Em carta, Lula ressalta importância da formação para a luta por direitos
O ex-presidente disse que a construção da 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT é essencial para o fortalecimento a capacidade de luta da classe trabalhadora.
Publicado: 30 Maio, 2019 - 17h03 | Última modificação: 30 Maio, 2019 - 18h07
Escrito por: Érica Aragão
O ex-presidente Lula respondeu a carta enviada a ele pela Rede Nacional de Formação da CUT justificando sua ausência na 4ª Conferência Nacional de Formação da Central e dizendo que os sindicalistas estão no caminho certo.
Na carta, Lula disse que estava emocionado por ter recebido o convite para participar da Conferência, lamentou não estar no encontro e afirmou que o que o mantém forte na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde é mantido preso político desde abril do ano passado, é saber que, quando tem chance, a classe trabalhadora mostra sua capacidade de gerir o país.
“Os nossos adversários me colocaram [aqui], me impedindo de estar aí com vocês e continuar mostrando do que é capaz a classe trabalhadora quando tem a chance de governar um país”, disse Lula na carta se referindo ao legado de suas duas gestões na Presidência da República e a perseguição política que vem sofrendo há anos e que ficou mais forte no ano passado, quando foi condenado sem provas, encarcerado e impedido de disputar as eleições.
Lula também relembrou na carta a frase que repetiu no ato em protesto contra sua prisão injusta, fruto de um julgamento cheio de falhas, sem provas, só com convicção, realizado em São Bernardo do Campo.
“Encerrei uma assembleia no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no dia 7 de abril de 2018 dizendo que nunca mais ousem a duvidar da capacidade de luta da classe trabalhadora e esta frase nunca saiu da minha memória”, disse na carta.
“E é uma alegria muito grande saber que ela não saiu também da cabeça de cada trabalhador e cada trabalhadora deste país”, prosseguiu Lula, se referindo a construção da 4ª Conferência como um momento de fortalecimento da classe trabalhadora.
A carta do ex-presidente Lula chegou momentos antes do início dos debates do quarto dia da 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT, na manhã desta quinta-feira (31), em Belo Horizonte.
E a portadora foi a presidenta da CUT Paraná, Regina Cruz, que representou a Região Sul na Conferência e foi responsável pela mística de abertura do dia. Regina, que desde abril do ano passado colocou em sua já atribulada agenda de sindicalista mais uma tarefa, a de comandar, coordenar ou colaborar com a Vigília Lula Livre, montada nas proximidades da sede da PF em solidariedade e apoio a Lula, entregou a carta de Lula para a secretária Nacional de Formação da CUT, Rosane Bertotti, que a leu emocionada.
Experiência da CUT como forma de luta
O ex-presidente Lula, que também foi fundador da CUT, contou na carta que a formação dele foi feita na luta, durante as greves das décadas de 1980, no calor da luta, junto com os mais velhos de movimento e que essa experiência deve ser transmitida aos mais jovens pela formação da central.
“Eles precisam conhecer a história da Central Única dos Trabalhadores, precisam entender o que a criação da CUT significou num país onde até muito pouco tempo antes a organização sindical era crime e greve dava cadeia”.
Lula também disse que é preciso usar este conhecimento acumulado para criar novas formas de luta para este novo momento de desemprego recorde “com políticas criminosas dos governantes deste país” e para defender os direitos diante do cenário de mudanças previstos a partir da implantação das novas tecnologias.
“É preciso enfrentar essa nova realidade: os avanços tecnológicos que diminuem os postos de trabalho, a tentativa de rasgar a CLT e destruir os direitos trabalhistas”, disse Lula na carta.
Segundo o ex-presidente, para isso não tem outro caminho: “Não temos outro caminho a não ser lutar, lutar e lutar. É pesado o caminho, mas não existe atalho e nem sapatos confortáveis. O caminho é a união para nos tornarmos um país melhor para nós, filhos e netos. À luta!”.
O público vibrou e levantou o grito de guerra conhecido por todo a população brasileira: “Lula guerreiro do povo brasileiro”.
Para Rosane Bertotti, Lula tem razão. Segundo ela, a CUT tem história e legados importantes que precisam ser contados, como a eleição de um operário, uma mulher para a presidência da República, Dilma Rousseff, e conquistas de direitos básicos fundamentais e que pode, sim, contribuir com o mundo do trabalho da Indústria 4.0.
