Em dois anos cresce em 65% o número de crianças que não sabe ler, nem escrever
Levantamento da ONG “Todos pela Educação” aponta que 40,8% das crianças brasileiras entre 6 e 7 anos não sabiam ler ou escrever em 2021. A maioria é de crianças pretas (47,7%)
Publicado: 08 Fevereiro, 2022 - 15h53 | Última modificação: 08 Fevereiro, 2022 - 16h00
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha
O número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabia ler ou escrever saltou de 1,429 milhão em 2019 para 2,367 milhões em 2021 - um aumento de 65,6%. Em percentuais o salto é de 25,1% para 40,8% de crianças nessa faixa etária.
O levantamento divulgado nesta terça-feira (8), é da ONG “Todos pela Educação”, que analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, respondido pelos responsáveis pelas crianças.
Segundo os pesquisadores é como se, em uma sala de aula com 25 crianças, 10 delas não houvessem sido alfabetizadas.
Esse índice de crianças que não sabem ler ou escrever é recorde dos últimos dez anos. Em 2012, eram 1,7 milhão (28,2%) as que não estavam alfabetizadas.
Crianças pretas as mais prejudicadas
O levantamento mostra ainda que no ano passado entre crianças pretas nessa faixa etária, 47,7% não haviam sido alfabetizadas. Entre as pardas o índice chegou a 44,5% e a taxa entre crianças brancas, foi de 35,1%. Há dois anos, esse índice não chegava a 30% nem entre as pretas, pardas e brancas.
A pesquisa, no entanto, mostra que a taxa de crescimento do analfabetismo na faixa de 6 a 7 anos, entre 2019 e 2021, foi maior entre crianças brancas: 88,5%, contra 69% entre crianças pretas e 52,7% entre crianças pardas.
Pobreza
Entre as crianças que moram nos 25% de domicílios mais pobres do país, 51% não sabem ler e escrever. Já entre as que moram nos 25% mais ricos, 16,6% ainda não foram alfabetizadas corretamente.
Responsabilidade dos governos
Apesar da pandemia da covid-19 ter contribuído para o aumento da evasão escolar, já que a maioria dos lares brasileiros não tem internet para que as crianças pudessem acessar as aulas online, nem os pais tinham condições sociais e conhecimento para dar suporte aos filhos que não estavam frequentando as aulas presenciais, especialistas em educação criticam a inércia dos governos em oferecer um suporte adequado a essas crianças.
Para a presidenta do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo(Apeoesp), Maria Isabel Azevedo Noronha, a professora Bebel, o fechamento das escolas durante a pandemia foi uma medida acertada e necessária no esforço de mitigar seus efeitos. Mas, a falta de aulas presenciais não justifica, no entanto, a inação dos governos federal, estaduais e municipais em cuidar dos mais vulneráveis.
“A adoção de políticas públicas específicas poderia ter diminuído esse impacto. Lamentavelmente os governos preferiram se empenhar para forçar o retorno às aulas presenciais, e não deram condições técnicas, com equipamentos adequados, ou ofereceram capacitação aos professores, que de uma hora para outra se viram obrigados a lidar com um novo modelo de ensino. A ajuda financeira e técnica também deveria ter sido dada aos alunos”, ressalta Bebel, que também é deputada estadual pelo PT de São Paulo.
População sem acesso internet
Uma pesquisa realizada em 2019 pelo Centro Regional de Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) já mostrava que 46 milhões de brasileiros não tinham acesso à internet. Desse total, 45% explicam que a falta de acesso acontece porque o serviço é muito caro e para 37% dessas pessoas, a falta do aparelho celular, computado também era uma das razões pela falta de acesso.
O jornal Folha de São Paulo questionou o Ministério da Educação por que, apesar de ter desde o início da pandemia uma secretaria exclusiva para a alfabetização, não desenvolveu nenhum programa ou destinou recursos extras às escolas para evitar prejuízos nessa fase de aprendizado. O MEC não respondeu sobre suas ações.
* Com informações do G1 e Folha de São Paulo.