Escrito por: Vanilda Oliveira
A tragédia brasileira só terminará quando Bolsonaro deixar o governo e a reconstrução começará quando Lula assumir a Presidência. Por isso, 2022 será o ano das nossas vidas
A CUT foi fundamental para o Brasil em 2021. Dirigentes, bases e militantes, em todos os Estados, se superaram e fizeram esse ano entrar para a história do movimento sindical e do país tamanhas foram nossa resistência e luta no momento mais tenebroso da classe trabalhadora e do movimento sindical brasileiro.
Nossa luta impediu que o país fechasse 2021 ainda mais pobre, doente, desigual, injusto, isolado e menos democrático. Fomos exigidos à exaustão, como nunca, e correspondemos à altura. Enfrentamos os ataques e os desafios ocupando todos os espaços: ruas, internet, redes sociais e Congresso Nacional, mesmo sob a perseguição de um governo criminoso e apesar das restrições impostas pela pandemia de Covid-19.
Roberto Parizotti
A análise é do presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, e não se baseia em um balanço com lista protocolar de vitórias versus derrotas, porque, sim, as perdas foram profundas e inegáveis, mas as conquistas fizeram a diferença.
“Em 2021, a CUT, a unidade do Fórum das Centrais Sindicais e a ação conjunta e solidária com os movimentos sociais foram decisivas para empurrar esse presidente miliciano ao limbo da sua pior avaliação, mostrar ao mundo que Bolsonaro é um pária e que somente a eleição de Lula à Presidência da República recolocará o Brasil no rumo da democracia e do crescimento, com emprego de qualidade, igualdade e justiça social”, afirma Sérgio Nobre.
Ele resume o desafio da CUT, e do Brasil, para o 2022 que se aproxima: “A tragédia brasileira só terminará quando esse governo genocida acabar e a reconstrução começará quando Lula assumir a Presidência da República”. Porque, complementa, “se perdemos o pleito do ano que vem, o retrocesso e ataques aos trabalhadores e trabalhadoras seguirão por décadas. “Vamos lutar e vencer”, convoca.
Seguem alguns destaques da luta em 2021 e perspectivas para 2022, na visão do presidente nacional da CUT.
SUS salva
O Brasil encerrará 2021 triste e derrotado pelas mais de 617 mil vidas perdidas em consequência da pandemia de Covid-19. Um número que poderia ser ainda maior, não fosse a intensa luta por prevenção e vacina feita pelos movimentos sindical e sociais, a comunidade científica e a mídia. Combatemos o negacionismo criminoso de Bolsonaro, o responsável pela maior parte das mortes e dos milhões de casos e suas sequelas.
Na outra face dessa tragédia sanitária e social, que impactou a economia e os empregos no Brasil e no mundo, Sérgio Nobre destaca a ação vitoriosa do Sistema Único de Saúde (SUS) e o trabalho dos servidores e servidoras públicos em todo o país, que conseguiram imunizar mais de 65% da população brasileira com duas doses da vacina, apesar das decisões desastrosas do governo e da pregação eleitoreira de Bolsonaro.
Os crimes cometidos pelo presidente e seus cúmplices no governo (boicote à vacina, ao isolamento, denúncias de corrupção na compra do imunizante entre outros) foram revelados ao mundo pela CPI da Covid e cunharam ainda mais o título de pária nas costas de Bolsonaro.
A CUT foi protagonista nessa luta contra o negacionismo, em defesa da vida, da vacina, pelo respeito aos protocolos sanitários, na conquista de proteção aos trabalhadores em seus locais de trabalho, nas ações solidárias de suas bases, institucional junto aos governos estaduais e no Congresso Nacional. Exalto o SUS, o serviço público e lamento a perda de valorosos companheiros e companheiras de luta, dirigentes e militantes. A eles, todo o nosso respeito, reconhecimento e admiração. Farão falta”, afirma Sérgio Nobre.
Freio no desmonte
A CUT enfrentou todo tipo de ataques e ações desferidas diretamente contra a classe trabalhadora, via tentativa de desmonte das estatais, dos serviços públicos, da organização sindical, de instituições democráticas. Resistimos. A MP 1.045 foi rejeitada e arquivada, os Correios não foram privatizados nem a Petrobras, a Caixa ou o Banco do Brasil, como quer o ministro da Economia, Paulo Guedes. A PEC 32, da reforma Administrativa, não foi votada nem deverá ser. São vitórias da resistência, pressão e luta. É pouco provável que o Congresso Nacional queira mexer nesses temas em pleno ano eleitoral.
