Escrito por: Marize Muniz

Em Brasília, tem até chantagem para aprovar nova Previdência

No “vale tudo” para punir deputados que votarem contra reforma, deputados da base de Temer ameaçam restringir distribuição do fundo eleitoral e colocar uma trava na janela partidária de 2018

Edson Rimonatto/CUT

Em uma das muitas reuniões e jantares que o golpista e ilegítimo Michel Temer (PMDB-SP) vem fazendo para aprovar de qualquer jeito a impopular e perversa nova proposta da Reforma da Previdência, foi discutido um “pacto” para obrigar deputados a votar a favor das mudanças das regras para obtenção da aposentadoria.

O “pacto” consiste em restringir a distribuição do fundo eleitoral e colocar uma trava na janela partidária - período em que os parlamentares podem trocar de partido sem o risco de perder o mandato -, para punir deputados que votarem contra a reforma. Além disso, o governo acena com a liberação de R$ 3 bilhões para o Fundo de Participação dos Municípios para que os prefeitos pressionem os deputados a votarem a favor da reforma. Metade desse recurso deve ser aplicado em saúde e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ameaça: "se a reforma não for aprovada, esse dinheiro não existe."

O tal ‘pacto’ a favor da reforma foi feito pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, que sugeriu repassar mais recursos do fundo eleitoral para deputados que votarem a favor da nova proposta de Reforma da Previdência. Ele sugeriu também fechar um acordo com os partidos da base aliada de Temer para impedir a mudança de legenda aos que eles chamam de infiéis, ou seja, os que votarem contra.

“Isso não é pacto, é coação”, diz o advogado Luiz Eduardo Greenhalg, que define as sugestões de Jefferson para conseguir os 308 votos necessários para aprovar a reforma da Previdência como “chantagem política e coação partidária retórica”.

Greenhalg explica que, apesar de as sugestões não constituírem crimes, os deputados prejudicados podem recorrer à Justiça porque eles têm direito ao fundo partidário e à mudança de partido na abertura da janela partidária.

“O ‘pacto’ demonstra o desespero do governo e comprova que a campanha da CUT para pressionar os deputados a não traírem a classe trabalhadora está no caminho certo”, diz o presidente da CUT, Vagner Freitas.

 Segundo Vagner, “muitos deputados estão nos pedindo para tirar o nome deles da lista de parlamentares a favor da reforma no site NA PRESSÃO, da CUT, porque estão sendo muito cobrados pela base”.

“O fato é que temem não se reelegerem em 2018”, diz o dirigente, argumentando que, “na ânsia de aprovar uma medida reprovada por 85% dos brasileiros, como mostrou a última pesquisa CUT-Vox Populi, além de abrir os cofres do governo para distribuir recursos de emendas para os parlamentares, o jurista Temer não se constrange em discutir chantagens políticas, nem mesmo de usar os recursos do Fundo de Participação dos Municípios, que deveria ser direcionado para a saúde, para pressionar deputados”.

As mudanças propostas por Temer vão prejudicar especialmente os trabalhadores e as trabalhadoras mais pobres, como os rurais assalariados e os agricultores familiares, o pessoal da construção civil e serviços, entre outros, que vão sofrer mais porque são vítimas da alta rotatividade e do contrato intermitente de trabalho, aprovado na Reforma Trabalhista.

A nova proposta de Reforma da Previdência prevê que as idades mínimas para aposentadoria serão de 62 anos para mulheres e de 65 anos para homens, com exceção dos professores e professoras (60 anos para ambos os sexos) e policiais (55 anos também para ambos os sexos).

O tempo mínimo de contribuição previsto no texto é de 15 anos para os trabalhadores do regime geral (INSS) e 25 anos para os servidores públicos. 

O trabalhador da iniciativa privada que contribuir durante 15 anos terá direito a 60% do valor do benefício, que é a média da soma de todos os salários, desde o primeiro, em geral mais baixo. Se estiver vivo e contribuir durante 25 anos, receberá somente 65% do valor do benefício.

No caso dos servidores públicos, eles receberão 70% do benefício se contribuírem por 25 anos. Quem contribuir por 30 anos receberá 77,5% do benefício. Nos dois regimes, os trabalhadores que quiserem receber 100% do benefício terão de contribuir por 40 anos. Além disso, terão de ter a idade mínima 65 anos (homens) e 62 (mulheres).

No caso dos trabalhadores rurais, a proposta é ainda mais cruel. A nova reforma Previdenciária iguala as regras dos trabalhadores assalariados rurais aos urbanos e ainda exige dos agricultores familiares (pequenos produtores) uma contribuição mensal e individual, o que praticamente acaba com o sistema de proteção diferenciado dos rurais.

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