamento revela que, durante o período eleitoral, mais de 70% dos casos de ameaças físicas e até de estupro foram relatados por mulheres vítimas de seguidores de Bolsonaro
Publicado: 26 Outubro, 2018 - 13h01 | Última modificação: 26 Outubro, 2018 - 16h41
Escrito por: Rosely Rocha, especial para Portal CUT
O número de mulheres atacadas, agredidas, xingadas e ameaçadas durante o período eleitoral por seguidores do candidato a Presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), é maior do que a violência praticada contra homens - hetero ou homossexuais.
Um breve levantamento feito pela reportagem do Portal CUT no Mapa da Violência revela que mais de 70% dos casos de ameaças físicas e até de estupro são relatados por mulheres. Nos casos denunciados nas redes sociais e nos jornais, as mulheres também são a maioria das vítimas.
E, nesta eleição, as jornalistas são os maiores alvos dos violentos adeptos de Bolsonaro, que até agora não fez nenhum pronunciamento condenando a violência. Ele disse apenas que “não controla o que seus eleitores fazem”.
Uma jornalista de Minas Gerais relatou em seu perfil do Facebook que andava a pé por uma rua quando um homem a puxou e começou a dar socos em suas costas ao mesmo tempo em que a atacava com xingamentos racistas e políticos, como “macaca petista” e “preta suja”.
Em Pernambuco, uma jornalista de 40 anos foi ameaçada de estupro e de morte no dia 7 de outubro, depois que saiu da zona eleitoral, com o crachá do jornal onde trabalha. Dois homens com a camiseta de Bolsonaro colocaram uma faca em seu pescoço aos gritos de “quando o comandante ganhar a eleição, a imprensa irá morrer”.
Outro seguidor de Bolsonaro ameaçou outra jornalista em uma rede social dizendo que iria amarrá-la a fios de alta tensão para ela ser reduzida a cinzas, como ele teria feito com outros petistas. A ameaça, que partiu de um homem que se dizia eletricista, nazista e fascista, foi uma resposta a uma postagem da jornalista em rede social.
O aumento das agressões não surpreende a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista. Segundo a dirigente, como parlamentar, ele já praticou várias violências contra as mulheres tirando seus direitos.
Ela lembra que o candidato do PSL votou contra a Lei do Feminicídio, a PEC das Domésticas e a Lei que autoriza o SUS a atender mulheres vítimas da violência sexual. Além disso, chegou a defender a diminuição do tempo de licença-maternidade e acha natural que a mulher ganhe menos do que o homem.
“Quando um parlamentar tira todas as leis de assistência e de combate à violência contra a mulher ele está deixando claro que a mulher ‘não existe’ como ser humano. Ela é só um objeto. É como se ele estivesse autorizando os homens a fazer tudo o que quiserem com esse objeto. É a banalização da violência”, diz Juneia.
Tirar todo o tipo de acolhimento do Estado para a vítima da violência é fazer com que ela volte a ser invisível, volte e permaneça no local da violência
Para o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Aldo Fornazieri, não há uma contradição no discurso de Bolsonaro e a ação dos seus seguidores.
Para ele, o ataque verbal de Bolsonaro à deputada Maria do Rosário (PT-RS) faz com que seus apoiadores considerem ‘normal’ atacar mulheres.
“Quando ele disse que não a estuprava porque ela não merecia, ele incentivou esse tipo de violência contra a mulher. Declarações machistas estimulam a violência sexual porque é isso que seus seguidores entendem. O machismo está diretamente ligado à violência contra a mulher”, explicou Fornazieri.
Para o psicanalista e professor da USP, Christian Dunker, quem não tem autoridade quer mostrar que tem o poder usando a força e a violência.
Segundo ele, ao defender justiça com as próprias mãos, Bolsonaro “manda a mensagem de que existe uma nova lei em que as pessoas com mais ‘poder’ podem estar acima dos mais fracos como homens X mulheres, ricos X pobres, brancos X negros”.
E mais, ao dizer que não tem controle sobre a violência praticada por seus seguidores e que a responsabilidade do ato é de quem praticou, na verdade Bolsonaro está defendendo a maldade, a opressão e a iniqüidade contra os mais fracos, analisa o psicanalista.
Bolsonaro dá um recado claro aos seus seguidores: eu me permito bater, humilhar. E os seguidores entendem: Eu posso, porque papai deixou
“É o exercício da hipocrisia, que diz que se você é feminista, eu posso ser machista, esquecendo que o feminismo defende o direito da mulher pela palavra, enquanto o machismo pleiteia a exclusão das mulheres pela força”.
Números da violência contra mulheres
Segundo o Mapa da Violência de 2015, ocorrem no país cinco espancamentos a cada dois minutos, 1 estupro a cada 11 minutos, 1 feminicídio a cada 90 minutos e 179 relatos de agressão por dia.
Também há 10 estupros coletivos por dia, sendo que em 30% deles, as vítimas são meninas de até 13 anos de idade.
“O povo brasileiro nunca foi pacífico e cordial como diziam e, é por isso que ameaçar metralhar petistas no Acre, a violência verbal contra gays, negros e mulheres só estimula os seguidores de Bolsonaro”, analisa o cientista político Aldo Fornazieri se referindo as manifestações públicas do candidato de extrema direita.
Os relatos de violência
Em Maringá (PR), uma mulher de 53 anos foi ferida em um ataque ao seu carro. Um jovem numa moto emparelhou com o veículo e tentou tirar à força a bandeira do PT que estava presa ao veículo.
Em São Paulo uma cozinheira relata ter sido agredida por policias e foi obrigada a ficar nua, numa delegacia até dizer “ele sim”, após pichar um #elenão.
Uma carioca foi perseguida na Linha Vermelha e teve o carro emparelhado por um homem que gritou ‘Bolsonaro’, porque a parte de trás do seu carro tinha adesivos escritos ‘Ele Não’.
Em Brasília, uma estudante e ativista foi xingada e agredida com dois socos por um seguidor de Jair Bolsonaro, além de dezenas de outros relatos de violência.