Roberto Parizotti
Seguiremos resistindo, afirma Sérgio Nobre, porque “a iniciativa privada não tem, historicamente, condições de exercer o papel de indutor da economia e, nunca na história, o Brasil cresceu sem a ação do Estado e das empresas estatais”.
O presidente nacional da CUT destaca que “em dois anos e meio de governo, Bolsonaro não apresentou uma única proposta efetiva para geração de emprego e renda”. “Ao contrário, ele desmontou instrumentos de crescimento e desenvolvimento do país, em todos os setores e esferas, criou uma crise profunda e generalizada que levou o Brasil a cair de sexta economia do mundo, durante os governos de Lula e Dilma, para a 12ª posição, hoje”, compara o presidente nacional da CUT.
Solidariedade contra a fome
2021 foi marcado pela maior tragédia que pode acontecer a uma nação: a fome. O Brasil voltou ao Mapa da Fome seis anos após ter vencido esse pesadelo graças aos investimentos e políticas criadas nos governos petistas de Lula e Dilma, que elevaram a renda dos mais pobres.
Sérgio Nobre destaca que as bases responderam ao chamado da CUT e arrecadaram toneladas de alimentos, produtos de limpeza, máscaras e outros itens, que foram doados aos desempregados e à população vulnerável nas periferias das cidades, em todos os Estados. A CUT fez parcerias, com o MST, por exemplo, e campanhas para conseguir alimentos e doações, inclusive fora do Brasil.
“Está na eleição de Lula a nossa certeza de que os brasileiros voltarão a fazer três refeições por dia”, afirma o presidente nacional da CUT.
Dentro do Congresso, sim
“A agenda institucional foi decisiva em 2021 na defesa da classe trabalhadora. A ação da CUT e das centrais sindicais nas três esferas de poder foi fundamental. Fomos ao Supremo Tribunal Federal (MPF), ao Ministério Público, buscamos as lideranças e presidentes do Senado, da Câmara para levar a pauta da classe trabalhadora, denunciar, dialogar e pressionar”, resume Sérgio Nobre.
A CUT, o Fórum das Centrais Sindicais foram para dentro do Congresso Nacional enfrentar na raiz as medidas e propostas que atacam os direitos da classe trabalhadora.
“Como não existe governo federal, tivemos de ir para dentro do Parlamento, pressionar e atuar diretamente junto a deputados federais e senadores para debater e lutar contra as matérias que afetam diretamente o mundo do trabalho e atacam os direitos da classe trabalhadora”.
Para o presidente da CUT, em 2022, “cada vez mais esse trabalho institucional feito dentro do Parlamento terá de estar aliado às mobilizações de rua e lutas nos locais de trabalho, porque temos muitas medidas e propostas prejudiciais à classe trabalhadora e ao país tramitando no Congresso Nacional e precisamos derrotá-las no ano que se aproxima”.
PEC 32 - se votar não volta
“Nunca vi tamanha organização de uma categoria, um setor como no movimento dos servidores e servidoras públicos contra a PEC 32. Dirigentes e militância da CUT e de todas as centrais, em todos os estados, fizeram um calendário ousado e exitoso para pressionar os parlamentares, em Brasília e em suas bases eleitorais, e conseguiram. Foi de extraordinária importância”, afirma Sérgio Nobre.
Reprodução
“Seguiremos em 2022 com a pressão: se votar, não volta”, avisa o presidente nacional da CUT.
Emprego
O Brasil enfrenta desemprego recorde e uma precarização sem precedentes, desde 2017, cenário que foi agravado pelo governo Bolsonaro. Segundo o IBGE (Pnad, novembro de 2021), há no país 177 milhões de pessoas em idade de trabalhar (com 14 anos ou mais), dos quais 93 milhões estavam ocupadas e 13,5 milhões desempregadas. Se considerada toda a mão de obra ainda subutilizada, está faltando trabalho para 30,743 milhões de brasileiros.
São dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras fora da força de trabalho. Os empregos gerados neste ano são em sua maioria informais, de baixa remuneração e precários. Essa realidade da empobrecida classe trabalhadora brasileira não impede, porém, de ter a certeza que a situação estaria ainda pior não fosse a nossa luta.
