Em Buenos Aires, trabalhadores marcham contra o neoliberalismo e o fascismo
CUT, centrais sindicais e movimentos sociais de toda a América Latina foram à capital argentina para denunciar retrocessos e ganância de líderes de países do G20, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo
Publicado: 30 Novembro, 2018 - 18h33 | Última modificação: 30 Novembro, 2018 - 18h46
Escrito por: Andre Accarini
A capital da Argentina, Buenos Aires, que sedia a reunião da cúpula do G20, grupo de chefes de Estado de países considerados principais economias do mundo, que acontece nesta sexta (30) e sábado (1°), está um caos. Sindicalistas da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA) foram presos, delegações de movimentos sociais e sindical de outros países não conseguiam chegar e nem os moradores da capital argentina conseguem se locomover.
Tudo isso para não incomodar os presidentes dos países que integram o G20, como Donald Trump, dos EUA, que vão discutir o futuro do trabalho, o impacto de novas tecnologias sobre o emprego e capacitação continuada; infraestrutura para desenvolvimento; e o futuro sustentável da alimentação. Todos esses temas, claro, do ponto de vista do capital, do lucro.
Em contraponto, a CUT, centrais sindicais de toda a América Latina e lideranças dos movimentos sociais realizaram um evento que está sendo chamado de “G20 dos Povos” para vai defender os interesses da classe trabalhadora e das populações mais pobres de todos esses países e denunciar a pauta conservadora dos chefes de estado.
Protesto
Uma marcha pelas ruas da capital argentina foi realizada nesta sexta-feira com mais de20 mil pessoas para protestar contra o avanço neoliberal, que reduz o papel do estado, arrocha salários e retira direitos da classe trabalhadora, como no Brasil onde o golpista e ilegítimo Michel Temer congelou os investimentos em áreas como saúde e educação por 20 anos e aprovou uma reforma Trabalhista que acabou com 100 itens da CLT.
A secretária de Mobilização e Relação com os Movimentos Sociais da CUT, Janeslei Albuquerque, diz que a marcha denunciou essa sanha neoliberal e conservadora que dá o tom da conversa dos líderes dos países sobre temas que influem diretamente na vida de milhões de trabalhadores e trabalhadoras do mundo todo, da cidade, do campo, além de povos indígenas.
“A marcha é também um grande protesto contra a ascensão do fascismo, contra o autoritarismo crescente e violento”, afirma a dirigente da CUT.
Acesso proibido
Diversas caravanas de países latino-americanos já estão em Buenos Aires desde o início da semana, participando de debates e outras atividades. Novos grupos que se dirigem à capital argentina encontraram dificuldade. Um comboio de ônibus do Uruguai foi impedido de cruzar a fronteira entre os dois países, por conta do aparato de segurança montado para o evento.
Até o início da tarde desta sexta, outros grupos – de outros países e de argentinos - não conseguiam se locomover.
Situação de tensão
“Quem vive fora de Buenos Aires tem muita dificuldade para chegar. Não tem transporte público. A polícia está reprimindo, impedindo ônibus de transitar e, ao que parece, pronta para agir, procurando motivo para conter a manifestação”, relata Janeslei.
Ela cita, mais uma vez, o autoritarismo que se reflete em perseguição aos movimentos sociais. “Vemos que a onda conservadora não é exclusividade no Brasil. Aqueles que lutam por democracia, por direitos, por um mundo para todos e não para atender aos interesses do capital, correm riscos com a criminalização dos movimentos”.
Sindicalistas da CTA, Central de Trabalhadores da Argentina, que se dirigiam à manifestação foram detidos pela polícia, no distrito de La Plata, a 58 km de Buenos Aires, o que mostra que o aparato militar transpõe os limites da capital argentina.
As lideranças sindicais e dos movimentos sociais agem com cautela na organização de manifestações para não sofrerem esse tipo de repressão policial. “Eles discutem lá como o desenvolvimento vai acontecer com a retirada dos direitos e o povo que passa fome, que luta por dignidade e inclusão é oprimido aqui fora”, completa Janeslei.
Feriado
O governo argentino decretou feriado para a capital e indicou aos moradores que viajassem para outras cidades. “Eu até queria viajar, mas o governo não me deu passagem e a gente não está em condição financeira favorável”. Janeslei relata que essa é reclamação comum a todos os moradores afetados. Turistas também foram impedidos de realizar seus passeios, a maioria por meio de pacotes de viagem comprados com antecedência.
Ninguém entra, ninguém sai
Janeslei Albuquerque, conta que várias ruas, avenidas e praças tiveram acesso proibido até mesmo para moradores dos locais.
“A cidade está sitiada pela segurança desde o início da semana, porque tem chefes de Estado de muitos países. É o protocolo desses eventos, mas aqui foi além, porque a região por onde eles passam está toda bloqueada, o comércio fechado”, relata a dirigente.
Algumas pessoas nem saíram de casa, porque o trânsito, de carro, ônibus e até mesmo a pé, foi proibido. A RFI, rádio francesa de notícias que transmite para o mundo todo, informou que militares estão pedindo documentos e revistando todos os moradores, mesmo aqueles de bairros nobres, como a Recoleta.
A área está totalmente vedada e somente moradores previamente revistados podem passar. Em outro bairro, ainda segundo a RFI, o Puerto Madero, também está proibida a circulação de automóveis e o sinal de WI-FI foi cortado. O cerco inclui as áreas por onde passam os líderes.