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Em São Paulo, resistência ao golpe é feminina e jovem

No Vale do Anhangabaú, elas apontam que pressão tem viés machista e de incômodo com avanço

Publicado: 17 Abril, 2016 - 18h44 | Última modificação: 17 Abril, 2016 - 19h34

Escrito por: Luiz Carvalho e Vanessa Ramos

Sérgio Silva
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Enquanto lideranças dos movimentos sindical e sociais se revezavam no caminhão de som no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, um público majoritariamente feminino e jovem ajudava a formar o mar vermelho que, por volta das 16 horas, reunia 150 mil em defesa da democracia.

Mulheres como a estudante de Serviço Social Aline Souza, 26. Negra, periférica, beneficiária do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e a primeira da família a entrar em uma faculdade, ela apontou a dificuldade em enfrentar o discurso golpista da mídia.

“Na periferia, a resistência é pelo que diz a mídia e aí fazemos o debate para descontruir o que é dito diariamente na TV, que tem mais respeito do que diz o boca a boca. O movimento estudantil vem militando, um a um, explicando que o golpe é o impeachment, não é legítimo e estamos militando com a sociedade”, afirmou.  

A estudante de Designer de Interiores, Iane Machado, 19, viajou com as amigas de Embu das Artes para a capital. Ela não participa de nenhum movimento social, mas é igualmente contra o golpe. “Eu votei em 2014, aos 16 anos, na Dilma, e a democracia está sendo ameaçada e precisamos defendê-la”, diz, ao avaliar que a presidenta da República tem capacidade de governar o país e fazer a diferença, diferente da imagem que grandes veículos tentam mostrar.

Em tempos de golpe, a manipulação midiática, segundo a jovem aprendiz Leandra Souza, 18, reproduz o machismo na figura de Dilma. “Eles (imprensa) querem passar a imagem de que a presidenta é louca, desmerecendo o que ela fala e tirando a importância de toda uma trajetória de luta, inclusive no período da ditadura militar”, falou, ao defender não só a permanência do mandato, como maior participação das mulheres na política.

A gestora financeira, Cristiane Lisboa, negra, moradora da zona Leste de São Paulo, relata a campanha que tem feito em feiras livres e nas saídas dos metrôs. “Explicando a situação aos indecisos é fácil desconstruir. O que está acontecendo tem a ver com o crescimento da classe baixa, que incomodou a direita. É só comparar como era o Brasil antes e depois dos governos Lula e Dilma. É golpe o que estão fazendo porque Dilma é inocente”, reforça.

A designer, Eliana da Silva, 40, lembra que participou dos protestos pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor. “São processos completamente diferentes. No impeachment do Collor, quem votou nele queria que saísse, as pessoas estavam arrependidas, insatisfeitas com o governo. Não é o nosso caso. Quem não votou é que quer a saída dela. Queremos que respeitem nosso voto. Nós escolhemos uma governante para nosso país e quem não ganhou, que espere a próxima eleição para fazer campanha”, disse.

Organizada contra o golpe

Torcedores da Gaviões da Fiel, o sociólogo Rafael Castilho e a chefe de cozinha, Thaís de Andrade, foram ao centro de São Paulo para se manifestar contra o golpe e aproveitaram para denunciar a criminalização que está ocorrendo contra a torcida organizada. 

“No governo militar de 1964, as pessoas eram presas por terem cometido crime político, mas, agora, querem nos prender com a desculpa de crime comum e formação de quadrilha. Foi uma violência o que fizeram com a Gaviões, atitudes suspeitas contra uma torcida que vem falando contra a rede Globo, a máfia da merenda, do governador de São Paulo”, afirmou Rafael.

Neste cenário de golpe, Thaís alerta para o papel de perseguição que tem desempenhado o deputado e atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB). “Sempre tentam colocar a torcida como marginal. Mas, quanto mais tentam nos retalhar, mais nós nos unificamos, não só pelas denúncias, mas pela própria história corintiana”, diz a torcedora.