Unidade fez a diferença
A ação unitária das Centrais Sindicais foi decisiva à luta em defesa da classe trabalhadora, da democracia e soberania do país. Construímos propostas, no espaço do Fórum das Centrais, desenvolvemos ações para enfrentar a crise sanitária, garantir proteção aos trabalhadores e trabalhadoras. Articulamos com entidades, organizações e coalizões da sociedade civil para proteger a vida, por vacinas, por empregos, contra a carestia e em defesa do Estado Democrático de Direito, contra o ódio e a perseguição, que chegou ao extremo no governo Bolsonaro, contra mulheres, negros, indígenas, população LGBTQIA+.
Após um 1º de Maio histórico, voltamos às ruas com todos os cuidados exigidos para não contrair nem disseminar Covid-19, e juntamente com os movimentos populares, partidos progressistas e atores da sociedade passamos a realizar mobilizações e a ocupar as ruas, em defesa da vida, da vacina, conta a fome, pelo retorno do Auxílio Emergencial de R$ 600,00, pela proteção dos empregos e salários, contra a carestia, contra as privatizações, contra a PEC 32 e, principalmente pelo Fora Bolsonaro, como parte da campanha puxada pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.
Orientamos os nossos sindicatos e entes para realizar campanhas de solidariedade, distribuir alimentos e colocar à instalações dos sindicatos à disposição do SUS para que fossem usadas no combate à pandemia. Integramos a “Campanha Renda Básica que queremos”, movimento que reúne centenas de entidades, movimento sociais e coalizões que defendem a implementação de um programa permanente de renda básica que garanta condições de vida digna para as famílias mais pobres, fortaleça a economia e reduza as desigualdades. Propusemos a governadores e prefeitos medidas para complementar a renda de proteção, o que foi efetivado por muitos governos locais e estaduais. Falamos com movimento sindical internacional, demos e recebemos ajuda.
1º de Maio 2022
“Em 2021 fizemos um 1º de Maio Unitário virtual, e mesmo assim histórico, com o mote contra a fome, pela vacina e Fora Bolsonaro. 2022 exigirá do movimento sindical, se houver condições sanitárias, que façamos o maior ato dos últimos tempos, dessa vez, presencial”, convoca Sérgio Nobre.
A 16ª Plenária da CUT avaliou os desafios e apontou rumos da Central e do movimento sindical frente à chamada “nova realidade” do mundo do trabalho, que mesmo antes da pandemia já apresentava transformações importante, aceleradas pela crise sanitária. “A plenária reforçou que um dos nossos principais desafios é estruturar a representação do conjunto de trabalhadores, independentemente das formas de contratação, e que tenham identidade com projeto de classe idealizado pela Central”.
“O novo mundo do trabalho pode ser considerado bom ou ruim e o que vai decidir isso será a nossa capacidade de organização para fazer esta disputa de sociedade por um país inclusivo, representativo e combativo na luta cotidiana na vida e no trabalho. O futuro do movimento sindical começa agora e este dia será histórico”, disse o presidente da CUT.
Roberto Parizotti
A necessidade de isolamento por conta da pandemia não paralisou as atividades da CUT. Ao contrário: dirigentes, funcionários, militantes multiplicaram seus olhos e tarefas para debater, propor, elaborar durante inúmeras reuniões, debates, seminários, lives, com maioria das atividades em formato virtual.
“Pudemos nos valer da tecnologia para seguir em contato com os sindicatos, as bases, o povo, ouvi-los e ser ouvidos. Temos de nos apropriar cada vez mais desse espaço”.
Por isso, a CUT se desafiou e lançou um projeto inédito na forma do Mutirão de Comunicação – Brigadas Digitais, porque, segundo Sérgio Nobre, “é prioridade e fundamental que a Central dialogue com milhões de pessoas, que amplie a voz da classe trabalhadora nas redes sociais e, assim, impacte nas decisões no Congresso Nacional e dos patrões.”
“Estamos nos preparando, formando a militância para a batalha nas redes sociais em 2022, que vai ajudar a construir um país mais justo para todos. Não podemos deixar que aconteça nas eleições de 2022 o mesmo que ocorreu em 2018, quando fomos derrotados pela fábrica de fake news de Bolsonaro”, afirma o presidente nacional da CUT Brasil.
