Escrito por: André Accarini

Em encontro com sindicalistas, Haddad reforça plano de reconstrução de SP e do país

Lideranças sindicais da CUT e demais centrais sindicais, além de dirigentes de vários sindicatos, participaram do encontro que teve como objetivo dialogar sobre o futuro do estado de São Paulo e do Brasil

Roberto Parizotti

O futuro do estado de São Paulo foi tema de um encontro na tarde desta terça-feira (12) na sede da CUT, em São Paulo. Representantes da CUT-SP, das centrais sindicais e dirigentes de várias entidades receberam a visita de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, ex-prefeito da capital paulista e pré-candidato ao governo do estado. No encontro, as lideranças sindicais expuseram suas expectativas com relação à retomada do desenvolvimento de São Paulo com geração de emprego e renda e proteção aos direitos dos trabalhadores e das trabalahdoras.

Ao fazer uma análise sobre a atual situação, não somente do estado, mas do Brasil como um todo, Haddad reforçou que o ano de 2002, em que os eleitores vão escolher lideranças que vão ocupar o Poder Executivo – Presidência da República e governos dos estados -, é crucial para a  sociedade decidir que país quer deixar para as próximas gerações.

“Estamos vivendo o ano de nossas vidas. A eleição de Lula não é somente mais uma eleição, um momento que a gente vive a cada quatro anos. Se Boslonaro for reeleito, teremos uma catástrofe institucional, social, econômica e internacional”, disse Haddad.

O ex-ministro elencou a série de tragédias vividas pela sociedade nos dias de hoje como a miséria, a fome, o desemprego, a inflação e os altos preços dos alimentos que penalizam, sobretudo, a população mais pobre. “O país tem hoje cerca de 20 milhões de pessoas passando fome. E por culpa, ele reforça, é do sistema que foi imposto a partir do golpe de 2016 e que resultou na eleição do atual presidente”, disse.

Ainda sobre o país, Haddad falou dos retrocessos em direitos e políticas públicas. “Temos a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] rasgada, a pauta ambiental degradada, direitos educacionais desconsiderados – mais de 25% das crianças e jovens ficaram sem escola na pandemia e o país hoje não tem nenhum plano para consertar isso”.

“Assim como não tem nenhum plano para resolver a fila do SUS [Sistema Único de Saúde] que durante os últimos dois anos, suspendeu vários dos atendimentos para a atenção à pandemia”, completou.

As pessoas não estão se dando conta do tamanho do buraco em que colocaram o país- Fernando Haddad

Fernando Haddad/Foto: Roberto Parizotti


Ao citar a alta dos preços dos alimentos, Haddad disse que não se sabe “como o trabalhador chega no fim do mês” e que a situação vem piorando cada vez mais a já fragilizada condição financeira dos brasileiros. “Hoje, 80% das famílias estão endividadas”, disse, complementando: “E o número cresce a cada mês”.

Em uma reflexão sobre o modo torto de pensar da elite brasileira, Haddad falou como o professor que entende de economia e sociologia e, por isso faz análises sólidas sobre o que está acontecendo no país.  

“A burguesia raciona assim: ‘uma parte é minha outra é do trabalhador, mas para eu ganhar mais o trabalhador tem que ganhar menos’. Eles não pensam no aumento da produtividade com trabalhadoresganhando mais, consumindo mais, fazendo com que a produção aumente, gere mais emprego e eles também ganhem mais”, disse.

Essa experiência, ele lembra, já foi vivida pelos brasileiros durante os governos progressistas de Lula e Dilma. “O trabalhador estava feliz, com emprego, com seu carro, com filho na universidade, mas tudo isso começou a ser destruído quando, em 2014, sabotaram o governo da Dilma e o golpe resultou no que vivemos hoje”, afirmou Haddad.

Com base nessas experiências de vida dos brasileiros, da lembrança de tempos em que ir ao supermercado, encher o carrinho, comprar carne, colocar gasolina do carro eram coisas possíveis, Haddad fez uma convocação ao movimento sindical, reforçando que a hora de dialogar sobre os problemas que vivemos é agora e garantir que a mudança de país ocorra já no primeiro turno. Segundo Haddad, o momento é crucial para a militância construir a vitória.

