Escrito por: André Accarini
Projeto “Educação Sindical e Organização de Jovens Trabalhadores no Brasil” é uma parceria com a central sindical alemã DGB. Desde 2005, ações promovem maior participação da juventude no movimento sindical
A parceria de longa data da CUT com a DGB, central sindical alemã, foi destacada em um seminário realizado em São Paulo, cujo objetivo foi fazer um balanço das ações voltadas à formação da juventude ao longo dos anos. O projeto “Educação Sindical e Organização de Jovens Trabalhadores no Brasil” começou em 2005. O seminário é parte de uma série de atividades conjuntas das duas centrais, que seguem até o dia 7 de dezembro.
No início do seminário, a secretária de Juventude da CUT, Cristiana Paiva, traçou um panorama das ações realizadas nos últimos tempos. Entre eles a plenária nacional da juventude durante o 14º Congresso Nacional da CUT (CONCUT) que, de acordo com a dirigente, trouxe perspectivas importantes para ampliar a participação dos jovens na atuação da Central.
“Ampliamos o debate de jovens de todas as categorias, dos rurais aos transportes, tendo contanto e conhecendo de maneira mais profunda as realidades dessas juventudes que muitas vezes não tinham a exata noção do poder de representatividade da CUT”, disse Cristiana.
Com a parceria entre a CUT e a DGB, ela reforça, o intuito, desde o início, é ter uma maior participação de jovens nas instâncias da Central. “Quando não temos uma secretaria em uma entidade, por exemplo, o debate sobre as demandas dos jovens não é levado à pauta. Levar isso para as bases sindicais é fundamental para, inclusive, atrair cada vez mais jovens para a luta por direitos”, disse a sindicalista.
Para ressaltar a importância da participação da juventude na construção do movimento sindical, a primeira mesa trouxe a avaliação do presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre. Ele destacou a criação de um Conselho no âmbito interno da CUT para tratar de questões de organização e ressaltou a participação dos jovens.
“A juventude pleiteia muitas coisas, como o crescimento da participação nos debates e decisões. E nesse Conselho, temos como ponto fundamental a participação ativa da juventude”, disse Sérgio Nobre.
“Se fizermos a juventude crescer nos sindicatos, na base, isso se replicará nas nossas entidades”, completou o presidente da CUT.
Para a vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, o processo de engajamento dos jovens nas bases sindicais, assim como as próprias pautas da juventude são um desafio. “É um debate que não é fácil de se fazer. As soluções são complexas. É preciso fortalecer os diálogos olhando para as diferentes realidades inserindo a juventude no mercado de trabalho”, disse a dirigente.
Como exemplo ela cita a juventude pobre que não tem os mesmos acessos das classes mais abastadas. Juvandia ainda afirmou que é preciso ampliar a participação dos jovens na CUT, o que inclui uma maior participação nos fóruns sindicais, seminários, plenárias e debates.
O secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, em sua saudação, afirmou que o ´espírito jovem´ dos sindicalistas permanece e isso se dá, em especial, com o que ‘se tem a aprender’ com a juventude. E parcerias, de acordo com ele, fomentam a integração com os jovens.
“As ações que desenvolvemos ao longo dos tempos são fruto da boa relação que temos com o movimento sindical internacional. E a CUT chegou onde chegou também por causa dessa relação”, disse o dirigente em relação à parceria com a DGB.
Já a secretária de Formação da CUT, Rosane Bertotti, pasta por meio da qual a maior parte das ações é executada, destacou o alcance do projeto. “Fortaleceu as juventudes nos estados e nas escolas sindicais. Todo o processo formativo e organizativo nasce a partir dos estados e escolas sindicais”, disse.
Ela ainda enalteceu as ações desenvolvidas ao longo dos anos e anunciou que novos projetos em parceria estão por vir. “Este é um momento de celebrar a fase final do projeto que começou lá em 2005, mas é momento de olhar a nossa organização também e ver, de fato, o papel da juventude na nossa atuação”, afirmou Rosane.