Diplomacia sindical x pária mundial
O presidente nacional da CUT, em 2021, esteve na Venezuela e na Argentina onde se reuniu com as centrais sindicais e lideranças políticas dos dois países. Mas a ação internacional começou no final de 2020, com visita ao movimento sindical e ao presidente boliviano, Luis Arce, que retribuiu, em novembro passado, quando esteve na CUT e fez importante fala política.
Roberto ParizottiO principal objetivo das visitas de Sérgio Nobre aos países vizinhos foi pavimentar, junto às centrais sindicais daqueles países ações de cooperação, intercâmbio e solidariedade. Como resultado, já está sendo construído seminário sindical dos países da América Latina e Caribe, que deverá ser realizado no início de 2022, na Venezuela.
Em novembro passado, Sérgio Nobre se reuniu, em Caracas, com lideranças sindicais venezuelanas, onde nasceu a ideia do seminário regional. Foi ao país de Nicolás Maduro, com quem também se encontrou, para retribuir a solidariedade do povo venezuelano, que doou oxigênio hospitalar ao Brasil. As centrais brasileiras fizeram campanha de arrecadação e conseguiram doar uma tonelada de equipamentos a uma das usinas da Venezuela que produz oxigênio.
Reprodução“A luta sindical e popular, cada vez mais globalizada, exige ainda mais unidade e solidariedade, porque temos pautas e desafios que exigem luta conjunta”, afirma o presidente nacional da CUT ao destacara que a vitória de Arce na Bolívia, após o golpe da direita sofrido por Evo Morales, é um exemplo mundial de retomada da democracia.
Livro desmente Moro e Lava Jato
2021 marcou suspeição de Sérgio Moro, ex-juiz que comandou a parcial e suspeita Operação Lava Jato de Curitiba, que perseguiu, mentiu, condenou e prendeu, sem crimes nem provas, o ex-presidente Lula. O STF considerou Moro parcial e suspeito, como a CUT sempre denunciou. Os processos estão sendo anulados, um a um.
Visionária, a CUT se antecipou ao Supremo e, em parceria com o Dieese, lançou estudo inédito profundo para revelar como a Lava Jato destruiu empregos e afundou a economia do Brasil, com suas práticas parciais e ilegais. Foram 4,3 milhões de postos de trabalho não gerados e R$ 172 bilhões que deixaram de ser investidos no Brasil por conta da Operação que tentou destruir a Petrobras para beneficiar o capital estrangeiro.
O estudo virou livro: “Operação Lava Jato: Crime, devastação econômica e perseguição política “ e já roda o Brasil e o mundo, desmascarando Sérgio Moro, que agiu ao arrepio da lei e da Constituição Federal, para depois virar ministro de Bolsonaro. Não podemos esquecer, jamais, que Lula liderava todas as pesquisas eleitorais em 2018 e, por isso, foi preso. Moro foi determinante para a vitória de Jair, tanto que virou seu ministro. Hoje, posa de candidato sob a bandeira do combate à corrupção.
Quem é Moro, senão ele mesmo um corrupto, como analisam e denunciam seus próprios companheiros de magistratura.
“A Lava Jato se apropriou do discurso do combate à corrupção, para criar um projeto de poder, perseguição política e destruição da maior empresa brasileira, beneficiando economias estrangeiras, que estariam incomodadas com a presença crescente do país”, explica o presidente nacional da CUT.
A corrupção, diz Sérgio Nobre, tem “efeito devastador” sobre os trabalhadores e trabalhadora e o combate à prática é bandeira do movimento sindical. “Mas a Lava Jato, além de não combater a corrupção, contribuiu de forma decisiva para a crise brasileira e o desemprego”, afirma Sérgio Nobre.
“Ninguém melhor que a CUT pode fazer esse debate contra a pré-candidatura de Sérgio Moro e os efeitos perversos da Lava Jato de Curitiba na economia e na vida da classe trabalhadora. O estudo é profundo, robusto e ajudará nossas bases e militância a disputar narrativa e a desmascarar esse ex-juiz”.
Lula, presidente
Lula provou sua inocência. Na Justiça, o ex-presidente conquistou 22 vitórias até agora. Lula é inocente. Lula voltou a ser elegível, poderá disputar a presidência em 2022. Lula, como em 2018, lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Vence todos os demais pré-candidatos no primeiro e segundo turnos. Enquanto seu principal adversário em 2022 é visto como pária mundial e renegado pelas principais lideranças mundo afora, Lula é recebido como estadista.
Que venha 2022, estaremos atentos e fortes.