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Em defesa da educação humanizada, professores de SP farão “greve dos aplicativos”

Mobilização acontece de 13 a 19/5. Professores e alunos boicotarão os conteúdos impostos pelas plataformas implementadas pelo governo estadual. Formato de ensino digital destrói a educação, diz a categoria

Publicado: 10 Maio, 2024 - 16h29 | Última modificação: 10 Maio, 2024 - 16h55

Escrito por: André Accarini | Editado por: Rosely Rocha

Governo do Estado de SP
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Professores e professoras, assim como estudantes de todo o estado de São Paulo farão na semana do dia 13 ao dia 19 de maio a ‘greve dos aplicativos’, movimento de protesto contra a utilização de plataformas digitais no ensino público estadual.

Aprovada em assembleias realizadas pelo Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), a greve consiste em não utilizar as plataformas de inteligência artificial implementadas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e por seu secretário de Educação, Renato Feder e, desta forma, fazer com que as aulas tenham um caráter humanizado como deveria ser.

 

 
 
 
 
 
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Para os professores e também para os alunos, o método imposto pelo governo do estado não é satisfatório, não promove qualidade no ensino, além de ‘mecanizar’ a educação, destruindo a ‘essencial’ relação aluno-professor. A afirmação é do primeiro presidente da Apeoesp, Fabio Santos de Moraes, que reforça a importância e o direito de haver liberdade dentro de sala de aula ao ministrar conteúdos educativos.

“As plataformas simplesmente padronizam o ensino para milhões de alunos no estado, que tem diferentes realidades. Não podemos aceitar que alguém, em algum lugar, decida o que todos devem aprender, sem respeitar especificidades”, diz o dirigente, que é professor de história.

Moraes ressalta que o uso da tecnologia é importante, mas tem que ser utilizada de forma a ajudar a complementar o trabalho do professor e não apenas substituir o educador. “As plataformas são autoritárias sob todos os pontos de vista. Elas padronizam conteúdo, obrigando o professor a seguir aquele método naquele momento”, diz o dirigente, reforçando que o professor não tem liberdade para ministrar a aula, à sua maneira.

“O professor faz a chamada e já entra o conteúdo da aula na plataforma. Ele não decide como será o dia de acordo com as especificidades, de acordo com o momento. Não pode usar textos complementares, livros, apostilas, nada”, ele explica.

Os aplicativos e as plataformas digitais estão transformando o ensino numa atividade fria, formatada e distante, resultando em um péssimo aprendizado 


Mecanizado e sem possiblidade de abrir debates, trocas de ideias e até mesmo esclarecimento aprofundado de dúvidas acerca das disciplinas, o sistema consiste em o professor abrir a plataforma, ‘passar’ ao aluno a matéria e logo depois a plataforma já traz as tarefas relacionadas.

E caso o professor não siga, o próprio sistema já informa a direção da escola que é obrigada a tomar providências, “até mesmo sem concordar com o método”, observa Moraes.

Efeito

A realidade é que com a falta de um contato com um ensino humanizado entre aluno e professor, os estudantes acabam não aprendendo. É uma forma fria que acaba com a capacidade de senso crítico dos alunos. O objetivo do governo é um controle ideológico”, diz Fabio Moraes.

Ele reforça que, além do conteúdo ser duvidoso e com erros grosseiros como citar que na capital do estado, São Paulo, há praias e mencionar o movimento de extrema direita, MBL, as plataformas têm um custo elevado para os cofres públicos. Paralelamente, diz o presidente da Apeoesp, o governo do estado mantém escolas sucateadas e não cumpre com o pagamento do piso constitucional da categoria.

Mobilização

Ao reforçar a necessidade de participação de toda a sociedade nesta luta, o presidente da Apeoesp conclama não somente os professores do estado, mas também os estudantes e até mesmo pais, mães e responsáveis a aderiram ao movimento.

“Vamos dar uma basta essa semana forçar um diálogo com o governo para melhorar a qualidade de ensino, para pressionarmos pela educação que queremos”, pontua Moraes.

A segunda presidenta da Apeoesp e deputada estadual (PT-SP), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, também reforça o chamado.

“Do dia 13 ao dia 17 é importante que quem é professor, professora, estudantes, supervisores, diretores, adiram aio movimento. Estamos cansados dessa plataformização da educação”, disse Bebel em suas redes sociais.

Ela também reforça que a categoria não é contra o uso da tecnologia em si, mas da forma como é imposta traz prejuízos severos à qualidade da educação e ao trabalho dos professores.

“Nada contra o ensino digital. É uma revolução tecnológica, uma conquista da humanidade, mas não pode ser utilizado da forma como está sendo utilizada, ou seja, para impor conhecimento, para adequar cabeças e pensamentos. Somos pela pluralidade de ideias e concepções pedagógicas”, disse Bebel.

Ela também reforçou que professores e estudantes não aprovam o método que foi elaborado sem que os próprios docentes fossem ouvidos ou participassem da elaboração dos conteúdos.

De acordo com a dirigente, estudantes reclamam com afirmações como “não está dando mais”, “é cansativo” e “não tem nada a ver com vida”. Ao mesmo tempo reforçam que não querem mais participar desse tipo de ensino, pontua Bebel.

A greve

A ‘greve dos aplicativos’, de 13 a 19 de maio, consiste em a categoria não utilizar durante uma semana as ferramentas digitais estabelecidas pela Secretaria da Educação e Cultura (Seduc), em todas as unidades escolares do estado.

Neste período, professores registrarão as aulas e a presença dos estudantes, mas não usarão as demais plataformas. As aulas e os conteúdos serão aplicados sem a utilização das ferramentas digitais.

No dia 24 de maio, a partir das 16 horas, a categoria fará  uma assembleia na Avenida Paulista, em frente ao Masp, para avaliar o movimento e aprovar novas ações de luta em defesa dos direitos dos professores e da qualidade da educação pública.

Escolas cívico-militares

A Apeoesp também realizará um dia de luta, na próxima terça-feira (13), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), contra a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 9/2024, que institui o Programa Estadual de Escolas Cívico-Militares que será votado nesta data.

A entidade orienta toda a categoria a estar presente no local a partir da 8h30 para pressionar parlamentares contra o projeto.