Iniciado em 2005, com atuação conjunta com a DGB Bildungswerk, braço da central sindical alemã para a formação, o projeto teve várias fases.
De 2005 a 2008, a fase inicial com tema Juventude, Sindicalismo e Inclusão Social, teve foco no fortalecimento da juventude.
De 2008 a 2011, a segunda fase teve como tema Promoção da Juventude Sindical, cujo principal resultado foi a criação da Secretaria Nacional de Juventude da CUT.
De 2017 a 2023, a fase três foi voltada à educação sindical e à organização dos jovens trabalhadores do Brasil.
Após 2017, com governo de extrema direita, ataques aos direitos e com a pandemia, as ações se tornam mais difíceis, já que as atividades migraram do presencial para o virtual. Mas ainda assim, a luta do movimento sindical se manteve de pé e as atividades presenciais da juventude puderam ser retomadas em 2022.
Durante o seminário foi apresentado o balanço do último período em relação às ações realizadas.
Entre as mais recentes a live do Dia Nacional da Juventude, as oficinas de planejamento, o curso de formação “Jovens Comunicadores’, que trouxe uma proposta diferenciada de comunicação com linguagem voltada à juventude. Ao todo, 30 jovens sindicalistas participaram, de forma on-line.
Em 2021, por exemplo, a secretaria nacional de Formação produziu sete vídeos formativos com a participação do renomado jornalista Rodrigo Viana, com o propósito de subsidiar as atividades de formação para os jovens. Exemplo, foram realizados 15 seminários virtuais de formação e planejamento que, além dos vídeos, também foram subsidiados com pesquisas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Em 2022, foi realizado o Encontro Nacional da Juventude, na Praia Grande, litoral de São Paulo, com a participação de 24 secretários de Juventude das CUT´s nos estados. Nele foi criado o Coletivo Nacional de Juventude da CUT (JCUT) e definida a realização de sete encontros regionais ainda naquele ano. Esses encontros regionais contaram com a organização conjunta dos secretários estaduais de juventude, representantes de juventude dos Ramos da CUT e Secretaria Nacional de Juventude, viabilizando a consolidação dos coletivos estaduais de juventude existentes e a sua criação nos locais com menor grau de organização sindical jovem. Foram abordadas as pautas da juventude, como o mundo do trabalho, direitos e as eleições.
Um novo encontro nacional foi realizado em 2023, já com uma ampliação do seu escopo: contou com 53 participantes, entre dirigentes jovens e formadores. O resultado do balanço lá realizado foi o de que que a estratégia de encontros regionais foi acertada, e que deveriam prosseguir agora com um foco renovado para fortalecer a participação da juventude nos Congressos Estaduais da CUT (CECUT´S) e, consequentemente, para o 14º Congresso da CUT (CONCUT), realizado em outubro deste ano.
Já no CONCUT, foi realizada a Plenária Nacional da Juventude, com a participação de mais de 150 jovens sindicalistas de todo o país. O principal objetivo foi promover uma maior incidência e participação de jovens nos espaços deliberativos da CUT e de suas entidades filiadas – os ramos da CUT, sendo elaborada resolução nesse sentido, além do apoio à recondução da Secretária Nacional de Juventude Cristiana Paiva para a recondução por mais um mandato.
Ao longo de todo esse tempo, o projeto “Educação Sindical e Organização de Jovens Trabalhadores no Brasil” contou ainda com diversas atividades e produtos como vídeos, podcasts.
A parceria entre as entidades deverá continuar nos próximos anos. A perspectiva é de resgate do projeto voltado à juventude e à formação, mantendo a organicidade criada nas relações entres as secretarias.
Nesta fase, terá destaque o olhar sobre políticas públicas com base na atuação das novas gestões das secretarias estaduais da CUT e de espaços no governo federal.