Embargo à exportação de frango pode causar a demissão de 40 mil trabalhadores
União Europeia embargou exportação por suposta contaminação de Salmonella; na terça (24), Contac-CUT reúne, no RS, federações do setor para evitar demissão em massa e enormes prejuízos para o Brasil
Publicado: 20 Abril, 2018 - 16h34 | Última modificação: 20 Abril, 2018 - 17h47
Escrito por: Rosely Rocha, especial para Portal CUT
Para traçar estratégias de combate ao desmonte da produção nacional provocada pela desastrosa administração do atual governo golpista e ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP), a Contac-CUT vai reunir, na próxima terça-feira (24), em Porto Alegre, na sede da entidade, todas as federações do setor no país e a União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação.
Na quinta-feira (19), a União Europeia (UE) proibiu 20 frigoríficos brasileiros de exportar carne de frango, sendo 12 da BRF das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O embargo por suposta contaminação de salmonella, que começa em 15 dias, pode deixar 40 mil trabalhadores e trabalhadoras do setor desempregados. Os frigoríficos estão lotados de frango e o mercado interno não absorve toda a produção.
Após o anúncio da medida da UE, a BRF anunciou férias coletivas de dois mil funcionários da unidade de Toledo (PR). Devem entrar em férias coletivas também os trabalhadores e trabalhadoras dos frigoríficos de Capinzal (SC), Rio Verde (GO) e Carambeí (PR). Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF é também a maior exportadora de carne de frango do mundo, com vendas em cerca de 150 países – são 50 fábricas em oito países e cerca de 100 mil trabalhadores.
Para Siderlei Silva Oliveira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação da CUT (Contac/CUT), a decisão da UE é resultado das medidas desastrosas tomadas pelo latifundiário e ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi (PP-RS), desde o início do ano passado.
O dirigente se refere à ação da Polícia Federal, que, em março de 2017, colocou nas ruas a Operação Carne Fraca, envolvendo 1.100 homens, na maior operação da história para vistoriar apenas 21 dos 4.800 estabelecimentos que processam carne no país.
A operação midiática misturou corrupção com problemas sanitários e o ministro se apressou em dar uma resposta, suspendendo as exportações de 21 frigoríficos, sendo três interditados: o frigorífico de aves da BRF, em Mineiros (GO), e dois frigoríficos do Peccin, em Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba (PR).
Depois, teve ainda a Operação Trapaça, desdobramento da Carne Fraca, com a BRF como principal alvo, com a desculpa de investigar suspeitas de que laboratórios fraudavam resultados de exames para detectar a presença da bactéria salmonella nos produtos.
Na ocasião, lembra Siderlei, assim como ocorre em todas as áreas, a gestão do golpista Temer resolveu fazer uma ‘gambiarra’ e, ao invés de apresentar estudos e provas da qualidade da carne brasileira, fez um corte para, aparentemente, demonstrar a seriedade com que o país trata a exportação do alimento.
O tamanho do prejuízo se sente agora e as consequências negativas, como a decisão desta semana da UE, continuam prejudicando o país e a classe trabalhadora, diz Siderlei, que está discutindo estratégias para defender os trabalhadores e as trabalhadoras.
“Além da reunião na próxima terça-feira, iremos nos reunir também com sindicalistas europeus para denunciar os prejuízos que a lambança dos golpistas e da própria atuação da PF estão causando aos trabalhadores brasileiros”, diz.
“Estamos falando de 40 mil chefes de família que podem perder o emprego se os desmandos desse ministro despreparado continuarem”.
Siderlei explica, ainda, que o embargo afetará também os produtores de aves, já que não poderão fazer o abate, gerando uma crise financeira sem precedentes no setor.
“Está impedindo a exportação de 36% da carne de frango brasileira”.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, também acredita que a decisão da UE vai gerar demissões no setor. "Vai haver uma adequação das empresas que não vão produzir se não tiverem mercado", diz.
Ele ressalta que o frango não oferece riscos à saúde e os brasileiros podem comprá-lo sem preocupação. "O frango é a carne mais consumida no Brasil e a mais barata. Não há nenhum risco nesse caso, trata-se de um problema comercial".
Segundo Santin, as salmonellas presentes na carne "são aquelas que morrem com cozimento, em temperatura acima de 70° graus. A água ferve a 100° graus, ou seja, qualquer processo de cozimento já inativa a bactéria. Ela [a bactéria] está presente em todo o mundo".
Estados mais atingidos
O estado do Paraná, com oito unidades proibidas de exportar, é mais atingido pelo embargo da carne brasileira. Em seguida está Santa Catarina, com três; e Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Goiás com duas unidades afetadas cada. São Paulo teve um frigorífico vetado.
Lista das unidades proibidas de exportar para a UE:
- BRF S.A.
- Ponta Grossa (Paraná)
- Concórdia (Santa Catarina)
- Dourados (Mato Grosso do Sul)
- Serafina Correa (Rio Grande do Sul)
- Chapecó (Santa Catarina)
- Capinzal (Santa Catarina)
- Rio Verde (Goiás)
- Marau (Rio Grande do Sul)
- Toledo (Paraná)
- Várzea Grande (Mato Grosso)
- Francisco Beltrão (Paraná) - unidade da SHB, subsidiária da BRF
- Nova Matum (Mato Grosso) - unidade da SHB
- Copacol - Cooperativa Agroindustrial Consolata
- Unidade de Cafelândia (Paraná)
- Copagril - Cooperativa Agroindustrial
- Marechal Cândido Rondon (Paraná)
- Zanchetta Alimentos Ltda
- Boituva (São Paulo)
- São Salvador Alimentos S/A
- Itaberaí (Goiás)
- Bello Alimentos Ltda
- Itaquirai (Mato Grosso do Sul)
- Coopavel - Cooperativa Agroindustrial
- Cascavel (Paraná)
- Avenorte Avicola Cianorte Ltda
- Cianorte (Paraná)
- LAR Cooperativa Agroindustrial
- Matelândia (Paraná)