Alta da inflação impacta no resultado dos reajustes de julho, diz Dieese
Maioria dos reajustes salariais fica abaixo da inflação. Resultado é impacto do INPC de junho, que atingiu a maior taxa do ano devido a política de preços da Petrobras que levou à greve dos caminhoneiros
Publicado: 29 Agosto, 2018 - 16h23 | Última modificação: 29 Agosto, 2018 - 17h29
Escrito por: Tatiana Melim
Em julho, cerca de 51% dos reajustes salariais ficaram abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), aponta análise feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a partir dos dados preliminares do Sistema Mediador do Ministério do Trabalho.
O percentual representa uma mudança no quadro observado no primeiro semestre deste ano, quando 78,8% dos reajustes salariais tiveram ganhos reais, 11,6% conseguiram a recomposição da inflação do período e apenas 9,5% ficaram abaixo do índice.
Segundo Dieese, que analisou 51 reajustes registrados no Mediador, a alteração no último mês em comparação com o resultado do semestre inteiro pode ser reflexo da alta da inflação em junho. O índice de reajuste necessário para repor a inflação saiu de 1,76% (data-base em junho) para 3,53% (data-base em julho).
“Esse repique de julho, com o aumento da inflação, impactou no resultado. Muitas categorias que estavam em processo de negociação se basearam em uma projeção de inflação mais baixa e, de repente, registramos uma alta. Por isso, é possível que algumas categorias tentem reabrir o debate sobre o reajuste”, explica o Diretor Técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.
Os impactos sentidos nas negociações são reflexos ainda da política de preços dos combustíveis adotada pelo golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), que passou a reajustar diariamente os preços dos combustíveis de acordo com a variação internacional do barril de petróleo e a flutuação cambial. Essa política foi responsável pela greve dos caminhoneiros que impactou nos resultados das taxas de inflação dos últimos meses.
Segundo Clemente, passado o impacto da alta na taxa, a tendência é que as negociações retomem o patamar registrado no primeiro semestre de 2018.
“Como o índice de inflação está muito baixo, o que é um reflexo da estagnação econômica, os patrões estão repondo a inflação. O problema é que estão garantindo a inflação e ao mesmo tempo atacando as cláusulas sociais nas mesas de negociação”, diz.
Para ele, apesar da média (78%) dos reajustes acima da inflação não ser um dos desempenhos mais altos do último período – o melhor foi em 2012, com 93,3% -, é um resultado favorável e mostra a luta do movimento sindical para garantir reajustes e barrar perdas salariais mesmo diante da longa recessão econômica e do alto índice de desemprego.