“A hora de virar voto é agora. Não é possível que as pessoas não consigam enxergar o que Basil se tornou hoje [...] Lula está firme, está forte, saudável, cheio de vida e vontade de fazer um governo ainda melhor que nos seus outros mandatos”, disse Haddad.

São Paulo

“Se há três anos alguém fizesse uma previsão do momento que vivemos hoje no estado de São Paulo, diríamos que seria uma previsão catastrófica, impossível. Mas aconteceu. Temos Bolsonaro na presidência, Rodrigo Garcia como governador e Ricardo Nunes como prefeito. Nunca imaginei ver o retrocesso em direitos políticos e sociais que vemos hoje. Nem na ditadura militar foi assim”, disse Haddad analisando o cenário como um dos piores possíveis.

Sobre São Paulo, a avaliação é de que há 30 anos, desde que o PSDB assumiu o poder, o estado que tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) do país (responde por 31,8%) e um potencial incalculável de desenvolvimento que vem sendo negligenciado pelas sucessivas gestões.

“Acho que temos que ter uma política de recuperação da economia. Isso brota em forma de salário, expansão, emprego e renda. Temos que qualificar a juventude e dar as oportunidades que não estão sendo oferecidas para quem saiu do mercado de trabalho. Tem que ter reinserção”, afirmou Haddad.

Entre outros problemas, o ex-ministro citou a falta de uma política industrial no país que recupere e coloque o setor novamente em um lugar de destaque na economia e no desenvolvimento do país. E o estado de São Paulo é mais industrializado do Brasil.

“Estamos trabalhando um plano de reconstrução do país. E São Paulo é decisivo. É nosso objetivo colocar o país inteiro remando para o lado certo e faremos o brasileiro voltar a acreditar em um futuro melhor”, disse Haddad.

Os problemas do estado

Os dirigentes das centrais sindicais aproveitaram a presença de Haddad para expor as mazelas do estado e, assim, construir um diálogo voltado à solução de diversos problemas enfrentados pelos paulistas.

A desindustrialização foi apontada pelo presidente da CUT São Paulo, o professor Dougals Izzo, como ‘problema grave’ e que precisa de solução com urgência. “A saída da Ford e agora o fechamento da Toyota, em São Bernardo, mostram que estamos em processo de desindustrialização. Estamos perdendo nossa participação no PIB e na indústria”, disse o dirigente.

Douglas Izzo/Foto: roberto Parizotti

Ele também lembrou que o estado já foi referência na saúde e na educação e que ao longo de 30 anos, o PSDB “não teve nenhuma política efetiva tanto para essas áreas quanto para o desenvolvimento econômico de São Paulo”.

Em especial sobre a educação, o presidente da CUT-SP relatou que, como servidor público, o que viu foi “o sucateamento do ensino e o desmonte da carreira dos professores – um desrespeito”. Ele ainda citou as privatizações estaduais e as reformas que trabalhadores do setor público como a reforma administrativa e a reforma da previdência do estado que fez com que até os aposentados tivessem um desconto significativo em seus benefícios.

Lamentando que os governos passados sempre se mostram intransigentes em negociações, Douglas afirmou que o campo progressista tem um projeto para recuperar e construir um estado mais justo atendendo à população, em especial, os mais pobres.

Pautas

Ao final do encontro, sindicalistas levaram algumas sugestões ao pré-candidato sobre demandas urgentes toda população como questões relacionadas à saúde e ao trabalho dos servidores do setor, a necessidade de concursos públicos, inclusão digital e propostas para a retomada da indústria. Haddad recebeu documentos das mãos de sindicalistas com essas pautas.

A expectativa é de que outros encontros regionais sejam realizados entre Haddad e sindicalistas, ao longo dos próximos meses, para dialogar sobre temas específicos, relacionados às diferentes categorias de trabalhadores.

Foto: Roberto Parizotti