Elite começa a rifar Bolsonaro sem abandonar Paulo Guedes
Antagonismo com Bolsonaro não afeta adesão das elites ao programa econômico que massacra os pobres e destrói o país
Publicado: 28 Fevereiro, 2020 - 10h17 | Última modificação: 28 Fevereiro, 2020 - 10h20
Escrito por: Brasil 247
A mídia conservadora, ecoando os humores das elites, tem atacado Jair Bolsonaro em seus editoriais nos últimos dias, cada vez mais violentamente. Mas não há uma palavra sequer contra Paulo Guedes. Ao contrário: os editoriais defendem a preservação do programa que está massacrando os pobres, paralisando a economia e entregando patrimônio nacional aos grupos privados, especialmente os internacionais.
O editorial de O Estado de S.Paulo da última sexta-feira é explícito quanto ao apoio entusiasmado à reformas desastrosas de Guedes para os trabalhadores e os mais pobres: “Até aqui, em meio ao crescente desconforto com as atitudes indecorosas e antidemocráticas do presidente Bolsonaro e de seu entorno, o Congresso tem demonstrado louvável determinação de levar adiante as pautas de interesse do País. No ano passado, votou e aprovou uma abrangente reforma da Previdência, crucial para frear a deterioração das contas públicas. Agora, prepara-se para discutir e votar matérias tão ou mais espinhosas, como a reforma tributária e o pacto federativo, além de uma já tardia reforma administrativa.”
O Globo igualmente. Separa a crítica a Bolsonaro do que considera, o mais importante para os Marinho e as elites, as reformas neoliberais em seu editorial desta sexta-feira: “Parte da alta do dólar e da queda de ativos em geral tem causa interna e endereço conhecido em Brasília. Com um ano e quase dois meses de governo, está evidente que o Planalto não tem agenda estratégica. Apoia formalmente as reformas, mas não trabalha politicamente para elas; desdenha dos partidos e da política; está mais preocupado com a “guerra ideológica”, e o presidente dirige sua atenção preferencialmente aos seguidores em suas redes sociais.”
A Folha de S.Paulo no editorial apontou a relatividade do impacto do coronavírus na economia, bem menor que o impacto das iniciativas de Bolsonaro, mas termina por apontar a centralidade das malfadadas reformas: “No Brasil, além do coronavírus, há a moléstia da instabilidade política. O comportamento conflituoso do presidente Jair Bolsonaro piora ainda mais o ambiente econômico já conturbado. (...) Se esse cenário mais negativo se consolidar, a disposição do Congresso para reformas pode sofrer avarias. Enquanto já se notam pressões crescentes por gastos públicos, o foco do governo deveria ser acelerar a preparação para um cenário mais difícil à frente.”