Escrito por: CUT-RS

Em Porto Alegre, rodoviários da Carris entram em greve contra leilão de privatização

Prefeito quer entregar para a iniciativa privada todos os bens e ações da empresa — o que inclui ônibus e terrenos das garagens

Filipe Castilhos/Sul21

Os rodoviários da Companhia Carris Porto-alegrense iniciaram uma greve, na manhã desta segunda-feira (2), em protesto contra o leilão de privatização da empresa marcado pela gestão do prefeito bolsonarista Sebastião Melo (MDB) para logo mais, às 13h30, com lance mínimo de R$ 109 milhões.

Após um mês de tentativas de negociação com a Prefeitura e a atual direção da Carris, o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Porto Alegre (STETPOA), ligado à UGT, deflagrou uma greve a partir das 5 horas desta segunda-feira, quando os primeiros veículos começaram a deixar a garagem da empresa.

Conforme acordo firmado pelo Sindicato na sexta-feira (29) junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), que estabeleceu um regramento para a greve, os trabalhadores deverão manter em funcionamento um percentual mínimo de 60% dos ônibus.

Melo entreguista

Melo quer entregar para a iniciativa privada todos os bens e ações da empresa — o que inclui ônibus e terrenos das garagens –, bem como conceder a operação de suas linhas — responsável por 22% do sistema da Capital — por um período de 20 anos.

Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, a tentativa de privatização da Carris é mais um capítulo da política entreguista e desenfreada do Melo, que tem retirado direitos de trabalhadores e da população, e promovido concessões de espaços públicos, como o Parque da Harmonia, para agradar os grandes empresários de Porto Alegre e financiadores de campanha eleitoral”. 

O dirigente sindical destaca que nos últimos anos a Prefeitura tem injetado valiosos recursos públicos nas empresas privadas de transporte coletivo, sob a alegação de evitar aumentos da tarifa, e agora tenta vender a Carris para favorecer ainda a iniciativa privada.

Empresa centenária

Fundada em 1872, a Carris é uma empresa centenária. Começou a operar uma linha de bonde entre o Centro e o Meninos Deus, ainda puxado a mulas.

Em 1908, coloca em circulação o primeiro bonde elétrico da cidade. Os primeiros ônibus da empresa começariam a circular em 1929.

Em 1952, em razão da precarização do serviço e da gestão da empresa americana Bond & Share, inicia um processo de intervenção, que culminaria com a encampação no ano seguinte. Em 1970, encerra a circulação dos bondes elétricos.

As mais conhecidas da Carris, as linhas Ts, transversais, começam a circular em 1976, no período de implantação de corredores de ônibus da Capital. Às linhas Ts, de 1 a 4, soma-se no ano seguinte a Campus Ipiranga, que liga o Centro ao Campus do Vale da UFRGS, recém inaugurado.

Durante os governos do PT na Prefeitura, ocorreu a expansão das linhas, de 5 a 10, a criação da T1 Direta e da Linha Turismo. Em 2006, é criada a T11 e, em 2016, a linha T12.

Perda de qualidade dos serviços

Para o geógrafo Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a primeira consequência prática da venda da Carris será colocar Porto Alegre no mesma patamar que a maioria das grandes cidades brasileiras, em que o sistema de transporte público é inteiramente gerido por empresas privadas.

Na avaliação dele, isso representa um prejuízo para a cidade, uma vez que a Prefeitura passaria a ter menos capacidade de controle e gestão da qualidade do serviço.

“O principal ponto que deve despencar é a qualidade. Os empresários vão poder descumprir frequência, não cumprir horário de partida, precarizar mais os veículos, porque não vai ter nenhuma pressão de melhoria feita pela Carris, como empresa pública. O empresário não vai mais ter uma concorrência com empresa pública, então não vai ter nenhum risco de eles perderem o serviço, de eles serem ameaçados, da Prefeitura poder impor alguma mudança, porque eles vão ter total controle do serviço”, avalia.