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Acidentes aumentam após população abandonar gás de cozinha

Com aumento do valor do gás de cozinha, vítimas de queimaduras graves relatam ao Portal da CUT as consequências do uso do álcool no fogão à lenha

Publicado: 18 Dezembro, 2017 - 18h04 | Última modificação: 20 Dezembro, 2017 - 12h05

Escrito por: Walber Pinto

Divulgação
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Os aumentos sucessivos nos preços do gás de cozinha têm feito muita gente buscar alternativas perigosas para substituir o botijão de gás. Em Recife, segundo entrevista do médico Marcos Barreto, chefe do setor de queimados do Hospital da Restauração, à imprensa local, cerca de 40 pacientes que chegaram com queimaduras de primeiro ou segundo grau usaram gás clandestino, álcool ou etanol. Essas ocorrências já registram 62% do total de queimados.

Só neste ano, o reajuste do preço do botijão de gás subiu 67,8% - o valor médio do botijão saltou de R$ 55,74 na primeira semana de janeiro, para R$ 65,64 no início de dezembro. E como os distribuidores decidem quanto do aumento vão repassar para os consumidores, em algumas regiões o preço pode ser ainda mais alto.

Por não ter dinheiro para pagar pelo gás de cozinha muita gente está se arriscando com lenha, etanol e álcool. Foi o que ocorreu com Jéssica Maria da Costa, 24, que mora com o marido e a filha de 2 anos, no bairro Casa Amarela, na periferia do Recife. Para cozinhar macarrão para a família, Jéssica colocou álcool em duas latas de ervilha, colocou a panela de água em cima. Em seguida, saiu para pegar um biscoito para a filha, sem querer, bateu o pé em uma das latas e as chamas se espalharam pelo seu corpo.

O acidente provou queimaduras de segundo e terceiro graus no pescoço, braço e orelha. Jéssica está internada há 16 dias no hospital de queimados de Recife.

“Eu e meu marido estamos desempregados”, conta ao justificar a opção perigosa para cozinhar. “O gás acabou e a gente não tinha dinheiro para comprar outro botijão. A única alternativa foi usar álcool”, afirma.

Casos como o de Jéssica e até mais graves têm sido registrados cada vez com mais frequência no Hospital da Restauração, conta uma enfermeira que não quis se identificar. “E, nos últimos dias, a quantidade de pessoas que chegam ao hospital vítima de queimaduras cresceu ainda mais”, diz a enfermeira que confirma: “A alta no preço do gás é o motivo desses acidentes que tem feito a população a cozinhar a lenha e com gás clandestino”.

Um acidente semelhante ao de Jéssica aconteceu com Messias da Silva, 23, morador do Bairro São José, também em Recife, que está em coma na UTI do Hospital da Restauração. O jovem foi socorrido pelo tio, Joelson da Silva, 36, que falou com o Portal da CUT sobre a tragédia.

“Não temos dinheiro para comprar o botijão de gás, daí Messias foi fazer o fogo em duas latas. Como o álcool de uma das latas estava acabando, ao colocar mais álcool, o fogo subiu e a garrafa explodiu na mão dele”, diz Joelson.

Messias vive numa casa com mais sete pessoas, cuja renda familiar é de apenas R$ 120 por semana. O dinheiro vem dos bicos que Joelson faz como pedreiro. Como parou tudo para acompanhar o sobrinho, toda a família está dependendo da ajuda da comunidade local para sobreviver.

Mesmo depois do acidente, a família não tem uma opção segura para substituir o gás. “Depois do acidente, estamos cozinhando no fogão a lenha porque o dinheiro que recebo mal dá para comprar comida”, reitera Joelson.

Carlos Veras, presidente da CUT-Pernambuco, explica que o avanço de acidentes depois da alta nos preços do gás de cozinha “é mais um fruto do processo do golpe de 2016”.

Segundo ele, o desemprego que atinge mais de 13 milhões de brasileiros e brasileiras, o congelamento dos gastos com saúde e educação, a nova lei Trabalhista que precarizou a mão de obra, reduziu os salários e legalizou o bico está colocando os trabalhadores e as trabalhadoras de volta à linha da miséria, sem dinheiro para nada, “imagine pagar mais de R$ 65 por um botijão de gás”.

É por isso, diz Veras, que, “os trabalhadores e as trabalhadoras estão usando álcool, lenha e gás clandestino para cozinhar. Elas estão sem escolha. São pobres que sofrem com o reajuste do gás, e ainda estão fora do orçamento do governo que cortou programas sociais, como o Bolsa Família”, pontua o dirigente.

Preço do gás pode subir ainda mais

O preço do gás pode piorar ainda mais com a nova política de preços na Petrobras depois que Pedro Parente assumiu o comando da estatal. Quem afirma é Zé Maria Rangel, coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), que alerta sobre o desmonte na cadeia produtiva de óleo e gás no Brasil.

“Se o preço do barril sobe, o gás sobe porque existe um acordo para frear a produção mundial de petróleo”, afirma o dirigente.

Para ele, “a venda das distribuidoras e da Liquigás faz parte da nova política de preço baseada no mercado internacional. “Se subir lá, sobe aqui. É essa política que tem levado a população a cozinhar a lenha”, completa.