“São mais de 35 anos de história que nos permite seguir em frente e pensarmos o mundo do Trabalho que está se transformando muito rápido, com ataques aos direitos. Nós precisamos a luz da nossa história apontar o projeto que queremos e estamos aqui levar a nossa proposta no Congresso Nacional da CUT, em outubro”.
Animação e Lula Livre na abertura do quarto dia
Depois do Sudeste, Nordeste e do Norte na abertura dos três primeiros dias da 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT, a Região Sul trouxe a esperança e o amor da Vigília Lula Livre para o quarto dia da atividade e emocionou os mais de 450 trabalhadores e trabalhadoras presentes com a mística do “Bom Dia, Presidente Lula” ao vivo em conexão direta com a Vigília Lula Livre em Curitiba.
A história da Vigília, que completa 418 dias de resistência, foi contada pela secretária de Comunicação da CUT Santa Catarina, Adriana Maria Antunes de Souza.
O Coletivo MundicÁ, João Belo, Susi Mont Serrat, Ludmila Benquerer, Márcio Vesoli, Quincas da Viola e Rodrigo Salvador contribuíram com a animação da abertura do quarto dia da Conferência e foi neste clima que os trabalhadores e as trabalhadoras, de mãos dadas, se acomodaram no ginásio do Sesc Venda Nova, na região metropolitana de Minas Gerais, dando início ao debate “Estratégia da Formação Sindical no Projeto Político-Organizativo da CUT.
Carta de Lula na íntegra:
Companheiros e companheiras,
Quero que vocês saibam da minha emoção ao receber o convite para essa 4ª Conferência Nacional de Formação da CUT, e ao ouvir as palavras tão carinhosas contidas na carta que vocês leram para mim. Duas coisas me mantêm forte aqui, nessa prisão onde nossos adversários me colocaram há mais de ano para me impedir de, junto com cada um e cada uma de vocês, continuar mostrando do que é capaz a classe trabalhadora quando tem a chance de governar um país. Essas duas coisas que me mantêm forte são o carinho e o espírito de luta do povo brasileiro.
Lembro que há muitos e muitos anos, encerrei uma assembleia dos metalúrgicos dizendo: “Nunca mais ousem duvidar da capacidade de luta da classe trabalhadora”. Esta frase nunca saiu da minha memória. E é uma alegria muito grande saber que ela não saiu também da cabeça de cada trabalhador e cada trabalhadora deste país. Ela continua forte na memória de todos vocês, mesmo daqueles que ainda não tinha nascido naquela época, quando o movimento sindical brasileiro renascia com força e com vontade.
E por que essa frase continua ecoando na cabeça de vocês, os mais jovens, os que vieram depois? Porque o espírito de luta corre em nossas veias, ele está no nosso DNA, a gente já nasce com ele, e se não nasce a gente vai adquirindo na medida em que cresce e aprende a sobreviver, a enfrentar e a superar cada injustiça que a gente sofre neste que é um dos países mais desiguais do mundo.
Fiz minha formação no chão de fábrica, organizando sindicatos, comandando greves, no calor da luta, junto com os mais velhos entre vocês. Essa nossa experiência tem que ser transmitida aos mais jovens. Eles precisam conhecer a história da Central Única dos Trabalhadores, precisam entender o que a criação da CUT significou num país onde até muito pouco tempo antes organização sindical era crime e greve dava cadeia.
Os mais jovens precisam aprender com a experiência das greves, das comissões de fábrica, das mobilizações, aprender com os nossos acertos e também com os nossos erros. É preciso usar esse conhecimento acumulado para criar as novas formas de luta, num mundo diferente, digital, em que até o perfil da classe trabalhadora vai se modificando.
É preciso enfrentar essa nova realidade: os avanços tecnológicos que diminuem os postos de trabalho, a tentativa de rasgar a CLT e destruir os direitos trabalhistas, o desemprego recorde produzido pelas políticas desastradas e criminosas daqueles que hoje governam este país. E para enfrentar essa realidade não tem outro caminho: é lutar, e lutar e lutar.
Nós trilhamos o caminho. Sentimos na sola dos nossos pés, sabemos no calo das nossas mãos como é pesado esse caminho. Mas não existem atalhos, não existem calçados mais confortáveis. O caminho é o da luta, é o da união da classe trabalhadora. Agora, e sempre, é seguir na direção justa, para tornarmos a construir um Brasil melhor para nós, nossos filhos e nossos netos.
À luta, companheiras e companheiros.
Um forte abraço do
Lula