Escrito por: CUT - RS

Educadores do RS protestam diante do Piratini contra a volta às aulas presenciais

Manifestação teve início na Praça da Matriz com um cortejo fúnebre para alertar a sociedade para o risco de contágio em meio à pandemia do coronavírus

Reprodução

Em ato simbólico realizado pelo CPERS Sindicato, na manhã desta quinta-feira (15), dia do professor e da professora, em frente ao Palácio Piratini, no centro de Porto Alegre, a CUT-RS reforçou a luta dos educadores contra a retomada das aulas presenciais na rede pública de ensino, marcada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) para a próxima terça-feira (20).

A data deveria ser de comemoração, mas foi marcada por protestos também no interior do Estado. A categoria foi às ruas denunciar a postura genocida do governo Leite, a exemplo do governo Bolsonaro, uma vez que impõe a volta às aulas presenciais sem oferecer as condições sanitárias necessárias para um retorno seguro.

Termo de Responsabilidade 

A manifestação teve início na Praça da Matriz com um cortejo fúnebre para alertar a sociedade para o risco de contágio em meio à pandemia do coronavírus. Em seguida, um “Termo de Responsabilidade” foi entregue a representantes da Casa Civil e do gabinete do governador, solicitando que Eduardo Leite se responsabilize pelas vidas dos educadores, estudantes e comunidade escolar.

“Entregamos o termo e acreditamos que o governador vá assinar, já que ele afirma ser seguro voltarmos às escolas. Se não assinar, estará assumindo que não há segurança para nos mandar de volta às salas de aula”, afirmou, na saída do Palácio, a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.

“Aqui no Rio Grande do Sul se trabalha com a doença e não com a prevenção, pois o governo libera tudo com base na disponibilidade de leitos nas UTIs. Precisamos de segurança e prevenção com testagem em massa”, ressaltou Helenir.

Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, é necessário que o governo se responsabilize pelo calendário de volta às aulas presenciais e abandone a postura covarde de jogar a culpa de possíveis contaminações e mortes em cima da comunidade escolar.

“Leite está mandando termos de responsabilização para os pais dos alunos, o que é absurdo. É um dever do Estado e do governo estadual garantir a segurança de estudantes, professores e funcionários nas escolas, através de testagens e de condições sanitárias. São vidas que estão em jogo”, destacou Amarildo.

Não adianta só mandar termômetro e máscara

A diretora do CPERS, Vera Lesses, enfatizou que “não é justo que o governo queira que a responsabilidade pelas vidas dos nossos estudantes e de toda a categoria seja nossa. Não adianta só mandar termômetro e máscara. As escolas estão sucateadas, não possuem estrutura para a proteção necessária. Assim como o governador pede que os pais que não levarem seus filhos à escola assinem um termo de responsabilidade, estamos pedindo que ele também se responsabilize pelas nossas vidas, já que está nos colocando em risco”.

O segundo vice-presidente do CPERS, Edson Garcia, observou que, passados sete meses de pandemia, as escolas ainda não receberam nenhum tipo de investimento em estrutura e recursos humanos.

“Nós damos aulas em escolas sem ventilação, sem estrutura para garantir o distanciamento necessário. Além disso, nossa categoria tem um número expressivo de professores em grupos de risco que estão com medo de voltar às salas de aula. É um crime, esperamos que o governo reveja esse encaminhamento irresponsável. A contaminação não baixou. Não queremos morrer”, disse Edson.

Governo mente: EPIs ainda não chegaram às escolas

Os professores expuseram os riscos que a retomada do ensino presencial, sem testagem em massa, EPIs e estrutura, representa para a vida de educadores, funcionários de escola, estudantes e comunidade escolar.

“Estou aqui lutando pela preservação da vida. O governador mente quando diz que investiu milhões de reais para garantir a nossa segurança. Nós ainda não recebemos os equipamentos de proteção para cumprir com os protocolos de segurança. É urgente que a comunidade escolar entenda que não temos condições de voltar, é muito arriscado”, observou a professora Marceliza, de Alvorada.

A professora Cleuza também frisou as dificuldades que as escolas terão para cumprir os protocolos. “Apenas duas escolas receberam uma quantidade ínfima de materiais de higiene e limpeza. Não temos profissionais suficientes para garantir a limpeza e não há espaço suficiente para manter a distância necessária entre os alunos. Não é meia dúzia de vidros de álcool que vai nos proteger.”

Durante a caminhada de um grupo de professores da capital, que percorreu as ruas do centro, o professor da escola Caldas Júnior, Matheus Schneider, ressaltou que impor o retorno presencial é uma grande irresponsabilidade. “Infelizmente o governo está demonstrando que não respeita as comunidades escolares e os educadores, pois quer reabrir as escolas quando o índice de contaminação pelo coronavírus ainda é alto. Em nenhum lugar do mundo se viu a abertura em um momento como esse”, frisou.

Governo não prioriza vida da comunidade escolar

Para a diretora do CPERS, Rosane Zan, a atitude do governador demonstra que a vida dos educadores e de toda comunidade escolar não é prioridade. “O governador está nos colocando no caminho da morte. Deveríamos estar protegidos, mas a nossa saúde parece não ser prioridade para o governo.”

“Estamos na eminência de voltar as aulas presenciais sem garantias sanitárias. Estamos aqui para exigir testagem em massa, sem isso é como andar no escuro. O governo não paga nossos salários em dia, não nos valoriza e agora quer colocar nossas vidas e da comunidade escolar em risco”, alertou o diretor do CPERS, Cássio Ritter.

“O governador está atendendo a pressão do setor privado e dos interesses eleitorais. O retorno imposto vem gerando angústia e medo nas escolas, pois não temos condições de garantir um retorno seguro”, destacou o diretor do CPERS, Daniel Damiani.

Resistência pela vida e contra o retorno presencial das aulas

Em assembleia geral realizada no último dia 8, quase 2 mil educadores de todo o Estado debateram e aprovaram uma firme resistência contra o retorno às aulas presenciais.

A continuidade do ensino remoto, a exigência de testagem em massa (RT-PCR) de professores, funcionários e estudantes, recursos humanos e financeiros, EPIs e condições estruturais para as escolas e fomentar a resistência junto a conselhos escolares e aos COEs foram algumas das deliberações.

“Não queremos que nossas escolas passem de um espaço de transmissão de conhecimento para um ambiente de transmissão de Covid-19. A nossa orientação às escolas é para que resistam mostrando que não há condições de retomar o ensino presencial”, salientou Helenir.

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