Escrito por: Rosângela Fernandes, da CUT-RJ

Em Itaguaí, famílias dão exemplo de resistência popular no Campo dos Refugiados

Desde o dia 1º de Maio, cerca de três mil famílias sem teto, sem emprego e sem renda, ocuparam um terreno abandonado pela Petrobras

Érick Vermelho e Leandro de Jesuítas

 

Em Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro, a 70 quilômetros do centro da capital, desde o início do mês, o Campo de Refugiados 1º de Maio é um espaço de luta e resistência.

O espaço, um retrato do Brasil atual, em que a fome e a miséria se alastram de forma assustadora, foi ocupado por trabalhadores e trabalhadoras, que sem emprego, sem renda, sem ter onde morar, estão no local com suas crianças.

Eles decidiram não aceitar o desalento e escolheram uma data simbólica, o Dia Internacional do Trabalhador, para ocupar um espaço também carregado de significado, pois é um terreno sem uso da Petrobras, a maior estatal do país, que vive um processo de desmonte para ser privatizada a preço de banana, como quer o governo de Jair Bolsoanro (ex-PSL).

Nas barracas de lona, cerca de três mil famílias se organizam para fazer da área sem uso da Petrobras, onde um antigo projeto de instalar um polo petroquímico foi descartado, espaço de moradia. Com apoio dos movimentos populares e sindicatos, foram organizadas duas cozinhas coletivas e grupos de trabalho, para limpeza, infraestrutura e cultivo da horta que já traz nova vida ao que antes era mato e abandono.

Érick Vermelho e Leandro de Jesuítas

Eduardo Novaes, que participa da coordenação da ocupação, relata que muitas famílias são vítimas do agravamento da situação econômica com a pandemia e falta de políticas públicas do governo Bolsonaro para assistência à população.

“Muita gente teve que entregar sua casa por não poder pagar o aluguel, como aconteceu na minha família. Imagine o desespero de um chefe de família pegar sua família e ir para a rua”, lamenta.

A decisão de batizar o espaço de Campo de Refugiados foi tomada como forma de denunciar, inclusive internacionalmente, a situação do país.

“Essas pessoas chegaram com a única coisa que elas têm: a disposição de lutar. Eles não têm mais nada. Enviamos um requerimento à Organização das Nações Unidas [ONU] para Assuntos Refugiados para qualificar a ocupação como um centro de refugiados. Afinal, todos aqui são, de fato, refugiados da pandemia, do genocídio, da fome, do desemprego, da miséria” afirma Érick Vermelho, um dos organizadores do movimento.

A ocupação, que tem apoio de sindicatos, da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da CUT-Rio chama também atenção para a situação da Petrobras, que no governo Bolsonaro é voltada para garantir lucro dos acionistas, enquanto a população sofre com aumentos absurdos no preço dos combustíveis e do gás, levando muitas famílias ao desespero sem ter como cozinhar.

Uma das preocupações do movimento é resistir à desocupação e já houve sucesso na primeira tentativa, quando a PM desistiu de retirar as famílias do terreno, diante do tamanho e da organização da ocupação. 

Érick Vermelho e Leandro de Jesuítas

Para o futuro, não faltam planos: “Esse espaço não tinha nada, apenas lixo e algum gado. Estamos fazendo aqui um acampamento urbano, mas com área para plantio, com hortas à beira rio e também com a ideia de criação, no futuro, de uma área de preservação para um parque municipal que possa ser usado, de fato, pela população. Queremos fazer dessa a região mais bonita de Itaguaí”, planeja Érick Vermelho.

*Edição: Marize Muniz