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Em SP, sindicato luta para colocar sepultador na lista de prioridade da vacinação

Dirigente da CUT e do Sindicato dos Servidores Públicos de São Paulo afirma que prefeitura esconde dados e que a priorização da vacina para a categoria tem sido discutida no governo e na justiça

Publicado: 04 Fevereiro, 2021 - 08h30 | Última modificação: 04 Fevereiro, 2021 - 08h58

Escrito por: Érica Aragão

Agência Brasil
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Além da luta diária pela vacinação de todos e todas, de forma gratuita, e dos protestos cotidianos contra a morosidade da vacinação nos trabalhadores e nas trabalhadoras da saúde em frente aos hospitais e postos de saúde, os representantes do Sindicato dos Servidores Públicos de São Paulo (Sindsep) travam uma batalha na prefeitura da cidade para inserir os sepultadores na lista de prioridade da imunização.

O sepultador atua em um serviço essencial e faz parte de uma das áreas de emergência decretadas pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) no início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Mais que isso, para evitar a propagação do vírus e proteger os familiares das vítimas, as autoridades proíbem familiares de fazerem velório e têm limitado o número de familiares no enterro em menos de 10 ou cinco pessoas, dependendo da cidade. Quem não pode deixar de estar presente, com todos os riscos que isso implica, é o sepultador. E é essa categoria que o Sindsep-SP luta para proteger.

“Temos família. A gente entra em hospital, manuseia o corpo, é uma classe que carece, sim, de ser vista pelas autoridades públicas como uma classe de fato essencial”, disse o motorista do Serviço Funerário, Cláudio de Oliveira dos Santos, à Folha de São Paulo, ao defender a priorização dos colegas de profissão.

O secretário de Imprensa e Comunicação do Sindsep e diretor executivo da CUT Nacional, João Batista Gomes, o Joãozinho, disse que a entidade tem representação na secretaria de saúde da cidade e tem discutido a importância da prioridade da vacinação também para estes trabalhadores.

“A vacina está vindo à conta gotas e se demorar mais para chegar, mais profissionais podem se contaminar e morrer”, disse o dirigente.

Segundo ele, esta semana a vigilância sanitária conquistou a prioridade na fila da vacina. O sindicato quer a mesma prioridade na imunização para os sepultadores e o supervisor do Serviço Funerário já encaminhou a solicitação à prefeitura.

 “A vacina tem que fazer parte dos equipamentos de proteção obrigatórios para estes trabalhadores, que já precisam usar um macacão específico, máscara, luvas e álcool gel para evitar a contaminação da doença”, afirmou Joãozinho.

“O enterro dos mortos pela Covid já é um risco e isso a gente pode comprovar porque nenhum parente pode acompanhar velório do ente que morreu pela doença, mas temos também as mortes por outros problemas que no enterro as famílias acabam se aglomerando”, complementou o dirigente.

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Luta do Sindsep junto aos sepultadores 

Faltam dados

A direção do Sindsep  tem buscado na justiça o direito dos sepultadores se imunizarem o mais rápido possível.

Em quanto isso, a entidade briga para manter atualizados os dados sobre o número de vítimas na categoria. Numa discussão junto ao Ministério Público, o SIndsep denunciou que há dois dias a prefeitura não divulga os dados de mortos, contaminados, enterros, vacinados e número de trabalhadores infectados e que isso tem prejudicado o trabalho do sindicato.

“Eles escondem os números de morte e contaminação e a lista de vacinação. Quem garante que todo mundo que está tomando a vacina agora é da área de saúde de fato? E outra coisa, será que são do grupo de risco mesmo? É preciso vigiar e garantir este direito para os sepultadores, pela vida deles e seus parentes”, disse Joãozinho.

A médica infectologista, dirigente do Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo (Simesp) e da CUT São Paulo, Juliana Salles, disse que os sepultadores são um serviço essencial e que de forma alguma pode deixar de ser prestado. Além disso, a médica alerta para a redução do quadro de pessoal, uma estratégia da prefeitura para privatizar o serviço.

 “Em São Paulo há uma redução já prévia do número de servidores pela ausência de concursos e reposição e eles são fundamentais. Os sepultadores têm sobrecarga de trabalho na pandemia e devem ser priorizados, sim. A exposição destes trabalhadores pode aumentar o número de afastados e afetar o serviço essencial”, finalizou.

Joãozinho disse à Folha de São Paulo que o efetivo do serviço funerário está sucateado, que houve afastamentos do pessoal com mais de 60 anos e comorbidades, o que obrigou inclusive o serviço funerário a contratar trabalhadores terceirizados para dar conta do serviço.

O Serviço Funerário do Município de São Paulo é responsável pela gestão e administração de 22 cemitérios municipais, um crematório, 12 agências de contratação de serviços funerários e 114 salas de velórios, distribuídos em todas as regiões da capital. Fiscaliza, ainda, 20 cemitérios particulares e atualmente conta com um quadro de trabalhadores em torno de 2 mil pessoas, entre servidores e terceirizados.

*Edição: Marize Muniz