Escrito por: Redação CUT

Em vídeo, artistas exigem justiça pela morte de testemunha da chacina Pau D´Arco

Quatro anos após a chacina, testemunha do crime é assassinada no Pará. Artistas que defendem os direitos humanos se reuniram para cobrar justiça e proteção para os trabalhadores sem-terra da região

Cauê Angeli/Repórter Brasil

Artistas que defendem os direitos humanos publicaram um vídeo nesta terça-feira (2), exigindo justiça pela morte Fernando Araújo dos Santos, no dia 26 de janeiro deste ano. Ele era umas das testemunhas de um crime que ficou conhecido como Chacina de Pau D´Arco, ocorrido há quatro anos no Pará.

Leonardo Vieira, Cristina Pereira, Bete Mendes, Dira Paes, Osmar Prado e Gilberto Miranda, denunciam, no vídeo, que mais de um mês depois da morte de Fernando, prazo para a conclusão do inquérito, Policia Civil do Pará não apresentou nenhum resultado.

Virigina Berriel, diretora Executiva da CUT e integrante do Movimento Humanos Direitos (MHuD), que também é atriz, participa do vídeo. “Outros trabalhadores e lideranças continuam sendo ameaçados”, diz.

 

Tragédia anunciada

O grupo de artistas denuncia ainda que Fernando sabia que poderia morrer, mas a proteção do Estado não foi suficiente.  “Ele avisou das ameaças que sofria, cobrou uma ação do poder público”, diz Leonardo Vieira.

Semanas antes, Fernando havia relatado ao Repórter Brasil as ameaças que vinha sofrendo.

“Eu sinto que tá vindo coisa pesada pra nós aqui na [fazenda] Santa Lúcia”, disse o agricultor. A reportagem relata que Fernando vinha recebendo recados de pessoas diferentes que dizia “Os policiais estão pensando em vir aqui dar um jeito de não haver mais testemunha antes do julgamento. Não há testemunha, não há julgamento”, dizia um deles.

“A justiça do Pará precisa dar uma resposta exemplar a esses facínoras. Julgá-los, condená-los, trancafiá-los e impedi-los de permanecer no convívio social, caso contrário, estaremos todos, definitivamente, entrando na era da barbárie. Estaremos ou estamos”, diz o ator Osmar Prado.

A atriz Dira Paes  afirma que os advogados que defendem os trabalhadores rurais também sofrem ameaça. “O Estado precisa proteger as testemunhas”, reforça.

A chacina

Em 24 de maio de 2017, dez trabalhadores rurais sem-terra foram mortos na Fazenda Santa Lúcia, em Pau D´Arco, no sudeste do Pará, em uma ação de reintegração de posse.

A operação foi comandada em conjunto pelas polícias Civil e Militar do estado do Pará. Ao todo, 17 policiais participaram da operação que resultou na morte de nove homens e uma mulher.

Os policiais envolvidos foram acusados e aguardam julgamento em liberdade. Uma decisão do ministro Ribeiro Dantas, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que os policiais poderiam aguardar o julgamento em liberdade, inclusive continuando a exercer as atividades na polícia, nos mesmos locais dos fatos, onde vivem testemunhas do crime. Uma delas, Fernando, que no dia da chacina perdeu seu companheiro para a violência no campo.

Depoimentos das testemunhas indicaram que os policiais agiam a mando de fazendeiros da região.