Escrito por: Marize Muniz
Trabalhador sentirá os efeitos negativos da queda do PIB mais rapidamente do que os setores mais ricos e protegidos da sociedade, alerta técnica do Dieese
A dupla Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentado como o homem certo para o desenvolvimento do Brasil, mais uma vez prova que nada sobe sobre o assunto. Na gestão da dupla, o Brasil entra pela segunda vez em recessão técnica.
O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços produzidos no país, caiu -0,1% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso significa que a economia perdeu o fôlego e apresentou resultado negativo em dois trimestres seguidos, explica Adriana Marcolino, técnica da subseção do Dieese da CUT Nacional. “Nesse cenário é muito difícil que o trimestre seguinte apresente resultado positivo”, acrescenta.
Na estão da dupla, o Brasil já havia entrado em recessão técnica nos dois primeiros trimestres de 2020, quando o PIB caiu 2,3% e, em seguida, 8,9%, na época impactado pela pandemia do novo coronavírus no Brasil.
O cenário não é nada favorável para os trabalhadores e trabalhadoras do país, que já amargam com as altas taxas de desemprego e informalidade, empregos sem nenhum direito garantido plela Consolidação das Leis do trabalho (CLT).- Adriana MarcolinoSe a queda da produção for prolongada e afetar vários setores econômicos, as condições de vida dos trabalhadores e trabalhadoras que já estão ruins, vão piorar, explica a técnica do Dieese. "O trabalhador sentirá os efeitos negativos da queda do PIB mais rapidamente do que os setores mais ricos e protegidos da sociedade”, pontua.
“Quando a recessão efetivamente chegar, ou seja, quando a economia registrar três trimestres negativos, os trabalhadores e as trabalhadoras sofrerão ainda mais a crise na pele, pois economia mais fraca significa mais desemprego e mais queda da renda média", acrescenta a técnica do Dieese.
Leia mais: Brasil tem 13,5 milhões de desempregados e 38 milhões de trabalhadores informais.
De acordo com Adriana, ao contrário do que pensam Bolsonaro e Guedes, a economia não cresce com aperto financeiro, corte de gastos sociais, muito menos arrocho salarial.
"A economia só cresce com investimentos pesados em áreas como infraestrutura, políticas públicas e geração de empregos protegidos, com direitos, que alavando a economia e ampliando o mercado consumidor nacional", diz.
Ou seja, o alerta está dado. O resultado do PIB deste ano coloca em risco o crescimento da economia brasileira também em 2022. De acordo com o IBGE, o PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
Um dos fatores que contribuíram para a queda do PIB foi a agropecuária que encolheu 8% em relação ao segundo trimestre e 9% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
Esse resultado, diz o IBGE, é consequência do desempenho de alguns produtos da lavoura que possuem safra relevante no terceiro trimestre e apresentaram recuo na estimativa de produção anual e perda de produtividade: café (-22,4%), algodão (-17,5%), milho (-16,0%), laranja (-13,8%) e cana-de-açúcar (-7,6%). Além disso, as estimativas para pecuária também apontaram um fraco desempenho dessa atividade no trimestre analisado.
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explica que a colheita da soja, por ser muito mais concentrada nos dois primeiros trimestres, impacta no resultado.
“Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos”, relaciona Palis.
Por outro lado, o setor de serviços registou alta, que representam 70% do PIB - cresceu 1,1% na comparação com o segundo trimestre.
“Com o avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços.”, comenta Palis.
Confira mais dados no site do IBGE.